domingo, 22 de novembro de 2015

O ofício dos sentidos


http://ultradownloads.com.br/
O que fazer no cinzento?
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Eu não sei se me salvo ou se me perco
ou se és tu que te perdes e me salvas
só sei que me redimo quando peco
e corpo a corpo ao céu vão nossas almas.

Manuel Alegre, Sete soneto e um quarto, D. Quixote




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Caída a noite trespasso a sombra que me confunde
Com o tatear cego as mãos arengam latitudes
à cata do pressentimento reverbado - os batuques 
de bumbo no mais recôndito âmago do coração
E na aspiração os aromas vindos na brisa que corre
do fundo na planície - o do trigo loiro molhado
 junto ao vermelho quente nas papilas de gustação
- é quando se rompe o breu da noite em luminosas clareiras
Só então os olhos se acalmam na virtude em contemplação
da silhueta negra que surge da mais profunda escuridão.


2015-11-20

hajota

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Abstrações de um ponto e um risco

http://olharemtonsdeflash.blogspot.pt/




Eu a falar dum ponto e dum risco
e tu a deslumbrares-me com beleza
“Vê de Cassiopeia a fermosura”*
a Andrómeda que deitaste
sobre as veias do lenho
delicadamente em botão
tantos pontos e uma linha
para exercício da mais pura
imagética - superlativa a sedução.




* Luís Vaz de Camões, Lusíadas, canto X-88

hajota

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Receita para o poema das Terças

Marc Chagall


Aviso: a receita não é de fácil execução!
Fica-se deitado na cama, em cómoda posição
e é esperar…
Esperar que a alvura do tecto-tela penetre,
profundamente,  plenamente,
o cristalino da mente,
para que se faça luz que baste, e
surjam projectados um ponto e um risco.
É moldá-los de olhos abertos.
Importantíssimo!
o pormenor dos olhos - abertos -,
não vá o fio da inspiração romper-se.


Foi o que me sucedeu, agora mesmo,
fechei-os sem querer
na obscuridade do quarto, e,
quando olho, nada: nem ponto nem risco.
Volto a abrí-los e arrisco,
persisto no desejo de os ter.


Volto ao ponto e ao risco.
Fermento-os e moldo-os como pão, e
a forma e a cor e o calor, o pormenor
do sinal e do pelinho particular
materializam-se
com o talento do amor.
Encantadoramente!


Por fim, com desejo atraio a imagem,
para baixo, e aconchego-a no lençol. 
Qualquer semelhança aparente
ao ponto e ao risco,
por experiência, é real, arrisco.
Eu avisei!



hajota