Passa, ave, passa, e ensina-me a passar!
Alberto Caeiro, in O Guardador de Rebanhos
foto minha |
Sozinho em
casa
conto um
dois três quatro… treze
Que dia é
hoje?
Os
passarinhos a cruzarem o ar
na azáfama
primaveril afinam
instrumentos
e o melro negro faz
voos rasantes
intercalados de gargalhadas escarninhas
não
percebendo que denuncia os seixinhos
E eu?
não voo, não
canto. Já nem sei
sozinho: um,
dois, três, quatro…
Tomo o pequeno
almoço e ligo-me
à tv:
covid19…
Um melro,
dois melros, três melros
Dois de toucado
loiro estúpido
o outro alarvemente
coberto de boçalidade
Presumidos
assassinos babam
nem dos
seixinhos tratam.
E eu?
sem asas,
sem voz, já nem sei
suportar os
asnos um dois três…
Antes do
pasmo da alienação
desligo o
medo Desligo-me
Parado
contido mitigado
mas indignado
fico a um canto
Não voo não
canto já não conto
Já não
conto?!
Vem luz à mente
um brilho
ilumina a treva
uma febre
súbita premente instintiva animal:
a
necessidade de salvar a vida
Os dias?
conto não conto ligo desligo
Não há presente como fazer o …
Recordo o
passado e treino
a amnésia de
futuro
hajota
Profundo...poeticamente perfeito
ResponderEliminarDelicioso de ler e. melhor ainda, de ficar em reflexão...
Não será que neste momento todos nos sentimos prisioneiros numa gaiola? Penso que sim... sentimos
Cumprimentos
Que poema tão bonito! Amei de verdade!:)
ResponderEliminar-
Primavera em quarentena ...
-
Beijo e uma excelente semana. "Proteja-se"
Lindo poema bem trazido,Agostinho! Como estás ?: abraços, chica
ResponderEliminarO presente está ser complicado.... resta-nos (re)visitar as memórias felizes e pintar o futuro com esperança...
ResponderEliminarBrilhante...
Beijos e abraços
Marta
Meu Amigo Agostinho, desligue o medo e ligue a esperança. Isto há-de passar. Não está fácil, é verdade. Se ao menos pudéssemos voar...
ResponderEliminarFazem-nos falta os familiares, os amigos, os abraços. A nossa rotina também nos faz falta. Quem disse que a rotina é má? Quem disse que não gostamos de encontrar os conhecidos e os amigos? Quem disse? A TV nem sequer é boa companhia e fala do covid até à exaustão, até à alienação como refere. Antes ouvir os melros que por estes dias cantam mais que nunca. Por aqui ainda não vi andorinhas. Será que este ano elas não inventaram a primavera?
Meu Amigo tenha todos os cuidados possíveis e impossíveis. Que os dias passem de forma mais amena. Que tenha saúde. Deixo-lhe um abraço.
Gostei muito da foto e do poema, que é na verdade a realidade de muitas pessoas hoje em dia:))
ResponderEliminarBeijinhos e saúde:))
Um desencanto.... Sinais dos tempos - destes tempos inquietantes e inquietos que nos apertam e sufocam...
ResponderEliminarMas - há que animar, Poeta!
Agostinho
ResponderEliminarVale a pena mesmo é ver e ouvir os pássaros livres, são eles os verdadeiros donos do mundo.
Nós...temos de aprender a passar e a viver o momento fugaz que é a vida!
Beijinho grande
Até já!
Soltem os pássaros
ResponderEliminare os afectos
Abraço
não contas? desligas?
ResponderEliminarmas ascendeste à casta de "intocável"
uma maravilha o poema.
abraço, caro amigo
Gostei muito do poema, amigo.
ResponderEliminarAo tempo que não lia neste espaço, um poema bem construído
e não desconstruído...
É imprescindível usar a criatividade para ocupar o tempo,
acompanhar apenas as notícias principais e cultivar a paz~
e esperança.
Dias pascoais com saúde, poesia e tranquilidade.
Beijinho
~~~~
Meu querido amigo hajota
ResponderEliminarO medo toma conta de nós e temos de nos agarrar à esperança que uma luz surgirá para nós e para o mundo.
É muita dor que se vê e este poema intenso e realista,fez que, confesso que as lágrimas se soltaram
desamparadas, mas temos de ser fortes.
Dentro do possível uma Pãscoa Feliz.
beijinhos
:(
Até ser dia
ResponderEliminarPasso para desejar
ResponderEliminarSanta Páscoa, cristã!
Que a luz desta manhã
De domingo, no teu lar,
Venha a iluminar
Teu espírito e mente
Com a luz do Onipotente
Senhor Deus Celestial
E que o Cordeiro Pascoal
Seja à tua alma um presente!
Oi amigo, tudo de bom nesta Páscoa! Abraço! Laerte.
Pois é, Agostinho, deparamo-nos com uma onda avassaladora que nos impele para as cavernas, acenando, a toda a hora, com a bandeira do medo. Que irá sair daqui?
ResponderEliminarGrande abraço
Reconte, Agostinho
ResponderEliminaros pássaros crescem e multiplicam-se, eu agora até oiço cantar um galo. Primeiro não acreditei mas a cada manhã ele canta, apenas não sabe que eu estou aqui
Também estou cansada de botões de ligar, de écrans, de sms e skype. Não nos basta, mas um dia isto vai mudar. Até lá, um abraço.
