segunda-feira, 31 de março de 2014

A água que cai agora



a água que cai agora
mata nas esquinas da cidade,
infetas de miséria e idade,
o náufrago da vida que aí mora.

mas que chuva! cai sem dó!
O nobre vagabundo - Charlie Chaplin
desfaz a pele em chaga,
o coração escorre, tão só.
o vento que sopra lá fora
não sabe a dor da adaga,
corta a carne até ao osso.
nada resta do tempo moço,
o coração gela, tão só!
farrapo de gente, nua
no vácuo do tempo-ausência
imensurável pela ciência,
vagueia perdido na rua
coração sofrido e só.

a água que cai agora,
introito, ritual, imolação
lambe feridas de desolação.
nada o prende na hora,
o coração exangue e só
arde no napalm da fome.

a morte espreita a vida, um fio,
do coração exangue e só.
o cordeiro belo nem um pio
alimenta a corte do vício
no glorioso fim do sacrifício.
.
o sacerdote num destes dias:
tu, larga a carcaça,  meu santo!

coração por fim livre e só.


2011
hajota

domingo, 30 de março de 2014

Está cheia



                 Está cheia 
                 a lua…
                 tão bela nua!
                 é tua? 

becodospoetas.com.br
2010

hajota



                 Abrasa e sua
                 alua
                 atua
                 à  noite na  rua.

                 Tão branca a tua
                 que bela lua.

sexta-feira, 28 de março de 2014

1.º mulato – Hamlet

http://topicos.estadao.com.br/


Nada tinha a ver, que se soubesse,
com a terra dos yes
e o Camões de sua majestade.
Veio ao mundo deserdado,
pincelado de café.
A madrugada o pariu
mas a mãe de verdade,
tão crente na sua fé,
logo que o viu,
para ele pediu sorte
aos santos de sua devoção.
Não tendo valor que lhe desse,
talvez por inspiração celeste,
decidiu: vais chamar-te Hamlet!
Logo que o sol surgiu
fez-se gente, de repente
na rua ganhou vantagem
fez-se estrela brilhante
no curso de vadiagem.
Entre a tribo do calção,
se tinha a bola nos pés
o rapaz tinha um condão,
não havia quem lha tirasse
mesmo que fossem dez.
Ai, fogo, Hamlet,  jura mesmo
c’o sangue de Cristo,
é brinca n’areia, desisto.


2010
hajota

Bilhetes





O contentamento que fica
imaginar-te assim, magnífica:
sentimentos fragâncias
anulam longas distâncias.

nunca longe tu andaste
apenas por cá tardaste
botão vermelho de rosa,
chegada a noite, saborosa.


2011
hajota





quarta-feira, 26 de março de 2014

Novas conversas em família

retirado da web



“O governo preocupa-se
com os portugueses, todos, mas, sobretudo…
como sabem, não há sobretudo para todos!
o governo compreende
as dificuldades, não é insensível,
(na governação é bem visível)
dos portugueses, sobretudo
dos que não têm sobretudo.
têm de perceber a difícil missão
do governo, que é pedir a contribuição
sobretudo aos que não têm sobretudo
na medida das nossas necessidades,
do governo, baixar a despesa, sobretudo
debelar com prontidão e urgência
a terrível emergência
do colesterol da nação:
os portugueses ganham saúde, sobretudo
os que não têm sobretudo,
e poupa-se na medicação!”

hajota

terça-feira, 25 de março de 2014

Projecto Troika

Afoitem-se por aqui


                     http://400asas.wordpress.com/2014/03/25/construir/

                  
e digam lá que não sentiram nada...

domingo, 23 de março de 2014

Eclípse total

Os estrategas que decidem os nossos destinos, que nem necessitam estar inscritos nos partidos políticos, têm designados procuradores que os representam dentro da política e do poder, cometeram um erro colossal quando investiram todas as apostas no mesmo número: uma maioria, um presidente e um governo.

