quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

O Natal é hoje




O Natal é hoje, dia 25 de dezembro, mas andam a querer que nos deitemos na manjedoura desde outubro. Um parto assaz prolongado e custoso.
O homem cresceu no Mundo, em todos os sentidos, contudo há numerosa gente com uma dificuldade incrível, será por atavismo, sei lá, em dizer ao seu semelhante Gosto de ti e, mais difícil ainda como escalar o Everest, dizer Eu amo-te! Sinceramente.
A trabalheira que foi Inventar o Natal para ver se os homem descia do seu orgulho, se livrava de preconceitos e, a maioria talvez, em 2º19, fica-se na superficialidade, pelas fórmulas de comunicação, triviais tão gastas que a gente nem sabe já o que significam, pela lavagem do marquetingue comercial. Por exemplo, Santo Natal, Feliz Natal, Festas Felizes, por aí fora…
Por que não dizer e fazer, perdoo-te, dou-te a minha amizade em troca de nada, és tão amigo que tenho de te dizer que o és e agradecer-te, embrulha-me no teu casaco pois tenho frio, gosto de ti, amo-te...
Beijos e abraços de Paz para os amigos que gostam de mim, que me amam.

hajota

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Em tempo de plenitude


(regressei da rarefação do éter > oh dois da tal vez > deixei escafandro > sobretudo lanígeo de preguiça) > hajota

-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-

(trecho de)
Marco                              
Estava  sempre  ali, à  espera, quilómetro  52,
entre  um cruzamento e uma rotunda, no único
quilómetro com uma árvore para dar sombra, e
um marco onde se podia sentar,cruzar as pernas
mostrando  as coxas, e  olhar  fixamente  cada
carro que passava." ...

Nuno Júdice, O Coro da Desordem

-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-o-



foto minha




em tempo de plenitude
arco tangendo cordas tensas
do esterno à vertebral coluna.

outonos maiores no tom,
frutos primícios, morangos
nos outeiros, mãos cheias, e
maresias perfumadas d’algas e sal
no labiríntico tufo perlado. perdido

que disse o silêncio de dentes,
que esgares de chispas se soltaram
em tempo de plenitude?


hajota

sábado, 29 de junho de 2019

Sexta-Feira, querida



O Japão anunciou, no exercício da Presidência do G20, as prioridades a debater no conclave:
        > crescimento económico e redução das desigualdades
        > qualidade das infraestruturas e saúde
        > questões mundiais como as alterações climáticas e os resíduos plásticos nos oceanos
        > economia digital
        > desafios colocados às sociedades em envelhecimento





                                                                 oooooOOOooooo



Vós, que trabalhais só duas horas
a ver trabalhar a cibernética,
que não deixais o átmo a desoras
na gandaia, pois tendes uma ética;

Alexandre O´Neill, 1.ª estrofe de
 "Aos Vindouros, se os Houver..."

oooooOOOooooo






oooooOOOooooo



Osaka inunda por net jornais e têvês
Os Gêzinhos, heróis e profetas de papelão,
brincam com a Terra e com a gente crescente
da ordem divina - Crescei e multiplicai-vos!

E os mágicos pa(i)ram no largo do crescimento
a discutir cotações, futuros, simulacros e arrufos,
sob influência sistémica do cheiro da especulação

É mágico!, é trágico!,  
tanto esforço e aparato para nada
Tanta fartura de fome, tanto brilho de lama!

