sexta-feira, 30 de maio de 2014

Acróstico a uma cachopa



No âmago dos nomes está 
uma alma que lhes dá vida.
Em sonhos inventa atrevida
cores com que pinta dias
de suspiros e melodias
deitada em nuvens de chão
donde brota o gosto da paixão.

As oito pétalas, da flor!
Filigrana de delicado coração
iluminada de loiras searas de pão
labuta e vence todos os muros
ousada nos caminhos mais duros
musa que inspira e acorda 
empatias a rodos transborda
nobre e ínclita renascida 
amor de todos querida.


Matisse. La blusa romana

hajota

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Primos

imagem Web


Primos
em matemática não são todos
os números que se criaram,
porém, disse-nos Darwin,
os homens todos herdaram
um átomo comum.
Neles, em nós, em vós, em mim
o coração é só um
caldeado na forja rubra
de África, donde provimos.






hajota

Sonhos

Retirada da Web

           Se as vontades convergissem
num querer de harmonia
e os humanos vissem
a fortuna num sorriso,
sem sofismas dia a dia,
nada mais era preciso.


hajota

terça-feira, 27 de maio de 2014

Cracia do demo!

No povo reside a soberania!
Foi chamado a votos e disse:
quem não se sente …   
não votamos nesta gente!


domingo, 25 de maio de 2014

Palavras sem pressa

imagem: Wikipédia
Pelas esquinas ásperas
dos dias deslizam 
consoantes de nuvens e luz
a lamber o granito inocente
na fé de que vogais rombas,
ao cair da noite, de repente,
chovam como maná. 

Do céu?

No vácuo da serenidade tardia
os cordeiros condenados
conferem as palavras sem pressa
talhando a gema à vontade.
Afagam-lhe as faces com pó e azeite
à espera que alguém lhe encontre
o brilho do deleite.

hajota


quinta-feira, 22 de maio de 2014

Ontem à noite ouvi dois bois

Ontem à noite ouvi dois bois
da boca dum homem.
Dois bois que eram quatro olhos,
na boca do homem olhos tragados
por areia estéril, regada
a suor do lavrador que a arou.
Olhos prodigiosamente libertados 
em manancial fresco, ouvi do homem,
onde antes apenas um deserto.

E ainda agora, não o homem,
fui eu que vi 
sem lavrador olhos bois,
uma roda abandonada pois, 
que transparece numa parede
às pedras inutilidade,
jorra por encanto afinal 
histórias em fios cristalinos de verdade
que se desprendem 
dos olhos de gente.

hajota

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Incubadora do Lis



Tenho nas mãos as formas que há
no plástico corpo de argila soprada
ao crepúsculo da intenção iniciada
no cheiro molhado da primavera.

Encaracolada e esparsa na areia

à láctea claridade da noite aguarda
submissa o movimento que não tarda
a maré generosa e fecunda da ideia.





Do sentido crescente da ondulação
o ventre prenhe arredonda a margem
curva em melodias incríveis:emergem
do barro helénicos mitos da criação


hajota


   

      (fotografias de terracosesparsos.blogspot.com )

Pretérito-mais-que-perfeito



É quase pretérito
mais que perfeito
o tempo outro de viver
De manhã havia escola formatação
depois chuto na bola à tarde 
até tarde
Na rua cumpria-se a educação 
em grande parte 
na criatividade e liberdade
No limite à noite 
sopa ralhetes e tabefes


hajota

 
Wassily Kandinsky - Yellow, Red and Blue

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Refratário


trezentos e doze.
No meio estão três,
criatura, pedra e pau,
no vazio do terreiro.
Aquilo que ali vês
em volta do guerreiro
são negros fantasmas
que bailam a preceito,
roubando-lhe ar ao peito.
Então? porque pasmas?

Espírito livre de teias
tecidas para subjugar
e negação de espingarda
corre-lhe liberalidade nas veias.
Os ossos que carrega na pele
vieram da vida bera.
Para que não perca nenhum
deram-lhe à força uma farda
como nunca tivera.

