quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Vim pela manhã e vi



Muita gente me tem falado a meu respeito
mas eu cresço e minguo certas vezes anoitece
Sou coisa que se molha encolhe e envelhece
tudo me aquece e tudo me arrefece

Ruy Belo, Boca Bilingue, excerto de       
Em cima dos meus dias            


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Vim pela manhã ver e vi
Não há relógio atómico nem carbono
que percepcione e date palavras:
um verso não cabe entre parêntises
Apenas e só o coração sente
poesia que acontece
em qualquer tempo
num tempo  sem tempo

Vim pela manhã ver vi
e havia raios despontado
no horizonte para mim
E correu então entre Terra e Sol
uma neblina um aroma verde
um som claramente salgado depurado:
inundou-me de sabor a mim

Que a poesia acontece limpa
e clara num tempo sem tempo
de emoções que claramente curam


hajota



sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Sunset


Quando vinham as nuvens de setembro, já
os pássaros tinham emigrado para além dos mares
o  campo ficava em longos silêncios

Nuno Júdice, O Mito de Europa,              
início de "Nostalgia de Setembro"             
          
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vladimir kush, 
fonte: http://marteeparaosfracos.blogspot.pt/



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Na impossibilidade de suspenderes
o movimento da máquina universal,
os ponteiros no mágico momento parares,
quando os oceânicos seres nas entranhas dos corais
se multiplicam em reflexos de cristais,
quando as aves afinam o cobalto pintalgado
de algodão em fiapos e, no voo picado
do fim da tarde, as asas se afeiçoam
em abraço ao peito, em apneia delirante,  
e os homens cruzam o incerto e o distante
e se sublimam nas magníficas pérolas
da transmissão do divino original  
e da explosão cósmica, no clímax,
nasce uma estrela nova no céu,
vieste com a festa, a esperança do eterno
esplendor do sunset perfeito.


                                               hajota