Assim é, mas hoje,deixa-me virar a página
saltar para outro tempo sem cretinos, 
fraldas descartáveis e política de plástico 

É sexta feira e se bem vestida ficas Sexta-Feira
Ficas mais linda, meu amor, de chinela no pé
De qualquer modo saio contigo, 
mais logo, Sexta-Feira, querida

28jun2019

hajota

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Humano Ofício VI

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Álvaro de Campos, 
estrofe de abertura de Tabacaria

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

oooooOOOooooo


(imagem minha)

oooooOOOooooo

Imprevisto chega o dia
Vê-se vazio
na pedra do cais sentado
Em terra corre o quente
sangue que doou
O vermelhão nunca lhe faltou
mas sabe o seu destino

Sente o peito cheio de sal
Esquadrinha no horizonte o barco
que o há-de levar
toca-o a melancolia de fim de dia
e a saudade do futuro:
da lâmina de gelo
que cairá da sombra em si

No zénite a luz reduz
a sombra
que cresce até ao fim:
inteira engole a luz
Si compleatur officium
(cumprido é o ofício)


hajota

quinta-feira, 25 de abril de 2019

pichem chamem cravem

Mark Rothko, orange, red, yellow





lavrem lavrem
agora que chove outra vez
semeiem poesia semeiem 
esta noite até à alvorada

anunciem anunciem
na rua e no campo o amor
pichem pichem até mais não
a cor vermelha da paixão

chamem chamem 
a cor todos com ardor
cantem cantem a canção
das quadras da Liberdade

pichem chamem cravem
o chão todo deste país
cravem cravem cravem
o  vermelho sonho - cravos 

levantem levantem
os braços todos e mais alguns
(outra vez) ninguém ninguém
esqueça a flor que fez Abril

Sempre quero ver se o Chico nota 
algum cheirinho a alecrim...


hajota

domingo, 21 de abril de 2019

O Humano Ofício V


Em tempo de Páscoa, desejo aos amigos um caminho ousado, renovado a cada passo.
E que as margens nos contenham, não se entorne .a força de viver.

                                                                                                  hajota


oooooOOOooooo


"Dai-me a casa vazia e simples onde a luz é preciosa. Dai-me a beleza intensa e nua do que é frugal. Quero comer devagar e gravemente como aquele que sabe o contorno carnudo e o peso grave das coisas."


Sophia de Mello Breyner Andresen, Dai-me (excerto inicial)


                                                                  oooooOOOooooo


van gogh



oooooOOOooooo



O Sol transpinta-se d’alva ao poente
o fogo vermelho sobe desce e esmaece
progressivamente arrefece
Os azuis acinzentam-se cansados
e o violino desce ao cais dolente:
homem
Tantos gestos repetidos pintados
desiguais na  sedutora melodia
dias meses anos sem parar:
o desafio dos mastros erguidos
telas enfunadas num sopro de partidas
e chegadas em torno do fio:
o ir e o voltar ao lar

hajota

quarta-feira, 17 de abril de 2019

O Humano Ofício IV



Ali vimos a veemência do visível
O aparecer total exposto inteiro
E aquilo que nem sequer ousáramos sonhar
Era o verdadeiro

Sophia de Mello Breyner Andressen,
Navegações



oooooOOOooooo




mark rothko





oooooOOOooooo



O movimento impresso de luz percorre
a circular jornada na ecliptica vital
A luz cega de espanto
o simples e o extravagante
e a gradação da sombra seca o tempo
Por isso o ouvido se fixa
no gesto largo do pincel batuta
para que harmonia se faça
a cada figuração
o homem

hajota

terça-feira, 9 de abril de 2019

O Humano Ofício III


Beijo

Num instante
olhos nos olhos
um céu incendiado

Fechados

E por sorte
o fenómeno ocorre
espontâneo tão bem

também
quando chove:
o mesmo céu


hajota


oooooOOOooooo



Foto: Sebastião_salgado


oooooOOOooooo



A figura define-se na devassa
fibra a fibra
do incorpóreo impalpável
a princípio
pincelada a pincelada
de emoções sentimentos diluídos
na pré derme dos fluídos
até à consistência espessa
da força da forma do volume:
corpos coloridos de vida


hajota

terça-feira, 2 de abril de 2019

Humano Ofício II



Mas a manhã não joga ao pião,
nem a brincar se abalança:
o dia corre, a tarde já não tem pressa.

