quarta-feira, 25 de junho de 2014

O jogo é um jogo



O jogo é um jogo


não tem certo o destino


um dia ganha-se desafogo



no outro perde-se o tino.




hajota





Estarei ausente deste Mundo uma semana, a partir de amanhã.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Namoros

the blue window _ matisse

Sentei-me no azul do telhado,
onde a brisa da noite vem dar,
à espera  que venhas deitada
no algodão da nuvem do costume.

E se trouxesses
uma flor
do teu jardim, amor?
me desses
qualquer uma que tenhas
a desabrochar?


(Post Scriptum: 
contigo aqui presente era melhor).

2011
hajota

sexta-feira, 20 de junho de 2014

O poeta bordou águas

imagem na Web


No desassossego dos dias

 
o poeta bordou águas,


desamores e perfídias,

 
cores duma vida de mágoas.



hajota

terça-feira, 17 de junho de 2014

As dores reflexas da tareia de ontem

http://escolovar.org/
A irmandade do Bento não é nem jovem nem seleção. Trata-se de um clube de estrangeirados que já estão na 3.ª idade do futebol. Os membros têm lugar cativo pela necessidade de garantir longevidade aos acordos tácitos do futebol, o salmoura dos negócios.

Depois há o poço de petróleo. Não é nosso mas tem dono e por isso... Está em fase de esgotamento. Para além do mais deixou de ser jogador de futebol para passar a ser um ativo inflacionado, subjugado às disposições e conveniências dos agentes do mercado. Bolhas também as há, não só as dos pés arranjadas nas peregrinas caminhadas, e outras desventuras terrenas e celestes.

Viu-se ontem dois airbus a perderem as asas, por via da chamada fadiga do material, e outros haverá presos por arames que, perante a turbulência nos céus do Gana e dos USA, poderão entregar-se espatifados às mãos do mago Jones. Veremos se pozinhos e araldite os mantêm em condições de voar, neste caso, de calçar as chuteiras.

A malta (nós) não quer ganhar a "Copa" mas sim vê-los apenas a jogar decentemente, coisa assaz difícil. Tanta gentinha por esse Portugal além com ideias…  Adiante, não queremos ser iguais aos alemães mas podemos aprender alguma coisa com eles, não é?, começando pelo frei Bento e seus acólitos; não com a chancelarina que não larga os casaquinhos, mesmo com 30 ou mais graus celsius de temperatura, nem o Passos Coelho, que ficou em Massamá a cozinhar uma feijoada para os amigos, lhe disse que no Brasil não se anda assim vestido?! Incrível a Alemanha não ter uma norma escrita para estas 
eventuais tropicalidades. Foi assim que os boches perderam a guerra: puseram-se a invadir a Rússia em fatinho de caqui, esquecendo-se para onde iam.

Para esvaziar um bocadinho a pressão basta recordar o histórico que "esta" equipa lavrou para chegar ao Brasil. O check-in foi deveras atribulado. Deveria ter sido propagandeado isso mesmo para que estas dores reflexas da tareia fossem evitadas ou, pelo menos, suavizadas.
 

Para terminar com esta maçada refiro tão só que o petróleo está para a Nigéria assim como o Ronaldo está para a seleção. Onde está a origem da nossa perdição? Pepe foi apenas um sintoma, há mais. Aventuras!

domingo, 15 de junho de 2014

Entre parênteses

ticcanetas.zip.net


Na abertura o punhal
aguçado espeta.
A primaveril força natural   
detonada num afago
incendeia o sangue vermelho de paixão
e esvai-se num lapso o vulcão,
numa intermitência epilética de lava.
Acabado o golpe, exangue, em cinzas
recolhe à mortalha ocasional
em aparente morte,
a arma jaz entre parênteses…

Renitente nas reticências!

Das reticências nasce de novo
numa intuição sem tino de animal
embriagado por odores divinais.
O instinto volta à carne
numa aurora boreal de cores cegas
cumprindo o seu imarcescível destino:
beijar a flor do amor
até que o ponto se afirme em negas.
O ponto final.


hajota

sexta-feira, 13 de junho de 2014

A egípcia


Nu Bleu IV - Matisse
Raios de sol luzem fulgurantes
e cegam olhos ardentes
confundem seres dementes,
mas rasgam largos horizontes

Encontraste-te só e perdida
nos cumes altos do mundo
onde os anjos pairam nos sonhos,
mas respiraste o ar da vida

E viste no longe um poeta
que nas águas do Nilo
porfiava inquieto pela egípcia,
lavrava febril do pó
a esperança de dar,
naquele árido deserto tão só
a forma firme à diva.










hajota




quarta-feira, 11 de junho de 2014

O ninho


De manhã saíra de pronto da cama
com urgência repetida a cada dia,
a ingenuidade simples da alegria
sentiu um sobressalto imprevisto
apoderar-se daquela roupagem
leve e suave que lhe enchia a mão
o calor húmido
a trémula inquietação
o respirar pavoroso da aflição,
e assim de repente a alegria
da aventura que outros lhe diziam ter
quedou-se em dúvida e certeza:
eu não !


hajota
http://static.freepik.com/

segunda-feira, 9 de junho de 2014

A morte sem mestre - Herberto Hélder

Fresquinho, fresquinho...


e eu que me esqueci de cultivar: família, inocência, delicadeza,
vou morrer como um cão deitado à fossa!


