Que ninguém lhes diga - Olhai como vivem os homens da terra.
Às aves nada temos para lhes ensinar.
Lídia Jorge, O Livro das Tréguas, excerto de Aos Despidos
júlio pomar |
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Helena
dividida roubada amuralhada
moveu
vontades, e o mar de Troia
transbordou
barcos nas areias quentes
Os guerreiros
romperam rocha,
e os guardas tombaram
pela necessidade de morrer
Mercenários
violaram praças
a romper hímens
na penumbra do temor,
acicatados pelo suado desejo
dos
corpos da guerra e da paz
Até à exaustão
Todas
as epifanias foram resolvidas
nas vísceras pelos
sacerdotes
Em premonições proclamaram o estado
da morte a acontecer
O
mar recebe e dá aos corpos
a dimensão que
tiveram em vida,
sem cobrança de dízimo,
e as
escarpas aguardam os suicidas
que
escolhem a profundidade
da liberdade
Calcorrearam paralelepípedos sem fim
para
encontrar um poiso,
um vão de escada,
uma
enxerga, um bosque
virgem, um dorso de serra
onde o perfume do ventre cobiçado,
liso dourado esvoaça
entre
rosmaninhos e murtas
ao vento
Estrangeiros, na estranheza negra
dos corvos, os deuses
não lhes deram linho
nem sequer singelo limbo
hajota
Intensa, profunda e linda poesia! beijos, lindo domingo,chica
ResponderEliminarComo disse Orwell não há nada mais previsível que o passado porque tudo o que aconteceu no passado contagia o presente. Assim, entendi o mar de Troia com seus vencedores e vencidos como um lastro das mortes que continuam a deixar os despojos dos que morrem a fugir da morte ou da vida… Que poema, meu Amigo Agostinho!
ResponderEliminarUm beijo.
Sempre movendo céus e terra, as Helenas de todos os tempos.
ResponderEliminarUma beleza, as palavras tuas, Agostinho!
Beijinhos :)
Bonito! Boa noite Agostinho
ResponderEliminarUm excelente texto poético que transporta memórias
ResponderEliminarpara amanhãs que se repetem
Abraço poeta
Já dizia Camões... Na Terra, tanta guerra tanto dano, tanta necessidade aborrecida... enfim! É este mesmo, o destino destes bichinhos de terra tão pequenos, a que se dá o nome de humanos... o de guerrear-se entre si... afastando-se cada vez mais, de um lugarzinho no céu... de facto... às aves, não temos mesmo nada, a lhes ensinar!... Elas sabem qual é, e qual será sempre o seu lugar... um outro Reino... bem mais pacífico...
ResponderEliminarTrês talentosas junções, nesta publicação de excelência, Agostinho! Parabéns!!!
Beijinho! Feliz semana!
Ana
Intenso e excelento poema a não deixar esquecer a história.
ResponderEliminarBem escrito como já é habitual.
Beijinhos
:)
Excelente postagem! :)
ResponderEliminar-
Memórias e boas lembranças - Parte 2
Beijo e uma boa noite!
um poema de recorte clássico
ResponderEliminarem que, como ninguém mais, és exímio
gostei muito, amigo Agostinho
grande abraço
Um passado, consequências de uma guerra em particular que não deixa de representar todas as guerras, onde os vencidos pagam e os vencedores acabam por perder razão nas punições infligidas.
ResponderEliminarUm belo poema, pleno de arte
Abraço
E são os mesmo que fazem a guerra e a paz.
ResponderEliminarUm poema soberbo, os meus aplausos.
caro Agostinho, um bom fim de semana.
Abraço.
Um poema belo, épico, único e invulgar.
ResponderEliminarSó comparável à mais bela composição de música clássica.
Para ler e ficar a meditar de olhos fechados.
Parabéns, Poeta!