Com este modelo implementado, tem-se visto a involução de Portugal que está associada à ausência de políticas, nomeadamente da económica e a persistente recaída em vícios que vêm de trás. Puseram toda a gente a fazer contas mas, apenas as contas que a sr.ª professora Merckle lhes mandou fazer. Só o ministério das Finanças importa.

Acham que Portugal tem Presidente da República? Cavaco Silva foi eleito e tomou posse do cargo mas não o tem sido. Alguém lhe meteu na cabeça a ideia de salvar o país assumindo o papel de economista-presidente figura que nem está prevista na Constituição. Será que só tem competência em finanças?

Apelam ao patriotismo do povo recitam ladainhas de democracia e etc. e tal, mas, quando alguém se manifesta de forma diferente do que está escrito nas “tábuas da lei” vem logo alguém dizer para estar de biquinho calado, não vá a senhora de longe estar à escuta.

 Se pensarmos bem na situação em que estamos mergulhados, por culpa dos estrategas que cozinharam a solução vigente, damos todos à sola de aqui para fora, pois, está visto, eles não se vão e não há forma de remediar o problema. Reparem bem, à conjunção de uma maioria, um presidente e um governo ocorreu uma fatalidade irremediável: um economista em Belém mais um economista em S. Bento. Estamos mergulhados na escuridão. Eclípse total.


Que me perdoem os economistas.

sábado, 22 de março de 2014

Conversas de parapeito


Adolescencia - Salvador Dali



debruçada à janela vê
como ele está bonito
cresceu tão depressa!
já lá vai a infância
como os anos passam…

na imensidão da planície
em toda a superfície
correm gazelas numa elegância
de passerele

que pernas tão altas
a roupa não lhe serve
é urgente ir ao shopping

dão corridinhas para ensaiar
fugas dos ataques felinos

pois, não tarda, começam as aulas
não pode ficar envergonhado,
as garinas não o vão largar,
deixar em paz,
pobre rapaz
para quem estará guardado?

coração em sobressalto
aceleram para não serem caçadas.


que princesa lhe vai calhar?


hajota



sexta-feira, 21 de março de 2014

Ode para o futuro


(Por hoje ser dia, trago aqui um dos meus
santinhos, Jorge de Sena - Pedra Filosofal)


ODE PARA O FUTURO


Falareis de nós como de um sonho. 
Crepúsculo dourado. Frases calmas. 
Gestos vagarosos. Música suave. 
Pensamento arguto. Subtis sorrisos. 
Paisagens deslizando na distância. 
Éramos livres. Falávamos, sabíamos, 
e amávamos serena e docemente. 

Uma angústia delida, melancólica, 
sobre ela sonhareis. 

E as tempestades, as desordens, gritos, 
violência, escárnio, confusão odienta, 
primaveras morrendo ignoradas 
nas encostas vizinhas, as prisões, 
as mortes, o amor vendido, 
as lágrimas e as lutas, 
o desespero da vida que nos roubam 
- apenas uma angústia melancólica, 
sobre a qual sonhareis a idade de oiro. 

E, em segredo, saudosos, enlevados, 
falareis de nós - de nós! - como de um sonho. 


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quinta-feira, 20 de março de 2014

O destino é amar-te

http://www.museumachadocastro.pt/

estava o sol no poente brasa acesa
tão doce tão quente que se deitava
descansando a rara e esparsa beleza
na almofada que a noite recatava.

então na via láctea
a convergência fez-se
num pôr de sol irreal:
o movimento gracioso
de Vénus dança
confundindo passos
pasmados no espaço sideral.

fios de ouro no ar encantam
os olhos que a vêm sua,
doce quente deitada
no algodão vermelho do amor.

mal o Sol se pôs Vénus seduziu Marte:
- meu amor, o destino é amar-te!