Mais um cheirinho.

queria fechar-se inteiro num poema
lavrado em língua ao mesmo tempo plana e plena
poema enfim onde coubessem os dez dedos
desde a roca ao fuso
para lá dentro ficar escrito direito e esquerdo
quero eu dizer: todo
vivo moribundo morto
a sombra dos elementos por cima 


domingo, 8 de junho de 2014

Lancei uma tábua

Salvador Dali

Lancei uma tábua à torrente
de palavras ásperas
que rasgaram paredes,
subitamente,
para que se salvasse a memória
- a seara repleta de espigas
a doirar o sol
no mar sereno dos teus olhos.

Como inutilidade apendicular
a tábua desceu sozinha 
até à finitude árida da praia 
vazia e fria - sem explicação plausível
viraste as costas ao rio.
As espigas de sol de ontem
já não moram nos teus olhos,
a obstinação roubou-nos
a esperança de dias felizes.

hajota

sexta-feira, 6 de junho de 2014

ISAL....



Instituto Superior para a Apropriação e Ladroagem,
imagem Wikipédia
coisa lustrosa de fachada,
convém muito à imagem.
Confere licenciaturas e outros graus
para se embarcar noutras naus,
com o aval do supremo poder,
a escola que nos faltava
para o país de sucesso.

Se o povo ganhar competências
nas artes da subtração
será a nossa salvação.

Há garantia de qualidade
no ensino da alta ciência,
na escola da nobre cidade.
Um vasto corpo docente
com grande conhecimento
de prática farta, experiente,
quer incutir a arte ao povo,
sempre a bem da nação.

Se o povo ganhar competências
nas artes da subtração
será a nossa salvação.

Está fora de moda ser trabalhador,
antes audaz e empreendedor.
- De Lisboa saiam as naus,
na demanda do graal -
ordena o rei com ardor.
O povo todo a surripiar
por terras de abastança
são proveitos a ganhar.

Se o povo ganhar competências
nas artes da subtração
será a nossa salvação.



hajota

Borboletas



http://qriaideias.blogspot.pt/



























Andam por aí agora
soltas da invernal aurélia 
numa pressa clorofílica
em voos de errática folia

De flor em flor inebriadas
pelos primaveris odores
são efémeras aparições de cores
graciosidades no fito da visibilidade.

Nestes dias luminosos 
pigmentos terebentinosos 
pintam a estação  
como fogo no céu de S. João.

Agora nas bordas da vida os olhos
medem as estéticas figuras
que borbulham apetites
nas montras da vaidade.



hajota

quarta-feira, 4 de junho de 2014

A morte sem mestre - Herberto Hélder

http://www.storm-magazine.com
http://diariodigital.sapo.pt/

Li na imprensa que irá ser editado segunda-feira mais um livro de poemas de Herberto Hélder, agora pela Porto Editora. Se acontecer como no último, Servidões, que teve uma única edição e desapareceu num esfregar de olhos, convém estar atento para apanhar um exemplar.




Transcrevo de Servidões o poema seguinte


colinas amarelas, árvores vermelhas,
crua água pelas pedras frias fora e transparente abaixo delas,
e o jubilo imediato de ver apenas isso,
e isso por si só estar tão certo,
e nem um instante me ocorrer que a força destas coisas é
                        [um instante apenas da força da sua morte,
e que essas mortes uma a uma são a minha própria morte
somada erradamente




terça-feira, 3 de junho de 2014

Desencantos noturnos

http://umjeitomanso.blogspot.pt/

 

Escorro a cal das palavras

tão docemente deitadas

na cama dura do poema

onde está a raiz da pena.


Olho a gaivota a romper

o turbilhão de espuma

já na fímbria do alento. 


Quem sabe dos barcos

a subir na maré

aos olhos da madrugada?


Um sussurro pode ser

inconciliável ruído

a rasgar desprevenidos

na inocência da noite.




hajota

segunda-feira, 2 de junho de 2014

O desajustado


Pelas estradas do império

caminha em custosa missão

o seu sangue óbolo à legião

alimenta de Roma o desvario
 
sandálias rotas são soldada

o prémio da morte não tarda.



hajota

Pedra de palavras

imagem da Web




As palavras dizem coisas
e as coisas são palavras
vê tu que a vida que lavras
será uma pedra de palavras.

hajota