Primeiro abre-se a porta
por dentro sobre a tela imatura onde previamente
se escreveram palavras antigas: o cão, o jardim impresente,
a mãe para sempre morta.
Manuel António Pina, Como se desenha uma casa (1.ª estrofe)
O poema agrega o cinzento cimento,
para coerência da edificação,
e desagrega o fissurado da unidade,
lobo a lobo,
lobo a lobo,
em alçados de ortogonal construção,
cartografados em pontos cardeais:
frontal parietal temporal occipital.
Nas quatro fundacionais paredes
o passado ruína rumina presente,
inspira expira gemidos ruídos
o passado ruína rumina presente,
inspira expira gemidos ruídos
orgânicos de motibilidade biológica
previamente inscrita,
previamente inscrita,
escrita na torrente do límbico
exercício concreto do abstracto.
Ouro imaterial nasce na memória
preservada pela dura-mater,
- patine amadurada do tempo -
no miolo da urbe, no miolo da gente.
no miolo da urbe, no miolo da gente.
E no meio a mesa, cadeiras em volta,
onde o branco vazio da folha espera
o jorrar inapagável da tinta luminescente.
onde o branco vazio da folha espera
o jorrar inapagável da tinta luminescente.
Molécula a molécula a construção
do fraseado destinado do destino respira.
O bafo húmido corre poro a poro o fílme:
a matéria que renasce enquanto morre
na pedra no tijolo no grão de areia,
é património vivo da gente, guardado em pó.
No miolo está pura a eterna poesia.
O bafo húmido corre poro a poro o fílme:
a matéria que renasce enquanto morre
na pedra no tijolo no grão de areia,
é património vivo da gente, guardado em pó.
No miolo está pura a eterna poesia.
hajota
"O branco vazio da folha" espera que o poema se agregue e desagregue, que respire, que seja ofício ou "escrita na torrente" da linguagem, até ser algo de imaterial, até ter "a pureza eterna da poesia"...
ResponderEliminarUm poema muito denso e intenso, meu Amigo Agostinho.
Tudo de bom para si.
Um beijo.
Muito bom este seu poema. Amei!! Obrigada pela sua partilha connosco!
ResponderEliminarDeambulando em teus bens...
Beijos e um excelente dia!
Sempre que aqui passo fico deliciado com a imaginação do Agostinho.
ResponderEliminarAquele abraço!
Só a Poesia não ficará reduzida a pó!
ResponderEliminarEla vive latente na alma e no coração de quem a vive,
como o cerne da própria Vida.
O que gosto de o ler, Agostinho...
Um abraço forte!
OI AGOSTINHO!
ResponderEliminarO POETA SE TORNA PÓ, MAS SUA CRIA, A POESIA, SE PERPETUARÁ.
ACHEI LINDO.
ABRÇS
https://zilanicelia.blogspot.com/
As palavras afasta-se o pó que se acumula e a poesia desenha-se novamente nas memórias... Respira connosco...
ResponderEliminarObrigada pela partilha do poema de Manuel António Pina (gosto muito).
Beijos e abraços
Marta
um verdadeiro "alquimista da Palavra", caro Agostinho!
ResponderEliminarleio e releio o teu belo Poema e lanço-me na descoberta
dos seus horizontes, balbuciando a cada passo a sua expressividade
para logo me perder na sua profundidade e nas veredas de meu próprio
caminhar...
e, no entanto, a luminosidade do poema, prende-me sem remissão,
na sua beleza formal a na autenticidade do teu universo poético
forte abraço
Meu caro Agostinhamigo
ResponderEliminarCada vez que te leio fico a ruminar as palavras, as frases, as estrofes, os conceitos, tudo, ainda que não o não mereças porque não me ligas patavina😢
És um génio da Poesia, onde pões um verso pões inspiração sem peias , sem entraves, à rédea solta, cavalgando a vida, destelhando o ser, desagregando o infinito. Tu és o imaterial desmaterializado, o ecrã sem tela, o quadro sem moldura sem tintas sem pincéis mas com arco-iris num mar alto de folha de pauta. És incrível e inultrapassável. És tudo e és nada. Ponto final. Parágrafo.
