Cê trezentos
e doze.
No meio
estão três,
criatura,
pedra e pau,
no
vazio do terreiro.
Aquilo
que ali vês
em
volta do guerreiro
são negros
fantasmas
que
bailam a preceito,
roubando-lhe
ar ao peito.
Então?
porque pasmas?
Espírito livre de teias
tecidas para subjugar
e negação de espingarda
corre-lhe liberalidade nas veias.
Os ossos
que carrega na pele
vieram
da vida bera.
Para
que não perca nenhum
deram-lhe
à força uma farda
como
nunca tivera.
A
sombra de tal figura
farto
de vida dura
carrega
o peso do contra,
por
fintar a tropa,
não fazer
papel de lorpa.
Atiram-lhe: inútil, és mau!
Cê 312, uma pedra e pau,
ganhou
para sempre uma honra,
marcaram-no.
Um ferro em brasa
qualquer
ego arrasa.
Extraordinário:
re-fra-tá-ri-o!
Um pau
em três golpes
se faz estaca
(que lhe queimaram a esperança).
Viu-se
órfão, desamado, humilhado.
Órfão
onde as pedras são pedras
num
mundo que não era seu
foi
crescer à força como deu
com gente
da cidade.
Dum pau e dum golpe, uma vez
sonhou
a felicidade.
Nunca
se sentiu
tão
homem
como
quando a viu
confiou,
amou e ficou enredado
pelos
cabelos nela. E foi deixado.
E um pau quase estaca …
Nas
naus da fuga embarcou
como
marinheiro embalou
na ilusão
de ir para França.
Soltou
amarras, de repente
decidiu
ir em frente
e um
bufo entrou na dança.
Uma estaca em três
Golpes se fez!
Há de
cravá-la bem no centro
pelo
mundo adentro.
A pedra
que tem na mão
desde
sempre o acompanha,
foi-lhe
dada pelo destino
desde o
tempo de menino.
Há de
cravar bem com ela
no
centro o mundo
até
bater bem no fundo.
Aquilo
que ali vês
um,
dois, três,
no meio
da parada,
(quem
sabe da pancada?)
são
apenas fantasmas
dos
ossos que carrega na pele.
Greve
de fome, anorexia
nesse tempo
não havia
simplesmente
não comia.
Para
quê? Já tinha tudo,
demónios
e a pedra
do
tempo de menino,
e mudo
batia,
batia, batia
a
cabeça num tropel.
Ali no
meio do quartel
a
estaca que cravava
bem no
meio do mundo
cada
vez mais fundo
cada
vez mais ossos.
Anorexia?
Nesse
tempo não havia
simplesmente
não comia.
Aquela
que o prendeu, não,
os
cabelos que lhe levaram o coração
quando
ele se dava,
a estaca
cravava…
Quando
quis ir para França
o
carimbo REFRACTÁRIO.
Só
espera que
Um pau
Em três
golpes
O livre
do bufo.
Vem comigo!
Ouves o que eu digo?
Surdo,
batia,
batia, batia…
em
agonia…
o
menino da pedra,
a
estaca quase cravada
bem
fundo no coração,
e os
fantasmas quase nada.
Os três
golpes já não
são traição,
tão
longe no fundo do mundo.
Na
sombra dele
os ossos
a saírem da pele
branca
branca branca
a
saírem da farda
de
refratário
à
espera …
O anjo
já não tarda
na Cê
312.
deixadefrescura.com |
(quando o voo da loucura plana
ao encontro dos guerreiros escolhe, no ruído do silêncio, os mais puros)
2010
hajota
Um poema que li e reli e me mostrou tanta melancolia, tanta tristeza, tanta dureza na vida...
ResponderEliminarUm abraço.
~
ResponderEliminar~ ~ ~ Impressionante, pela situação de extremo sofrimento humano! ~ ~ ~
~ Mais uma vez, fico com a sensação que desenrola num espaço brasileiro.
~ ~ ~ ~ Um fim de semana agradável e docemente inspirador. ~ ~ ~ ~