terça-feira, 22 de setembro de 2015

No princípio era o azul



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E abraçam-se de novo, já sem asas. 
Homens apenas. Vivos como brasas, 
A queimar o que resta da inocência. 

Miguel Torga,  
excerto do poema Amor, in 'Libertação' 



http://olharemtonsdeflash.blogspot.com/



No princípio era o azul
sem marcas nem fronteira
tudo fluía sem regra ou maneira
num imenso manto de tule

Reza um escrito muito antigo
quando ainda escrita não havia
que no dia que se fez dia
criou Deus a Eva cor de trigo

E a magia do azul fez-se em dois
sublimando diferente o céu do mar
e fixou Deus a ordem primeira: amar
Só então surgiu Adão, depois



hajota

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Alagados sem asas de voar

Keeping Quiet

E se assim fosse
nem que fosse
por um dia apenas
o fim de todas as penas ?

Perhaps!


 Hajota 

| http://cargocollective.com/raquelaparicio/filter/books/Las-Flores-de-Irina |



Fui descansar os olhos ao rio
do vento que vem de longe
donde os barcos perdem o fio
que os conduz ao norte

Mergulhei os pés na água
e senti um frémito no mar
aflito encarapelado: a mágoa
de mil pássaros a estrebuchar

Olhei no cais o mastro de marear
e das gaivotas que faziam vela
na esperança de chão para amar
nem uma restava vinda nela

Vi apenas o arrepio negro
dos corvos em conciliábulos
com ar pestilento de egro
na vã figura de mandar: ridículos

impantes na sua putrefacção
com armanis sedas e perfumes
simulam actos de compunção
quando lhes chegam queixumes

dos mil pássaros a estrebuchar
alagados sem asas de voar
São servidos à hora de jantar
logo e até quando calhar

Vou descansar os olhos ao rio



hajota