segunda-feira, 25 de julho de 2016

Emulações estivais

O verão solta os cabelos como a mulher
que se ergueu do leito e avança para o espelho,
com as mãos da manhã a viajarem pela sua pele.

Nuno Júdice, A Convergência dos Ventos,        
início de Metamorfoses em Agosto, ed. D. Quixote 



aparição de rosto e fruteira numa praia, Salvador Dali


O sol adensa o sal do mar 
na aparente água transparente  
Transpirada a cristalização faz-se
até que demencia a criatura
em clarões de vermelho febril: 
gera-se o belo a forma pura

Dum gesto de dominação incontido
o frémito cresce em ondas
que se levantam indomáveis
e retalham toda a pele em rios
de margens a espuma bordadas

De manhã a viva cal 
derramada trespassa a vidraça  
E no verão toda da praia ferida
é uma indelével crosta florida
que sabe a sangue e a sal

hajota