quinta-feira, 16 de maio de 2019

Humano Ofício VI

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Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Álvaro de Campos, 
estrofe de abertura de Tabacaria

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oooooOOOooooo


(imagem minha)

oooooOOOooooo

Imprevisto chega o dia
Vê-se vazio
na pedra do cais sentado
Em terra corre o quente
sangue que doou
O vermelhão nunca lhe faltou
mas sabe o seu destino

Sente o peito cheio de sal
Esquadrinha no horizonte o barco
que o há-de levar
toca-o a melancolia de fim de dia
e a saudade do futuro:
da lâmina de gelo
que cairá da sombra em si

No zénite a luz reduz
a sombra
que cresce até ao fim:
inteira engole a luz
Si compleatur officium
(cumprido é o ofício)


hajota