Beijinhos
Amigo, primeiramente minha gratidão pela honrosa interpretação exata manifesta por ti, amigo, de nossos sentimentos inerentes à postagem na matéria que expus em meu blog! Tua alma, Agostinho, entrelaçou-se às almas nossas; e me fez feliz. Muito obrigado! Em segundo lugar, mais importante ainda, é a boa qualidade e a minha admiração pelo teu soberbo poema - divino, maravilhoso! Parabéns! Bastaria esse poema para consagrar-te como poeta maior, Agostinho! Ele é extraordinário e bem representado pela imagem do corpo imperando sobre tudo em uma guerra. Em romance que lançarei neste ano do centenário de nossa academia literária descrevo a trajetória de amigo meu herói condecorado por bravura na Segunda Guerra Mundial onde mostro a mesquinhez humana em uma guerra em que eu, para não ser cruel à sensibilidade alheia, faço o ficcional dar conta de um extraterreno a matar a roubar e a odiar, pois o humano não seria capaz de tanta desumanidade que a guerra traz! Amigo Agostinho, parabéns e minha gratidão! Laerte.
ResponderEliminarAgostinho,
ResponderEliminarGrata pela deliciosa
viagem em seus versos
tão lindos.
Bjins
CatiahoAlc./Reflexod'Alma
entre sonhos e delírios
Como seria possível o mundo de hoje existir sem guerras se já nos tempos de Homero ( e muito antes, ainda) elas existiam?
ResponderEliminarOnde houver dois homens... há guerra, com certeza. E depois... fazem também a paz, para, dentro em pouco, recomeçarem a guerra.
Sempre assim foi e sempre assim será, por muito que nos custe.
Belíssimo poema, grandioso!
RE: Agradeço imenso o seu comentário que, para mim, é muito valioso, vindo de uma pessoa cuja escrita admiro muito.
De momento, o que tenho escrito, em formato de livro perfaz 150 páginas. Mas... o que está na minha cabeça é, pelo menos, outro tanto. Receio que fique demasiado grande... mas o que fazer ao resto da história que fervilha na minha mente? 🤔
Bom Fim-de-semana
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
Tudo se repete com o contorno próprio da chamada civilização cada vez mais à procura de si mesma .
ResponderEliminarExcelente poema, como sempre. Adorei!
Beijinho A.
Pobre dimensão humana. Os deuses são uns agiotas, Agostinho, e sobrevivem à laia do nosso sofrimento.
ResponderEliminarGrande abraço
Os deuses quando querem nos castigar atendem as nossa preces.
ResponderEliminarDescanse, reflita, sorria, se distraia. O fim de semana é seu! Beijo enorme!
Vim à procura de mais.
ResponderEliminarMas gostei (deliciei-me mais uma vez) de reler este excelente poema.
Caro Agostinho, um bom fim de semana.
Abraço.
A imagem é linda e o poema, de certa forma labiríntico, abre margens para muitas interpretações. Um abraço, Agostinho.
ResponderEliminarA vida a retomar em Macau aos poucos e eu também a retomar os blogues aos poucos.
ResponderEliminarAquele abraço
Oi Agostinho
ResponderEliminarLer-te é sempre um momento de sublimação_ e me fez lembrar um texto que dizia ser todas as mulheres Helena de Troia_há sempre um Páris a seduzi-las rs
_e sustenta afirmando ela é a mulher que "todos deseja, idealiza, idolatra, difama, celebra, constrói e desconstrói. Para o bem ou para o mal" ...
E essa guerra Verdade ou lenda Agostinho?
grande abraço, obrigada pela honra dos seus comentários.
beijos
Precioso poema.
ResponderEliminarBesos
Agostinho,
ResponderEliminarVir aqui me é um sopro
de inspiração
de alegria e criatividade.
Bjins
CatiahoAlc.
Triste, forte
ResponderEliminarHajota,
ResponderEliminarEu amo vir aqui.
Suas publicações sempre
me trasnportam e
posso pensar poesia.
Bjins
CatiahoAlc.
