(...) A cabeça ficara marcada, invisível, mas quando me deitava de costas, na escuridão, sentia uma queimadura na têmpora, a crosta fervendo por baixo, da nuca à testa. Interpretava-a como uma cicatriz que me acompanharia até à morte, o emblema de uma guerra assombrosa de que já esquecera os pormenores e o sentido. (...)
Herberto Hélder, Servidões
http://rr.sapo.pt/noticia/95895/ |
As dunas a esmorecer de pele nua
perderam o viço a urze e o feto,
os grãos de areia crescem em deserto.
Rugoso o rosto sentinela não sua
resina e o filtro verde - o nosso amparo -
jaz mirrado em cinza, reparo.
A nortada desmedida tomará posse,
como bárbaro huno o espaço,
sem piedade.
No Inverno virá a capital pena,
incomutável na memória, a cena
dos homens-espectros sem tempo, a morrer,
com saudades dum Pinhal por nascer.
Sem piedade.
hajota
Sem piedade.
hajota
Quem dera, o homem, tomasse juízo e um pinhal plantasse, mas olho ao meu redor e só vejo eucaliptos alinhados, como pelotão pronto a avançar, sobre as casas, sobre os animais, sobre os homens, ou em contraponto, para a fábrica de celulose, mais ou menos próxima.
ResponderEliminarQue saudade dum pinhal a nascer, ou um qualquer plantio autóctone.
Poema sentido com uma imagem muito triste!
ResponderEliminarBeijo e um excelente dia!
A desilusão...a perda... o desespero... um deserto...
ResponderEliminarInteressante...
Beijos e abraços
Marta
Parece-me o "meu" antigo pinhal....
ResponderEliminarNu e triste por causa do homem...
As ausências são sempre dolorosas,
ResponderEliminarmas que são barbaramente provocadas,
deixam mais do que dor, deixam revolta e uma profunda amargura.
Beijos, Poeta!
Muito bom!!!
ResponderEliminarExcelente a metáfora. Certeiras as imagens. E duras.
Muito bom!
As palavras e as imagens evocam memórias que arrepiam.
ResponderEliminarAquele abraço, bfds
O fogo impiedoso levou o pinhal que era nosso há tanto tempo. Impossível não sentir o seu poema como um grito de dor, de saudade. Esse pinhal do qual Fernando Pessoa falou, como só ele sabia:
ResponderEliminar"E a fala dos pinhais, marulho obscuro,
É o som presente desse mar futuro,
É a voz da terra ansiando pelo mar"...
E o poeta falava do "plantador de naus a haver" premonitoriamente… Agora a madeira ardida, as cinzas, as areias… Somos mesmo habitantes desleixados deste planeta que é nosso.
Obrigada, meu Amigo Agostinho, por este poema tão reflexivo e sentido.
Um bom fim de semana.
Um beijo.
Somos os guardiões de coisa nenhuma. Infelizmente a mancha verde, e a esperança da nossa bolinha azul, está a desaparecer a olhos vistos, e que assusta. Muito bonito este poema que é um grito de revolta também. Um beijo Agostinho.
ResponderEliminarTambem me doi tudo
ResponderEliminarAbraço
não sei por que inesperados caprichos de associação de ideias o teu belo
ResponderEliminare desolado poema traz-me à memória a conhecida "Cantiga de amigo" do nosso Rei Trovador
que semeou, como sabemos, o pinhal de Leiria
- "Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo
Ai Deus, e u é?"
e perante a angústia do poeta, apenas o "impiedoso" silêncio -
como cinza fria, depois do fogo.
um poema admirável. a todos os títulos.
abraço, caro amigo Agostinho
Bom dia, Agostinho
ResponderEliminarRegressei de férias e, aos poucos, de acordo com as possibilidades de tempo, irei visitando e assim agradecendo, a todos que me visitaram na minha ausência, o que faço seguindo a ordem cronológica dos comentários.
Obrigada!
Uma dor profunda nos corrói ao ver imagens como estas e palavras tão duras e certeiras.
O Inverno está a aparecer... e o pinhal não se vê nascer.
E o "predador mor" continua, impávido e sereno.
Aproveito para lembrar que no passado dia 1/9 publiquei o 3º. Capítulo de “SEGREDOS”, e no próximo dia 1/10 será publicado o 4º.
Bom Fim-de-semana
Beijinhos
MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS
ResponderEliminarFicará uma Cicatriz perpétua dum desastre cruel.
Abraço
"As dunas a esmorecer de pele nua
ResponderEliminarperderam o viço a urze e o feto,
os grãos de areia crescem em deserto"
Há muitas leituras que não encontrava tão bela imagem, mesmo que de desolação e morte...
Obrigado, Agostinho, por mais este momento!
E, a propósito: onde os culpados?
Palavras brilhantes, e sentidas... para assinalar a perda irreparável... do pinhal... e do país... que sucumbe a esta teia de interesses, por detrás desta indústria do fogo...
ResponderEliminarE fica-nos esta revolta... que nos queima por dentro... e um triste legado, para as gerações futuras... cinzas... eucaliptos... e construção desordenada... mas permitida, em muitas das áreas queimadas...
Adorei este poema tão sentido e assertivo!
Beijinho
Ana