sábado, 27 de outubro de 2018

Eu sou Rio que corre ao contrário



Pelos dias quadrados corre a brisa
Que nos seus corredores nunca se engana

Sophia de Mello Breyner Andresen, 
Livro Sexto, Pátios



Amadeo Souza-Cardoso



oooOOOooo





Eu sou Rio que corre ao contrário
sou nascente sou poente sou morte
corro de onde vim para nascer de mim
tudo começa no início
e corre até ao fim
que é morrer


O homem tem um princípio
e há-de ser o que quiser
querer é poder diz o povo simplesmente
O gomo  brota acrescenta-se
de ver e ouvir risos e prantos com tantos
a abrir espaço e mente

Faz-se físico e espírito alameda aplanada
donde surgem ruas rasgadas
e travessas imbuídas da mesma lei
perpétua em génio e semelhança
“Aorta” rio vermelho ao contrário
escorrendo da foz prá nascente

afluentes crescem prá frente
como a gente que veio de trás
no mesmo vermelho na mesma paixão
no sangue que multiplica a imortalidade
das estrelas que hão-de vir
para serem gomos homens-rio



                                          hajota