Poema maravilhoso e forte! Não gostaria de ser pessimista, mas como não ser? Não dá para encobrir o que está tão claro. E assim caminhará a humanidade porque grande parte da essência é essa: cobiçar, lutar, torturar, matar e dar uma pausa pequena para em seguida começar tudo novamente. Há milênios.
ResponderEliminarEssa é nossa "essência", o resto é sobremesa que vem aos pouquinhos para dar uma refrescada. Não acredito num mundo totalmente feliz, com mais paz, com ausência de violência. Quando apagamos o fogo de um lado, começa no outro, e assim vamos. Pobres os homens de boa vontade...
Parabéns, Agostinho, aplausos!
beijo, um bom fim de semana.
Apenas uma pequena frase: "" Poema simplesmente magistral ""
ResponderEliminarCumprimentos
Excelente resumo poético de uma guerra que durou 100 anos
ResponderEliminarprovocada por Helena que disseram ser belíssima.
Tão famosa esta guerra mítica, que ainda usamos expressões
como 'cavalo de Tróia' e 'calcanhar de Aquiles'...
E as guerras continuam, hoje não há cavalos em batalhas...
Estão a ser testados 'in loco', drones (cegos)
Grata pelos bons momentos de leitura
Tudo pelo melhor
Abraço
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Poema potente a contar séculos de história e de humanidade!
ResponderEliminarOlá, como tem passado.
ResponderEliminarEstou a regressar aos blos, mas só em vieiracalado-poesia.blogspot.com
Agora vou ser mais assíduo.
Saudações poéticas!
Muito bom ler aqui.
ResponderEliminarBoa noite!
ResponderEliminarGostei muito do seu poema!
Saudações poéticas!
Poema de uma profundidade sem igual, gerou imagens em minha cabeça.
ResponderEliminar"O mar recebe e dá aos corpos
a dimensão que tiveram em vida,
sem cobrança de dízimo,
e as escarpas aguardam os suicidas
que escolhem a profundidade
da liberdade "
trecho de uma beleza sem tamanho.
Primeira vez aqui no blog, e desejo voltar mais.
Abraço!
E à face da terra... batalhas continuam a ser travadas... contra um inimigo invisível, no momento... se surgiu naturalmente ou foi criado... ainda ficará no âmbito da especulação... pois todos os dias, se sabe um pouco mais, sobre esta virusice, que veio assombrar o mundo...
ResponderEliminarEstimo que se encontre bem, assim como todos os seus, Agostinho! Por aqui... já na batalha... para que esta bichice, não faça estragos, cá em casa... com mãe, por perto, os cuidados têm de ser ultra redobrados... já estou na fase... em que tudo o que seja compra de supermercado, seja lavada, item por item, com gel de banho... pois o álcool... está reservado para usar na rua, para as mãos... e no momento... deve estar quase ao preço do ouro... pois no outro dia, já constava que teria tido uma subida de preço de 1000%...
Enfim!... Mudam-se as guerras... mudam-se as vontades... e as de agora... fazem o pessoal ir todo a correr para o supermercado, comprar papel higiénico... sinais da involução dos tempos... nestes dias de muita guerra contra o vírus... pouca paz de espírito... e muita vontade, de tantos, em fazer desta virusice o novo pet de estimação... com tanta gente ainda sem ter a noção da gravidade da situação... e prontos para ajuntamentos e deslocações, sem interrupção das cadeias de contagio... no fim de semana... foi lindo, ver uma fila imensa de inconscientes na Ponte... que queriam ir fazer a quarentena ao solinho, num lado qualquer!... Mas este pessoal, não tem noção do que um vírus, significa?... Aparentemente não! O ser humano, mesmo repleto de informação... ainda assim, não sabe o que fazer com ela... mas o que quer que faça... já deu para ver, que tem mesmo motivos para usar muito papel... de 2, 3, ou 4 folhas... :-))
Beijinhos! E cuide-se bem, Agostinho!
Ana
Que ideia a de dedicares um poema, para mais, belo, à guerra e ao suicídio. Que sensação de vazio, de angústia... Não consegui entender...
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