hajota

quarta-feira, 19 de março de 2014

Filhos



dilema da escalação - elenice nogueira - http://www.dw.de/


No princípio de tudo,
Deus disse:
“façamos o ser humano,
à nossa imagem,
à nossa semelhança”.
concebido num sopro, a coragem
do homem herdeiro não se cansa.
imbuído daquela condição,
venceu
a  sua fragilidade,
o tempo e a idade,
ganhando nos filhos
a imortalidade.

hajota

segunda-feira, 17 de março de 2014

A utilidade do coelho


A esperança de vida da espécie leporídea estima-se em 4 a 10 anos, uma eternidade para bicho tão pequeno, que passa a vida em correrias, saltos e patadas. A propósito de tão despropositado comportamento, diz-se, desde tempos imemoriais, para precaver ingénuos, que se deixam levar pela macieza da sua pelagem, que a sua perigosidade é real e tamanha que chega a desencadear terramotos pelas patadas que desfere, com as traseiras no chão.

Claro que essas catástrofes só ocorrem se não houver um humanoide que, por óbvias razões de sobrevivência, própria e da sua prole, não saia armado de varapau e lhe entorte as vistas, definitivamente. Zás, com um só golpe às orelhas fica sem vontade de fazer malfeitorias. O ideal é dar-lhe a paulada logo no primeiro ano de vida. A carne será mais tenra e o que se poupa em fogo é bom para o ambiente.

Não há melhor destino para a viande do que a caçarola. Conceda-lhe um estágio prévio de 8 horas em vinha-d’alhos, após uma boa esfrega de lombo com sal e louro. Não se preocupe com as horas certas. O tempo de duração do seu horário de trabalho é o bastante. Verá, quando chegar à cozinha o coelho já não salta. Frite-o em azeite bem quente: tostadinho é uma maravilha! Se quiser pode aquecê-lo com piri-piri. O melhor do cozinhado é que nem precisa de ajustamento, mas, pelo sim pelo não, um programa cautelar poderá prevenir queimaduras de eventuais salpicos. Porém, se a fritura tiver sido boa, o bicho terá uma saída limpa da caçarola.


O que não interessa, de todo, é garantir-lhe grande longevidade, guardá-lo como se estivéssemos à procura de um record para o Guiness Book. Deixá-lo prevalecer é um risco sério. O animal multiplica-se pandemicamente, como há exemplos pelo mundo fora. Sustentá-lo dois, três anos, ou mais, é um desperdício. E mais, quanto maior for o tempo que nós lhe concedamos maior será o deserto. 

domingo, 16 de março de 2014

Identidade de sopros

fonte: wikipédia
 (Charlie Parker, falecido a 13-03-1955, com 34 anos de idade)

Que outro pode ser?
no perfil das colcheias
em desalinho julgo eu ver
um desalmado sem meias
tintas, que pintou de
bebop - os anos de Bird.




03fev2012
hajota

sábado, 15 de março de 2014

A oportunidade do veto

Contrariando auspícios leporídeos o senhor Presidente da República, no uso das suas competências e faculdades de momento, vetou o decreto-lei com que o Governo pretendia aumentar a “taxa” para 3,5%, sobre os vencimentos dos servidores do Estado, para a malfadada ADSE (onde muito boa gente mama, não os funcionários).

O senhor primeiro-ministro ordenou e o ministro da presidência e dos assuntos parlamentares cumpriu (para não ser demitido?) a ordem de envio do decreto à Assembleia da República, sem alterações, para que os deputados da maioria o confirmem. 

O PM deve ter ficado com azia, porventura, com refluxo esofágico que, como se sabe, é deveras incomodativo. É que, na justificação do veto está implícito, para quem sabe ler e tiver memória, que os animadores das hostes pêessedistas e franjas adjacentes andaram e ainda andam a mentir com os dentes todos ao pagode.

Aqueles senhores, cipaios para todo o serviço, começaram por dizer que os funcionários públicos tinham a assistência na doença – ADSE de borla, depois que não era auto-sustentável, etc. Prestam-se a estas cenas tristes na esperança de serem bafejados pela sorte, tipo prenda de Natal, com a nomeação para cargo vantajoso, quiçá até no topo da estrutura do poder. Ao injetarem assim, de forma rasteira, o povo com o soro da mentira estão a engordar um dos pecados maiores da Nação: a inveja.

