quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Receita para o poema das Terças

Marc Chagall


Aviso: a receita não é de fácil execução!
Fica-se deitado na cama, em cómoda posição
e é esperar…
Esperar que a alvura do tecto-tela penetre,
profundamente,  plenamente,
o cristalino da mente,
para que se faça luz que baste, e
surjam projectados um ponto e um risco.
É moldá-los de olhos abertos.
Importantíssimo!
o pormenor dos olhos - abertos -,
não vá o fio da inspiração romper-se.


Foi o que me sucedeu, agora mesmo,
fechei-os sem querer
na obscuridade do quarto, e,
quando olho, nada: nem ponto nem risco.
Volto a abrí-los e arrisco,
persisto no desejo de os ter.


Volto ao ponto e ao risco.
Fermento-os e moldo-os como pão, e
a forma e a cor e o calor, o pormenor
do sinal e do pelinho particular
materializam-se
com o talento do amor.
Encantadoramente!


Por fim, com desejo atraio a imagem,
para baixo, e aconchego-a no lençol. 
Qualquer semelhança aparente
ao ponto e ao risco,
por experiência, é real, arrisco.
Eu avisei!



hajota


19 comentários:

  1. E assim nasce a inspiração para escrever um belo poema.
    Aquele abraço, bfds

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  2. A receita é realmente difícil. Principalmente o pormenor dos olhos, sempre tão desatentos, o que torna as palavras muito mais esquivas... Belo poema, amigo Agostinho.

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  3. para quem tem alma e mão de poeta, a inspiração não tem hora nem local...

    um belíssimo momento de poesia!

    um bom fim de semana.

    beijo

    :)

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  4. o poema das terças, às quintas e reconhecido por mim à sexta


    um abraço, Agostinho

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  5. Mas a imagem persiste e as palavras aconchegam-na, embora finjam estar desinteressadas... Mas as palavras têm os seus segredos e escrevem-me...
    À terça...
    Belo
    Beijos e abraços
    Marta

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  6. ~~~
    ~~ Uma criatividade fecunda e muito interessante,
    ~~ de um lirismo muito semelhante ao de Chagall...

    ~ O que o talento e humor do Poeta consegue fazer!

    ~~~ Excelente, fim de semana, Agostinho. ~~~~~~
    ~ ~ ~ ~ ~ ~

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  7. Que dizer, com tal fruir?
    Uma delícia, Agostinho. Parabéns!

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  8. É de facto nesse fechar de olhos e no encontro com esse ponto e risco que nasce a beleza.
    Bj. :))

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  9. Por lapso do Blogger recupero o comentário recebido a partir de e_mail:

    Majo deixou um novo comentário na sua mensagem "Receita para o poema das Terças":

    ~~~
    ~ Queria dizer...
    'O que o talento e humor do Poeta conseguem...'
    ~~~~~~~ Dias felizes. Abraço amigo.~~~~~~~

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  10. E do nada..surge a tal inspiração...transformando-se em tudo!
    abraços meus e obrigada pela visita ao meu Cotidiano querido.

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  11. É assim mesmo, Agostinho. Do mesmo jeito que a inspiração surge, ela pode desaparecer num piscar de olhos.
    Adorei, como sempre.

    Beijinhos e boa semana.

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  12. Mas que poema! Gostei imenso, da forma, da transparência, do risco e do ponto e da forma como arriscou!
    Agradeço o comentário, excelente, também, que deixou no Barlavento.
    Um abraço.

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  13. perfeito domínio da arte poética.

    muito belo

    abraço

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  14. Na verdade a coisa não é fácil

    mas... amanhã lá estarei
    em mais uma récita de finalistas

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  15. hoje é terça!
    onde está seu poema?!
    sorrindo...
    beijinho
    :)

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  16. Agostinho,

    O que dizer-lhe? Que este poema gourmet aguçou a minha fome por outras receitas. Maravilha!

    Forte abraço,

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  17. Cheira muito mais
    que a maçã e canela...

    Parabéns, Poeta!

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  18. Muito belo! O seus versos são verdadeiras toadas de passarinhos, fios de teias, araminhos de filigrana... Cristalinos.

    Adoro! Parabéns!!

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