Pelos dias quadrados corre a brisa
Que nos seus corredores nunca se engana
Sophia de Mello Breyner Andresen,
Livro Sexto, Pátios
Amadeo Souza-Cardoso |
oooOOOooo
Eu sou Rio que corre ao
contrário
sou nascente sou poente sou
morte
corro de onde vim para nascer
de mim
tudo começa no início
e corre até ao fim
que é morrer
O homem tem um princípio
e há-de ser o que quiser
querer é poder diz o povo
simplesmente
O gomo brota acrescenta-se
de ver e ouvir risos e prantos
com tantos
a abrir espaço e mente
Faz-se físico e espírito alameda aplanada
donde surgem ruas rasgadas
e travessas imbuídas da mesma
lei
perpétua em génio e semelhança
“Aorta” rio vermelho ao
contrário
escorrendo da foz prá nascente
afluentes crescem prá frente
como a gente que veio de trás
no mesmo vermelho na mesma
paixão
no sangue que multiplica a
imortalidade
das estrelas que hão-de vir
para serem gomos homens-rio
hajota