terça-feira, 14 de janeiro de 2014

A figura ainda lá está





A figura ainda lá está,
de negro, como sempre a vi
cerzindo uma flor em si
desde o dia que a conheci.
O sol beija-lhe os pés
no inverno depois das dez,
pequenina de carrapito preto, sentada
na cadeira azul céu, plantada
à janela da sala, voa em liberdade.

Óculos de arame redondos
descaídos, na ponta do nariz,
num relance me diz,
perscrutando nas letras feições
nas palavras paixões,
frases, amor, jovens amantes,
iguais hoje como dantes,
enlaçados em páginas, o romance.

Apesar de encerrada e só,
numa pedra da sua calçada, despida,
corando de vermelho a vida
mais sentido empresta à dignidade,
o frémito da felicidade.
De negro como sempre a vi
a figura ainda está aqui
numa candura de vestal.


hajota

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