Primeiro abre-se a porta
por dentro sobre a tela imatura onde previamente
se escreveram palavras antigas: o cão, o jardim impresente,
a mãe para sempre morta.
Manuel António Pina, Como se desenha uma casa (1.ª estrofe)
O poema agrega o cinzento cimento,
para coerência da edificação,
e desagrega o fissurado da unidade,
lobo a lobo,
lobo a lobo,
em alçados de ortogonal construção,
cartografados em pontos cardeais:
frontal parietal temporal occipital.
Nas quatro fundacionais paredes
o passado ruína rumina presente,
inspira expira gemidos ruídos
o passado ruína rumina presente,
inspira expira gemidos ruídos
orgânicos de motibilidade biológica
previamente inscrita,
previamente inscrita,
escrita na torrente do límbico
exercício concreto do abstracto.
Ouro imaterial nasce na memória
preservada pela dura-mater,
- patine amadurada do tempo -
no miolo da urbe, no miolo da gente.
no miolo da urbe, no miolo da gente.
E no meio a mesa, cadeiras em volta,
onde o branco vazio da folha espera
o jorrar inapagável da tinta luminescente.
onde o branco vazio da folha espera
o jorrar inapagável da tinta luminescente.
Molécula a molécula a construção
do fraseado destinado do destino respira.
O bafo húmido corre poro a poro o fílme:
a matéria que renasce enquanto morre
na pedra no tijolo no grão de areia,
é património vivo da gente, guardado em pó.
No miolo está pura a eterna poesia.
O bafo húmido corre poro a poro o fílme:
a matéria que renasce enquanto morre
na pedra no tijolo no grão de areia,
é património vivo da gente, guardado em pó.
No miolo está pura a eterna poesia.
hajota