segunda-feira, 31 de março de 2014

A água que cai agora



a água que cai agora
mata nas esquinas da cidade,
infetas de miséria e idade,
o náufrago da vida que aí mora.

mas que chuva! cai sem dó!
O nobre vagabundo - Charlie Chaplin
desfaz a pele em chaga,
o coração escorre, tão só.
o vento que sopra lá fora
não sabe a dor da adaga,
corta a carne até ao osso.
nada resta do tempo moço,
o coração gela, tão só!
farrapo de gente, nua
no vácuo do tempo-ausência
imensurável pela ciência,
vagueia perdido na rua
coração sofrido e só.

a água que cai agora,
introito, ritual, imolação
lambe feridas de desolação.
nada o prende na hora,
o coração exangue e só
arde no napalm da fome.

a morte espreita a vida, um fio,
do coração exangue e só.
o cordeiro belo nem um pio
alimenta a corte do vício
no glorioso fim do sacrifício.
.
o sacerdote num destes dias:
tu, larga a carcaça,  meu santo!

coração por fim livre e só.


2011
hajota

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