Que ninguém lhes diga - Olhai como vivem os homens da terra.
Às aves nada temos para lhes ensinar.
Lídia Jorge, O Livro das Tréguas, excerto de Aos Despidos
júlio pomar |
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Helena
dividida roubada amuralhada
moveu
vontades, e o mar de Troia
transbordou
barcos nas areias quentes
Os guerreiros
romperam rocha,
e os guardas tombaram
pela necessidade de morrer
Mercenários
violaram praças
a romper hímens
na penumbra do temor,
acicatados pelo suado desejo
dos
corpos da guerra e da paz
Até à exaustão
Todas
as epifanias foram resolvidas
nas vísceras pelos
sacerdotes
Em premonições proclamaram o estado
da morte a acontecer
O
mar recebe e dá aos corpos
a dimensão que
tiveram em vida,
sem cobrança de dízimo,
e as
escarpas aguardam os suicidas
que
escolhem a profundidade
da liberdade
Calcorrearam paralelepípedos sem fim
para
encontrar um poiso,
um vão de escada,
uma
enxerga, um bosque
virgem, um dorso de serra
onde o perfume do ventre cobiçado,
liso dourado esvoaça
entre
rosmaninhos e murtas
ao vento
Estrangeiros, na estranheza negra
dos corvos, os deuses
não lhes deram linho
nem sequer singelo limbo
hajota