sábado, 20 de fevereiro de 2021

Aí, há homens que vivem, pálidos, sem cor,

e morrem sem saber por que sofreram

E nenhum deles vê o pobre trejeito

que ao fim de noites sem nome veio substituir

o sorriso feliz de um povo meigo


Rainer Maria Rilke



oooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo


fountain, marcel duchamp, web


oooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo


No bidé metrómano de torneira, o pingo

pinga pinga pinga o ritmo da larga partitura

A princípio audível na cabeça o som ainda,

pingue noturno minimalista lento chato,

fez-se surdo, nódoa oxidada na osteoporótica por-

celana, brancura na ideia que alastra ao corpo

à casa a tudo: a luz ausentou-se da gente enfim.


A lei da seca estabelecera o enterramento

das bibliotecas, o encerramento das livrarias,

portas e postigos lacrados, e a subversão

desceu à rua porta a porta em corpo invisível.

 

A necessidade de livros estalou por toda a parte

num tempo de reclusão tão farto de liberdade

mas da abundância de tempo, livres para fazer  

aquilo para que não havia tempo, a erosão dum vento

demente fez à sorrelfa um vazio na mente.


Sem margens marcos paredes parapeitos

onde hão-de descansar os cotovelos que suportam

a cúpula se a fonte corre ao contrário?


hajota