Excelente, o poema, apesar de nos "mostrar" um estado de alma preocupante.
ResponderEliminarAs mulheres têm a grande vantagem de aguentar melhor a reclusão (algumas NÃO!)
Mas tudo vai passar... Voltar à normalidade??? Isso é o que veremos...
RE : Quantas páginas? Cerca de 200 (em tamanho A5, claro!). Mas quer saber a melhor? O último capítulo já está escrito, posso acabar quando me der na telha...
Feliz Terça-feira e uma boa semana.
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
De truz, rapaz!
ResponderEliminarOlha, nessas tuas evasões à mata do rato, aproveita para espreitar os seixinhos. Já que os melros, esses toleirões, anda entretidos no namorico... E quando vires que estão prestes, alapa-te e assiste ao milagre!
E quando os dias deixam de se conseguir contar... temos de arranjar o conteúdo possível, para os conseguir diferenciar!...:-)) Senão acabamos mesmo todos... mal passados!... :-D
ResponderEliminarEu ando em limpezas, arrumações e reparações, no momento... pelo menos com a canseira... já há menos espaço para a insónia e a nervoseira...
E ando a tratar da saúde, a alguns electrodomésticos, que resolveram entrar em lay-off...
Devia desligar-me de ouvir tantas notícias... mas não consigo!... Gosto de estar a par da idiotice que paira no mundo... e de vez em quando ainda algo me faz rir... anteontem foi o Trampas dos Desintegrated States, com a sugestão de nos injectarmos com desinfectante para matarmos o vírus... pelo menos, quem lhe der ouvidos... sabe que chega mais depressa ao hospital morto da cura, do que da doença... qualquer uma que tenha... não necessariamente o vírus... :-)) Teve o mérito de unir, as maiores indústrias de produtos de limpeza e desinfectantes... com avisos à população, para não ingerirem nada, que não devessem... enquanto cada um dos seus Estados, completamente à toa, faz o que bem entende...
Da Coreia... parece que o dos mísseis... teve uma coisita má... e não dá sinais de vida... por esse lado... corona ou não corona... permanece o mistério... mas já ninguém corre o risco de sair à rua e levar com um míssil coreano desgorvernado, na testa... não tão cedo, pelo menos...
Do Brasil... o BolsoASNO... diz que o seu povo, vive na sarjeta... e já está vacinado... então deve ser por isso, que tantos, estão caindo às centenas, por dia, para o lado...
Da China... está tudo por lá muito calado... a braços com a segunda vaga... fecharam uma cidade de 10 milhões... que faz fronteira com os russos... mas dizem que está tudo lindamente... e no passa nada...
Da Rússia... quem sabe o que por lá se passa?... Nem o Puttin, contava que uma virose, lhe viesse minar o império... Mas consta que o vírus por lá... não bate leve... levemente!... Pois cada vez, por lá, tomba mais gente...
E no meio deste caos mundial... eu só penso.... olha que sossego, é viver esta pandemia em Portugal!... Onde ainda assim, parece que vai mais tudo bem, do que mal!... :-))
Enfim!... Parece que com máscara, e uns óculos de mergulhador, ou das obras... estamos prontos para enfrentar o bicho lá fora, já que não entrando pela orelha, pelo menos assim, não dá abalo... :-) chegamos a casa, deixamos a roupa de lado, e com um banho, alguma virusice que venha atrelada a nós, vai para o ralo...
Temos de começar a relativizar a sua importância, sem contudo a desvalorizar... porque ela infelizmente, durante um bom tempo, está mesmo para ficar...
Gostei imenso da poesia, que tão bem traduz este problema... que antes não tínhamos... o tempo... que antes nos faltava... e que agora, parece que não passa nada...
Mas recorde-se o passado... abstraiamo-nos ao máximo, deste presente angustiante... e foquemo-nos no futuro!... Pois também não há mal, que sempre dure...
E como as medidas de confinamento, estarão para ser reduzidas... só nos resta conseguir ir à rua, com o equipamento certo, e mandar também o bicho, para as urtigas...
Beijinho! Bom domingo!
Ana
A Ana Freire é simplesmente maravilhosa ! escreveu tudo que também queria rs
ResponderEliminarNada mais a dizer_só que o Agostinho continue quietinho mesmo com Portugal liberando a passagem.
E agora temos tempo bastante para cansarde 'nada fazer' ou de muito procurar o que fazer :((
abraço Agostinho
Gostei especialmente do final.
ResponderEliminarA foto é maravilhosa, também tenho destes frutos no quintal.
Um beijinho
Que bonito, tudo!
ResponderEliminarUm beijo amigo, Agostinho. :)
Ola! Gostei do poema.Neste tempo turbulento é algo a ser lido.
ResponderEliminarAs dores de alma dão poemas fortes e belos.
ResponderEliminarE a televisão não é boa companhia, chega até a ser perigosa, principalmente nas horas dos telejornais.
Muita saúde! Cuide-se.
Em interregno de blogues, por afazeres pessoais e, sobretudo, pro bono, sinto saudade de visitar amigos blogueiros. A esta distância e na dita segunda vaga, o poema é magistral pelo registo de um estado, o martelamento das notícias e a imprevisibilidade dos acontecimentos.
ResponderEliminarDesejo que esteja bem!
Bjinhos