sexta-feira, 22 de maio de 2015

Agora a manhã não é certeza de Sol


Há estradas que têm em si mesmas a sabedoria da eternidade 
e nós, caminhantes efémeros, fartos de soberba e erudição,
ignoramos os sinais do tempo que as horas nos dizem; 
ficamos com os olhos a arder na poeira dos dias, 
imobilizados por duas lanças de dor. 

Peço desculpa pelo abandono a que votei os meus caros visitantes 
e amigos, aqui e nos blogues por onde habitualmente deambulo.


frida kahlo



O movimento pendular das translações
o divino equilíbrio ortogonal dos planos
anos e anos em regular geometria
num automatismo de máquina suíça
esquece o trajecto correcto das linhas
rompe o paralelismo a tangente a secante
perturba-se e embrulha-se em novelos

Amnésias esfarelam a ordem e a gaguez
distraída sem cuidar das profundidades
onde o vácuo se anima em torvelinhos
assassinos onde o caos afunila a mente
retorta inviável do escapismo inocente
E tudo se reduz a um ponto de cinza

Agora a manhã não é certeza de Sol
E ainda ontem tudo vogava no espaço
à escala distância humana dum passo. 


hajota

17 comentários:

  1. Sei, poeta
    para onde se esvai a letra
    e a tua escrita

    mas...

    se as "Amnésias esfarelam a ordem"
    "E tudo se reduz a um ponto de cinza",
    esperamos o quê?



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  2. Por aqui já há uma série de dias que é certeza de nuvens, chuva, trovoadas.
    Que neura!!
    Aquele abraço, bfds

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  3. Não há certeza de mais coisa alguma ,
    _onde o 'homem chega já desfaz a natureza', bem como a letra da música .
    Quisera fosse só o 'movimento pendular das translações...' não é?


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  4. Sim, não há certezas... Até o Sol foge de nós, mortais....
    Gostei muito do quadro...
    Beijos e abraços
    Marta

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  5. Olá, Agostinho!

    Penso k entendi, razoavelmente, o sentido do seu elevadíssimo e erudito poema, mas, só mesmo quem escreve, é k sabe o ou os significado/s do mesmo, e, por vezes, nem os poetas entendem, os seus estados de alma, dizem.

    Pois, estou com o Agostinho, já não há certezas em nada, nem de nada (antes, havia bastantes, penso eu) e a manhã até pode não ter sol, e só a tarde o conseguir "agarrar", sim, pke tudo nos foge, e nós não entendemos como, nem porquê, enfim, tudo se reduz a nada, ou a algo sem relevância. Será?

    De novo, a foto de Frida Kahlo, uma mulher k sofreu imenso e k também nunca teve certezas. É assim a vida!

    Bom fim de semana!
    Abraço.

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  6. Uma coisa é certa: os teus poemas são uma certeza de Arte!

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  7. Incomensuráveis de tão breves e belas

    são as papoilas

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  8. É tudo tão imprevisível e tão efémero... ´Como diz "tudo se reduz a um ponto de cinza".
    Beijo.

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  9. a tela da Frida Kahlo, foi bem escolhida para um poema que é um estado de alma destes tempos conturbados.
    e sim, tudo se reduz a um ponto de cinza.
    boa semana.
    beijo
    :)

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  10. Belíssima poesia, como é habitual.
    Espero que estejas melhor!

    Beijo, Agostinho. :)

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  11. Agostinho,
    Desejo que esteja bem. O poema algo dorido é lindíssimo.
    Boa tarde. :))

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  12. Hoje foi um dia como a vida: fez sol e choveu.

    Valem-me as temperaturas amenas.

    Sinto dor em tuas palavras.
    Espero que te encontres bem.

    Beijinhos

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  13. perturbantes os dias de hoje - em que tudo se reduz a "um ponto de cinza..."

    belo, teu poema.

    abraço

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  14. Agostinho meu amigo.
    Senti tristeza no seu poema é impossível ler sem notar
    apesar da beleza dos seus versos.
    Tenho notado sua ausência embora eu também estou devagar
    a espera de uma cirurgia.
    Meu amigo.Que Deus abençoe você sempre.
    Feliz final de semana.
    Abraços..Evanir.

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  15. Palavras muito sábias, donde ressalta uma certa tristeza e desesperança.
    Utópico seria esperar equilíbrio quando a ordem foi esfarelada por amnésias, pondo em risco o trajecto correcto dos passos humanos, cuja mente se apressa rumo ao caos.
    O sol talvez nasça amanhã, se o Homem não o mudar de lugar.
    Bom fim de semana, e melhoras do estado de espírito.
    Um abraço
    MIGUEL / ÉS A MINHA DEUSA

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  16. ... e desse ponto cinza ainda pode surgir vida.
    Sempre belo, Agostinho.
    Beijo.

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