quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

"Galiza ficas sem homens"





A voz da pátria ecoou
por veredas e caminhos
vazios: a gente desertou?

Restam folhas caídas
de inércia e inação 
e tanta coisa se sonhou!

Isto é espelho da nação
são menos os que ficam
e mais os que se vão.


set2011
hajota


O duplicado




Pelas leis em que crês,
imagem retirada daqui
o homem que tu vês
pura ilusão material,
é mentira dos olhos
que te dizem ser real.
O abrir de ferrolhos
desfaz a capa do parecer
mostra indelével o ser
duplicado que é primeiro
de verdade e reservado
aos que vêem por inteiro
a alma no outro lado.



04fev2011
hajota




terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Natureza quase morta



Periclitantemente preso
ao movimento dos dias
um cetáceo pendente dum fio
esfiapado,
espera embarque no cais.

Na incerteza da horizontalidade
do linóleo da estação
pára,

Um natureza quase morta,
robalo inerte numa cama,
homem assim vale nada:
seja quando Deus quiser.

rebobina à pressa
a vida na ordem inversa,
desfia rosários de meses dias horas,
a existência, procura
a alvorada onde tudo começou.

No cais uma natureza quase morta,
avança.

Confere no fio de prumo
a justeza da verticalidade,
o perfil,

Seja o que Deus quiser
um homem assim vale nada.

sente os balanços telúricos da idade,
o lento movimento dos pés,
o fervilhar do coração.

Precipita-se em câmara lenta
para o cais
qual cetáceo arpoado
suspenso dum barbante
espera o aço frio da adaga. 

25jan2014
hajota

domingo, 26 de janeiro de 2014

O mar e nós




Quando saímos pelo oceano
à procura de outro chão
comprámos um destino,
dependentes para sempre,
da ousadia da emancipação,
as tempestades regurgitam vagas
de ódios das profundezas
da alma: em golfadas as pragas
desfazem inexoravelmente certezas.

O mar, como nós, pleno de contradições
tem dias que dos humores nascem aflições.

25jan2014
hajota

sábado, 25 de janeiro de 2014

A maçã de Adão




Deus criou o homem.
para que não se sentisse só
retirou-lhe uma costela:
esculpiu a Eva dela.

Colocou-os num jardim
não se sabe em que estação,
se à noite, se de manhã…
sabe-se que havia a maçã.

Rosas, jarros, camélias
havia-as no tal jardim?

A Eva disse ao homem:
prova lá que é bom!
Não posso porque sim
quem condenam é a mim.

Adão! fruta é de comer…
coisa elementar. É de crer,
não havia pingo doce na avenida
onde  pudesse ser vendida.

Comeu. Amores-perfeitos
Havia-os no tal jardim?

21jan2011
hajota

pintura de Jose malhoa - praia das macas - retirado da web


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sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O estado da nação




A política cultural neste país à beira mar plantado mede-se pelas cavalgaduras  automóveis a reluzir de presunção.


24jan2014
hajota

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Jardins




Entram flores
nos olhos da gente,
pelo jardim mil cores
flutuam em borboletas
psicadelicamente
perfumadas pela fantasia
da mente.


21jan2012

hajota

sábado, 18 de janeiro de 2014

O tempo que vem



Um tempo que foi
tão nosso,
de ilusão e ternura,
de liberdade cercada
de tanto nada,
na fartura de pobreza
amolecida em reza.
Um tempo que foi
o nosso,
tão pleno de estio
seco ardentemente frio
nas mãos, nos pés,
no estômago vazio.

Por sorte o mesmo vem
lá, não nosso,
a outros pertence
que não sabem
do frio do inferno.


No inverno
agora, quem vence
é o sonho
da doce ternura
dum seio,
ainda perdura
nosso, 
do tempo de criança.

19abr2011
hajota




quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A involução civilizacional

A inversão de comportamentos que se verifica na cidade, com os automóveis a ocupar passeios e os peões a circular na faixa de rodagem, revela a tendência do homem para contrariar a ordem estabelecida.


E se se fizesse uma alteração ao código de estrada? As viaturas passavam a circular nos passeios e os peões no centro da via.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

A figura ainda lá está





A figura ainda lá está,
de negro, como sempre a vi
cerzindo uma flor em si
desde o dia que a conheci.
O sol beija-lhe os pés
no inverno depois das dez,
pequenina de carrapito preto, sentada
na cadeira azul céu, plantada
à janela da sala, voa em liberdade.

Óculos de arame redondos
descaídos, na ponta do nariz,
num relance me diz,
perscrutando nas letras feições
nas palavras paixões,
frases, amor, jovens amantes,
iguais hoje como dantes,
enlaçados em páginas, o romance.

Apesar de encerrada e só,
numa pedra da sua calçada, despida,
corando de vermelho a vida
mais sentido empresta à dignidade,
o frémito da felicidade.
De negro como sempre a vi
a figura ainda está aqui
numa candura de vestal.


hajota

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Que dizer, mãe?



que dizer
do perfume trazido pelo vento
da saudade no lenço dobrado
a cheirar a jasmim?

que dizer
da firmeza da bola de sabão
moldada num sopro de mim
na esperança que o mundo
ali ao alcance da mão?

que dizer
dos rios marcados na face,
ontem, em ti,
dos rios na face rasgada,
hoje, em mim?

que dizer
das águas que afloram às janelas,
agora,
ao vibrar dum gemido,
no íntimo do eu?


07jan2014
hajota

domingo, 12 de janeiro de 2014

Bordados



na cama ao pôr do sol
imaculado lençol,
estendido a preceito,
aguarda mãos talhadas no jeito
de afeitar beleza,
na luxúria do bordado.

os dedos a afagar 
o pontilhar do fio
espeta aqui, vai ao avesso da seda,
abrasear,
volta à face o esplendor
na pele frágil de anjo.

na subtileza de nós
ao deitar-se
uma luz cresce na voz.
o cândido elemento
não impede o movimento
na cama  ao pôr do sol.

04jan2014
hajota


http://bordadosartesanato.blogspot.pt/