Ora, o PR justifica que os atuais 2.5% de desconto que está a ser praticado chega perfeitamente para suportar os custos do subsistema, ficando assim mais que clara a intenção do Governo, mais uma vez, ir ao bolso dos que estão mais a jeito com o objetivo de financiar a "renda" da Troika. O PM tem com certeza algum problema mal resolvido para se atirar, sem dó nem piedade, aos servidores do Estado. Com a argumentação “porque sim” quer que os deputados que lhe são fiéis façam o seu trabalhinho respondendo amen.


Se os deputados vão meter a mão na massa, poderia o Governo aproveitar para, de uma paulada, matar dois coelhos, salvo seja.  Abre a ADSE a todos os beneficiários do SNS e mantém os 3.5% mas para toda a gente. Atingirá o climax da felicidade eterna: é democrático, acaba com a azia e a inveja e, milagrosamente, assegura cash nos cofres do Estado. Mais, depois da "carneirada" baixar as orelhas, passa ao plano seguinte: vende o negócio da saúde e da segurança social aos privados assegurando financiamento para dois séculos, no mínimo. Dá também para comprar uns jet planes para governo dos ministros que sabem bem fazê-lo. Fantástico!

sexta-feira, 14 de março de 2014

O tédio na ribeira das naus


o brilho indigente dos marinheiros
O Grito - Edvard Munch - versão de 1895 
http://obviousmag.org/
marcado nos fundilhos vidrados
é labor de dias inteiros
cheios de nada fazer, pasmados.

a  desesperança medra 
como peste, do tédio na ribeira das naus
tal como  a miséria escrava
num tugúrio de Bangladesh.

os bancos avaramente
cobram em juros os ossos
cansados da crise inerente
ao ajustamento. só destroços,

vidas perdidas,  repetidas
numa sucessão fatal 
sem estrela polar.


hajota


quinta-feira, 13 de março de 2014

Sustentabilidade da dívida

"-Posso fazer uma pergunta?
No meu fraco entender, isto não está a ir bem, pois não?"

O Sr. João tem mesa marcada no café para a bica da matina. Quando por lá passo, encontro-o a folhear o matutino das desgraças. Não é economista mas tem muita experiência de vida, acumulada em oito décadas. Sabe fazer contas. Não precisa de fórmulas matemáticas complicadas para tirar as suas conclusões, basta-lhe a aritmética elementar e sente o peso da crise na sua casa.

Ouvi hoje um coro afinado de speakers a garantir a sustentabilidade da dívida, a começar pelo primeiro-ministro, indignado e a ridicularizar os 70 -  com a certeza dos iluminados. Pensar diferente disto é a peste que se abate sobre o país, em semanas. Consenso é, segundo a cartilha do poder, dizer amen à ladainha encomendada pelos donos da crise.

O Sr. João vai remoendo as gordas e desabafa: "olhe lá, a sustentabilidade da dívida é tirar-nos a nós o sustento, não é?".

quarta-feira, 12 de março de 2014

Perce(p)ções no vazio


http://elhanor.blogspot.pt/


um rumorejar à porta
deixa-me os sentidos despertos.
ponho o ouvido alerta,
levanto-me e os degraus desertos.

inquieto, vou à sala ao lado ver.
pareceu-me ouvir alguém
e o vazio que há nela a responder:
não, não há ninguém.

entro agora no quarto,
o teu cheiro subtil permanece
a evoluir num novelo farto.
deito-me na cama e parece…

os teus cabelos desgrenhados
da noite fazem-me cócegas. espreito
os lençóis, apago a luz e do escuro focados
dois olhos. sinto-os acender meu peito.