Um abração deste teu amigo e admirador
Henrique, o Leãozão
Já está publicado na Nossa Travessa mais um episódio da saga VIVER COM UM IRMÃO PORTADOR DA SÍNDROME DE DOWN que desta feita leva o título de O Super Frederico, Nele o nosso herói desdobra-se em actividades diversas face a mais uma situação muito difícil: a irmão dele Leonor caiu na teia demoníaca da droga, E ele, sozinho, vai resolvendo a par e passo os múltiplos problemas que tem pela frente!
Até o que achamos que nunca vai virar pó,
ResponderEliminarde uma hora para outra desaparece.
Sempre com poemas interessantes.
Boa entrada de mês de outubro.
Olá, Agostinho, uma folha em branco é prazer, mas dúvidas e desassossego. Mas poetas e escritores em geral, por princípio, arcam com essa carga emocional inicial, depois tudo entra no ‘tranco’ natural, onde se espera ideias e sentimentos que brotam mais facilmente do fundo da alma. O encontro do rumo. E está finda a obra criativa, linda que toca a cada um de nós de uma maneira especial. E quando agrada, a recompensa é plena! Belo poema, gostei muito!
ResponderEliminarUm bom fim de semana pra você.
bjus
'Ouro imaterial nasce na memória
preservada pela dura-mater,
- patine amadurada do tempo -
no miolo da urbe, no miolo da gente.
E no meio a mesa, cadeiras em volta,
onde o branco vazio da folha espera
o jorrar inapagável da tinta luminescente'.
A construção poética nunca é fácil.
ResponderEliminarE é mesmo o miolo que importa...
Grande poema, os meus aplausos.
Caro Agostinho, um bom fim de semana.
Abraço.
Bom dia, a palavra é a morte do pensamento, assim, quando as prenunciamos o pó acumulado alivia a alma, o poema é fantástico.
ResponderEliminarBoa semana,
AG
A beleza simples da vida_ é o miolo Agostinho
ResponderEliminarSempre admirando a forma de expressão traduzida sabiamente,como só os poetas conseguem.
Meu abraço
Como eu gosto deste jogo de palavras!
ResponderEliminarE como gostei deste poema!
Quando for grande quero fazer coisas tão belas quanto esta...
Não sou poetisa, apenas rabisco uns versos de quando em quando. Será por isso que sinto uma invejazinha, tipo "ratinho no estômago" 😊 por não saber escrever assim???
Bom Fim-de-semana
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
A beleza da poesia está mesmo no miolo...
ResponderEliminarBoa semana
Pina a inspirar um belíssimo poema!
ResponderEliminarBeijinhos, Agostinho :)
Olá Agostinho,
ResponderEliminarSempre fico sensibilizada na leitura da tua poética,
como me encanta este teu caminhar com as palavras,
elas sempre proporcionam um experiencial neste
sentir humano, que localiza as feridas, dores e
beleza no talento do poeta que nos oferece
sempre a arte no espaço original, que desnuda
a superficialidade, encantador esta profundidade
da tua poética.
Votos de um final de semana na paz e harmonia!
Bjos, grande poeta.
Os poetas nunca morrem. Eternizam-se nos seus poemas.
ResponderEliminar(Espero que estejas bem!)
Beijinhos, Agostinho :)
Agostinho, meu amigo! Boa tarde!
ResponderEliminarTalvez dos maiores poetas que já li e senti por esta blogosfera. Bravo! Por aqui tudo simples, limpo e grandioso, como poucos.
Obrigado pelas tuas palavras no meu blog, sobre o meu aniversário. Desejo a você felicidade e saúde!
Espero encontrá-lo com ótima saúde.
Um beijinho do outro lado do atlântico.
A grandeza de um poeta supera - se na sua poesia . Mas quando para além da beleza , há o abismo das ondas que nos enrolam em
ResponderEliminarprelúdios neuronais , ruminando nas folhas brancas
Tão belo, Agostinho !
Beijinho
Até a pedra se torna poesia.
ResponderEliminarUm poema... magistralmente edificado, Agostinho!...
ResponderEliminarMuito bem alicerçado... em pura e eterna poesia, usando as suas inspiradas palavras...
Parabéns, por este post admirável, Agostinho, em todas as suas vertentes!...
Beijinho
Ana