A sombra de tal figura
farto de vida dura
carrega o peso do contra,
por fintar a tropa,
não fazer papel de lorpa.
Atiram-lhe: inútil, és mau!
Cê 312, uma pedra e pau,
ganhou para sempre uma honra,
marcaram-no. Um ferro em brasa
qualquer ego arrasa.
Extraordinário:
re-fra-tá-ri-o!

Um pau
em três golpes
se faz estaca
(que lhe queimaram a esperança).
Viu-se órfão, desamado, humilhado.
Órfão onde as pedras são pedras
num mundo que não era seu
foi crescer à força como deu
com gente da cidade.

Dum pau e dum golpe, uma vez
sonhou a felicidade.
Nunca se sentiu
tão homem
como quando a viu
confiou, amou e ficou enredado
pelos cabelos nela. E foi deixado.

E um pau quase estaca …
Nas naus da fuga embarcou
como marinheiro embalou
na ilusão de ir para França.
Soltou amarras, de repente
decidiu ir em frente
e um bufo entrou na dança.

Uma estaca em três
Golpes se fez!
Há de cravá-la bem no centro
pelo mundo adentro.
A pedra que tem na mão
desde sempre o acompanha,
foi-lhe dada pelo destino
desde o tempo de menino.
Há de cravar bem com ela
no centro o mundo
até bater bem no fundo.

Aquilo que ali vês
um, dois, três,
no meio da parada,
(quem sabe da pancada?)
são apenas fantasmas
dos ossos que carrega na pele.

Greve de fome, anorexia
nesse tempo não havia
simplesmente não comia.
Para quê? Já tinha tudo,
demónios e a pedra
do tempo de menino,
e mudo
batia, batia, batia
a cabeça num tropel.
Ali no meio do quartel
a estaca que cravava
bem no meio do mundo
cada vez mais fundo
cada vez mais ossos.
Anorexia?
Nesse tempo não havia
simplesmente não comia.

Aquela que o prendeu, não,
os cabelos que lhe levaram o coração
quando ele se dava,
a estaca cravava…
Quando quis ir para França
o carimbo REFRACTÁRIO.
Só espera que
Um pau
Em três golpes
O livre do bufo.

Vem comigo!
Ouves o que eu digo?
Surdo,
batia, batia, batia…
em agonia…
o menino da pedra,
a estaca quase cravada
bem fundo no coração,
e os fantasmas quase nada.
Os três golpes já não
são traição,
tão longe no fundo do mundo.

Na sombra dele
os ossos a saírem da pele
branca branca branca
a saírem da farda
de refratário
à espera …
O anjo já não tarda
na Cê 312.

deixadefrescura.com


(quando o voo da loucura plana ao encontro dos guerreiros escolhe, no ruído do silêncio, os mais puros)



2010
hajota

quinta-feira, 15 de maio de 2014

FMI

Christine Lagarde, presidente do FMI


A Maria que tem
o empenho de cada dia
no estômago e na roupa
em malabarismos de poupa
vê na sigla FMI a insignificância
de três letras escorridas…

O que sabe de economia
são contas de sumir,
e por fraternidade de dividir,
que lá em casa dia a dia,
não tem mais matemática
a Maria pobre coitada
que anda tão tosquiada.

Os tolos que a governam
senhores de tanta fazenda
da lã obtida na renda
não veem que o rebanho de cá
já deu tudo o que o sustem
não dá mais que não tem.



abr2011
hajota

terça-feira, 13 de maio de 2014

Os vidros quebrados da Nação

O agiota e sua esposa - Quentin Massy -  http://pt.wahooart.com/


Com jogos de agiota e sedução
a clic da finança depravada
manobra sem pejo em manada
num fatal passo de perdição.

Com o avaro poder que detem
destroi ao amanhã a esperança
até rebentar de merda a pança
querendo tempo que não tem.

Na paranóia da informação
não há distância nem confins
num golpe fatal de rins
lança num ápice destruição.

