segunda-feira, 17 de março de 2014

A utilidade do coelho


A esperança de vida da espécie leporídea estima-se em 4 a 10 anos, uma eternidade para bicho tão pequeno, que passa a vida em correrias, saltos e patadas. A propósito de tão despropositado comportamento, diz-se, desde tempos imemoriais, para precaver ingénuos, que se deixam levar pela macieza da sua pelagem, que a sua perigosidade é real e tamanha que chega a desencadear terramotos pelas patadas que desfere, com as traseiras no chão.

Claro que essas catástrofes só ocorrem se não houver um humanoide que, por óbvias razões de sobrevivência, própria e da sua prole, não saia armado de varapau e lhe entorte as vistas, definitivamente. Zás, com um só golpe às orelhas fica sem vontade de fazer malfeitorias. O ideal é dar-lhe a paulada logo no primeiro ano de vida. A carne será mais tenra e o que se poupa em fogo é bom para o ambiente.

Não há melhor destino para a viande do que a caçarola. Conceda-lhe um estágio prévio de 8 horas em vinha-d’alhos, após uma boa esfrega de lombo com sal e louro. Não se preocupe com as horas certas. O tempo de duração do seu horário de trabalho é o bastante. Verá, quando chegar à cozinha o coelho já não salta. Frite-o em azeite bem quente: tostadinho é uma maravilha! Se quiser pode aquecê-lo com piri-piri. O melhor do cozinhado é que nem precisa de ajustamento, mas, pelo sim pelo não, um programa cautelar poderá prevenir queimaduras de eventuais salpicos. Porém, se a fritura tiver sido boa, o bicho terá uma saída limpa da caçarola.


O que não interessa, de todo, é garantir-lhe grande longevidade, guardá-lo como se estivéssemos à procura de um record para o Guiness Book. Deixá-lo prevalecer é um risco sério. O animal multiplica-se pandemicamente, como há exemplos pelo mundo fora. Sustentá-lo dois, três anos, ou mais, é um desperdício. E mais, quanto maior for o tempo que nós lhe concedamos maior será o deserto. 

10 comentários:

  1. "O que não interessa, de todo, é garantir-lhe grande longevidade, guardá-lo como se estivéssemos à procura de um record para o Guiness Book. Deixá-lo prevalecer é um risco sério."

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  2. GENIAL!!!! :)))
    Mais cáustico que a soda.
    Aquele abraço!

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    1. É bom que se vá aquecendo o azeite para o fritar. A festa é em Maio, não é?

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  3. ~ Uma publicação muito divertida e espirituosa, Agostinho.

    ~ Uma interessante receita da culinária tradicional portuguesa.

    ~ Mas os saborosos petiscos de outrora, andam preteridos a favor de mais leves...

    ~ O leporídeo desastrado a que se refere, pagará a sua leviandade no jardim zoológico nacional, não precisará, nem de grades, nem de etiqueta, pois todos o identificarão como o mais perigoso da sua espécie.

    ~ Tem razão, é urgente provar-lhe, que não temos medo dele. ~

    ~ ~ ~ Um dia sorridente e aprazível. ~ ~ ~

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  4. A ironia é um grande talento, amigo...
    Abraço.

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  5. Conclui-se, destarte, que o gajo já se está a fazer duro demais!! E os coices que dá tornar-se-ão cada vez mais letais...
    E não há quem lhe dê a totiçada...
    Poderá não dar grande pitéu na caçarola, mas o povo ficava mais... eu não queria dizer seguro... Irra! Estamos cercados de todos os lados...

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    1. Realmente a conjunção dos astros não está de feição, Sinceramente, Sincera_mente. Há de haver uma forma.

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