Ainda há quem escreva
faça letras entre linhas?
Em cadernos de duas linhas
se fez a mão em jogos
medos e adivinhas
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Há-as com a
inclinação dos certinhos
de palavras
aparadas como sebes
que seguem o
traçado da linha
do chão sem
acidentes
induzidos na
dormência
pela onda do vento que atravessa a planura
É a tendência
dos submissos
que mesmo na
ocorrência de ondulação
dorsal de todo
inesperada
se mantêm na
uniformidade
imperturbável da
sesta ordenada
Há-as também a
invocar artes circenses
dos
que atiram facas ao ar
com éles tês dês
e até com mudos hagás
Ou as dos que se
denunciam com tendências
mortais para
assassínios e suicídios fatais:
cravam na linha como
se fossem punhais
os pês os bês os
dês os guês os jotas os quês
- por gravidade
são mais
E há caligrafias
marcadas pela contradição
dos que aparecem
em extremada posição
de sintomatologia
bipolar: os éfes
Oscilam num ai da
euforia à depressão
com humores de
difícil compreensão
São estas as que
se prestam à vaidade
aos rococós e
excessos de exibição
Há ainda a escrita
suprema
a que flutua deitada no espaço
entre os limites do azul das
linhas
onde correm brisas a despentear fumos e
incensos rítmicos à medida dos momentos
sinais e códigos cuneiformes - os inscritos
há milhares de anos pelos sumérios
nas tabelas sagradas da memória
É nesta que a liturgia imperceptível ao olhar
comum se oferece à decifração
dos iniciados da abstracção material
dos que tentam por tentativas a invenção
mergulhos na
profundidade dos abismos
e na elevação
galáctica nas divinas imperfeições
na fecundação das metáforas uterinas
que é a carne da poesia
hajota