Voltou Nero como um vulcão
reclamar tributo e devoção.
É dos fiéis promessa de fé
quebrar os vidros da nação.



hajota




segunda-feira, 12 de maio de 2014

O interesse de quem

foto: gilberto jorge


Que interesse tem
saber-se quem sou
eu que não sou ninguém
no lugar para onde vou?

Para quê pergunto eu
que interesse tem saber-se
os amigos que tenho
no mural do facebook
em aritméticas da amizade
somar intenções  
que não passam de truque?

No outro lado onde mora
o confessor da cia
o que espiolha os pecados
num algoritmo de espada fria
decide quem chorará baba e ranho
no inferno dos danados.

Se não há como eu
lá gente me dirá quem sou
mas nunca o que sou.

hajota

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Rosa branca


http://www.fotosefotos.com/


Uma rosa assim apetece. 
Sonhar nosso mundo perfeito
imaculado branco branco
linho ninho onde me deito.


hajota


nota: espreitem a fotografia posta hoje em grifoplanante@blogspot.pt por João Menéres.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Minuta para o discurso do 10 de Junho

Caros concidadãos,

A dívida pública, afinal, é coisa pouca: 137 746 110 632,13  €. Se escrevesse isto por extenso parecia enorme. Mas não é! Fazendo as contas, são 12 966,04 €  por cidadão.


Para se conseguir pagar a dívida basta que  todos os portugueses entreguem à Ministra das Finanças, todos os meses, durante dois anos e picos,  um ordenado mínimo nacional .  Se a liquidarmos de uma assentada pode ser que nos façam uma atençãozinha; penso até que é fácil se a M.ª Luís fizer uns olhinhos ao Herr Schuble, está no papo; se pagarmos a prestações, como tem sido feito, ainda nos enrolam e acabamos a pagar mais.

Quem tem um só ordenado mínimo nacional ainda pode comer dois meses por ano: em junho com a subsídio de férias e em dezembro com o de natal. Se não ficarem contentes sempre poderão pedir aumento ao patrão. E não podem queixar-se porque, quando vão ao hospital, não pagam taxas moderadoras. A coisa resolve-se! 

Os mais desfavorecidos, para manterem o índice ponderal otimizado, à noite vão à sopa da senhora dr.ª Isabel Jonet. É como a Rainha Santa, zela pela saúde de todos com um caldinho e um papo seco. 


Ao mesmo tempo que se acaba com a dívida, a dieta resolve o deficit do Ministro Paulo Macedo. Os diabetes, hipertensões, colesterois... andor! Os que não aguentarem é uma oportunidade para as indústrias canteira, carpinteira, das velas e para a floricultura.

Anda por aí alguma gentinha a queixar-se! Sem razão pois, acima de tudo, devemos ser patriotas, salvar a pátria. Muito pior é "contra os canhões/marchar, marchar"! e está no hino. Não me consta que haja alguém que não o cante nos jogos da seleção.

Insónia

http://economia.ig.com.br/

O aço incandescente das lâminas
vem cortar com estrondo
as pálpebras ao sono.
Sobrevêm supostos rumores
no escuro da noite
levedar suicidas rancores.
Quando a resistência já estrebucha
num charco de sangue
a vertigem do dia
abre impiedosa as janelas
num chiar perro de ramelas. 

hajota

sábado, 3 de maio de 2014

Maio

http://www.imagenswiki.com/


Vem ver como o dia nasceu.
no ar corre um delicado odor,
olha, vem ver…
Donde veio tanta flor
pintada cada uma na sua côr?
São todas para ti meu amor,
foi o Maio que deu.


hajota

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Desde o princípio de tudo


Desde o princípio de tudo
uma tremura subtil
que atravessa reposteiros
invade peitos até ao infinito
de triliões de almas no mundo
génios imbecis virtuosos vis
cruéis piedosos monstros formosos.

Um ar impercetível bole
carregado de energia vital
Um sopro consome e alimenta
o propósito do ser.
Bebe-se vida, virtude e mal. 

                                                                                   hajota