hajota


O poeta esqueceu-se da rua


(António Ramos Rosa)

http://www.fotosearch.com.br/
O poeta esqueceu-se da rua onde morava.
sem dizer por onde ia, escapava
à noite em vícios de liberdade
pelas janelas abertas da cidade.
de pés nus coreografava
em explosões inauditas de lava
palavras com sentido de verdade,
reduzia a cinzas a vacuidade
inútil e crava.

só os incautos puros amava.

cuidam que se foi o vulcão. 
o basalto quente vertido
nas ruas que habitou
espera pés virgens que sigam 
puros as linhas que cantou.

hajota

segunda-feira, 10 de março de 2014

A elevação dos anjos


partindo afoitos de periferias
improváveis, por percursos traçados
por intuição primeva, descobrem paisagens
disponíveis apenas a erudições vadias,
mil e um segredos guardados.

à sombra de frondosos carvalhais
desnudam-se sobre o perfume de fenos
por entre emaranhados e nebulosas. as mais
gratas virtudes dos venenos
elevam anjos a simples mortais.

hajota

http://www.recados-orkut.net/

domingo, 9 de março de 2014

O negócio


É descaramento dizer que Portugal está melhor. Se o que precipitou a entrada da Troika foi um problema de excesso de dívida que, apesar da enorme austeridade infligida ao povo português desde então, é hoje maior como é que o governo pode propalar que coisas estão melhores?

Para salvar o país a inconsciência temerária de Passos apostou num ou dois anos de austeridade que inchou para décadas na versão atual de Cavaco.
Não adianta mais subterfúgios e eufemismos: saídas limpas, cautelares, mistas e o mais que virá. Toda a gente já percebeu que a política deste governo é uma constante mentira tal como vem escrito na cartilha por que se regem; as contradições dos nossos supervisores, nomeadamente as do FMI, não são lapsos de comunicação; são técnicas com intenção.


É bom de ver que o objeto dos donos da Troika é o negócio e, como tal, não há que ter ilusões quanto às motivações da sua ajuda: garantir uma renda vitalícia para os seus associados.

sábado, 8 de março de 2014

A luz que tens


anildo-motta.com



A luz que tens no olhar
tem dias não resplandece
a noite não entristece
quem lava a alma ao luar
se  te vence o cansaço
agarra o sonho num abraço.



hajota

sexta-feira, 7 de março de 2014

Portugal felizmente


http://www.cm-barcelos.pt/


felizmente, não há corrupção
em Portugal
a seriedade dos de cima
deixou-a na Man Ferrostaal

felizmente ainda há ricos
em Portugal
dão sopa e estima
ao irmão que passa mal

felizmente ainda há classe
nos salões de Portugal
onde há gente que anima
para ver a cara no jornal.


hajota

Nunca viste, ó parvo?

Dulcinea de Salvador Dali

era uma força abrasadora da natureza.
com passos gemidos descia a rua em tangos
de movimento arrastado.
uma exaltação de saturada beleza,
do peito brotavam morangos
num balouçar ritmado.

o rapaz, encostado à esquina do desejo
de olhos assestados no refluxo
daquele poema de luxo,
sentia o cavalo a galope o sangue a ferver,
suspenso, em apneia
do perfume de dulcineia.

2011
hajota 

quarta-feira, 5 de março de 2014

Vou de saída



Onze Verões caldos, 
tórridos,
a terra um pó, uma secura.
Queimam primaveras
sem esperas,
mal encetadas,
brotando delas amores
da sua candura imolada
flores ao mundo dadas. 

Roubam-lhe a seiva e frescura
do sol que trazia na manhã.
Doze, tantos 
rebentos de doçura
nascidos da maçã,
espia pecados a mais pura.

Secam-lhe as fontes no Outono.
Nascem-lhe sulcos de águas
trazidas nas noites sem sono
trabalhos dores e mágoas
traçando os destinos no decágono.

Perdida no frio do Inverno
sem nada mais para dar
com a alma de dor roída
pegou na trouxa, já sem ar
disse: vou de saída.
No olhar ternura, de saída.


2012
hajota