Nuno Júdice, O Mito de Europa, 
(do poema Manhã de Inverno com Sol)



*********


foto minha


 *********


O humano ofício é chegar à perfeição
à arte!
do afago das cerdas 
que varre o caos da configuração
rectangular
Não se espantem as páginas
no vazio estéril do olhar 
os olhos fogem incontidos para o finito
da noite e do dia da rotação circular
são planos em translação


hajota

segunda-feira, 18 de março de 2019

O Humano Ofício I


Manhã               

Como um fruto que mostra
Aberto pelo meio
A fescura do centro

Assim é a manhã
Dentro da qual eu entro

Sophia de Mello Breyner Adresen,
Livro Sexto




************



Anish Kapoor, Flesh, maqueta  (foto minha)



                                                                  ************



O humano ofício é chegar à perfeição
à utopia
em poema de quadros pintados de vida
na identidade das linhas digitais
que se enleiam e desenleiam
nos dedos da mão
na cromatografia
de almas em transfiguração
da paleta de cor firmada em palma:
poema de estrofes varadas por um fio
que leva até ao fim em glória ou perdição


                  hajota

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

O que é a vida




        Entrementes
os sulcos do tempo
do verbo acabar
do paquiderme olhar


Foto de oscar ciucat


~~~~~~~~~~~~~




nós
em rotação circular
a medir o tempo de jornada
na alternância da luz e da noite
enquanto sístoles no espaço sideral
deuses por hábito sentados
na elíptica rota (in)finita
espreitando à janela
o que é senão 
queimar
energia
solar
?


         hajota


     

sábado, 26 de janeiro de 2019

Espaços e ficções



      ~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Não me exijam
que diga
o que não digo

M.ª Teresa Horta, Estranhezas, 
 início de Questões de Princípio 


~~~~~~~~~~~~~~~~~~

busca pólos 
busco 
ainda o tom  
contacto pólo
tacteio
apresso a luz
curto circuito

hajota

~~~~~~~~~~~~~~~~~~


Akvarell 1982, Navle Skodar i halvlit
~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Aqui neste ancoradouro sentado
lugar de ver sem muro
tudo o que está e o que não está:
passado presente e futuro

Cadeiras mesas copos chávenas
e o éter de etílicos cheiros saturado
e perfume suado do convívio íntimo
animal o velho e o lavado

e nuvens de fumo espiralado
das chaminés da cavernosa alveolar
adensando tenebroso o cinza do céu
à espera da redenção duma corrente de ar

E vejo fantasmas pessoas
sem que o saibam já ausentes
e a ficção dos maduros pausada
de sorrisos contidos à mesa rentes

e os conformados de etiqueta comum
e os cínicos na contrafacção do riso
de brilho sacana pregando ladaínhas
de descaramento escarninho

e jogadores de moedinha jocosos
ao pôr do sol de ambições incríveis
a afogarem-se verdes os invejosos
em queda  nos abismos do desespero

Vejo enfim  as puras da alegria
descuidada ainda ingénuas figuras
do devir que sobem à tona sem suspeita
de irem repetir guiões iguais amanhã


hajota

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Ano 2019


A primeira folha a ser escrita está a chegar ao  fim. Faltam 364 em branco a crescer. Que saibamos, dia a dia, fazê-lo. Com saúde alegria. Tudo o resto é acessório, mas cada um inclua aquilo que lhe der mais jeito.
Beijos e abraços a todos os amigos que por aqui passam.


paul klee_diário de um artista



dois mil e dezanove.
o ano é bom, ímpar,
de nome e ciclos solares.
depende é do diário
que se lhe põe em cima
que faz o calendário.
que não sejam azares.

é escrever paz amor saúde e 
€€€ a receber e dar,
em função do corpo e do espírito, 
à medida do que cada um precisar.



hajota