terça-feira, 21 de agosto de 2018

Saudades de ninho

   



 Alexandre O'Neill
19dez1924 - 21ago1986

                *

Oh, O'Neill!
inventor da palavra
certa a cada lavra.
Pintou o caneco de caras
e de perfil.

hajota





The Palace at 4 A.M., Alberto Giacometti /
 http://simulacrum-pedrocamposrosado.blogspot.com/ de Campos Rosado






Por entre o assobio e a sílaba
soprada, nos ramos do valado 
pousada a revoada agita-se 
num espanejamento de penas
sobrantes dos gelos que ficaram
das longas noites de cavaqueira.

Levanta voo e segue pistas rumo ao  sol:
recoze a crosta das feridas dos barros
esparramada entre a areia e o mar,
debica maresias de iodo e sal.
Mas já se pressente no ar 
o enfado saturado do calor, e o desejo 
do planear ancestral da renovação. 
O ano começa no equinócio, 
não no solstício!

Tomara que cheguem os dias
húmidos de botas cravadas na lama
e se inundem os caminhos primevos
onde suspiram perfumes
de musgo e terra molhada,
enfim libertos de aerossóis.

hajota

22 comentários:

  1. O mote para renascermos também...
    Beijos e abraços
    Marta

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  2. Postagem belíssima. Poema excelente!!

    Beijo e um excelente dia!

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  3. Olá! Gostei muito da forma como liga as palavras e os sentidos. Excelente forma de escrita! Parabéns!
    Um beijinho e Luz*

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  4. A beleza de sempre nos escritos por aqui, Agostinho.
    Aquele abraço

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  5. Um ninho: o aconchego inesperado que as aves constroem para nascerem quantas vezes é preciso… E vão repousar nos olhos do Poeta para quem "O ano começa no equinócio, não no solstício!". É então que as sílabas trazem o cheiro da terra molhada e das ervas, como um sopro perfumado. Apesar de tudo e de nada…
    Gostei, meu Amigo Agostinho, do seu poema.
    Um beijo.

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  6. Olá Agostinho,

    Agradeço a sua presença atenciosa com as leituras e
    os seus comentários no meu blog.

    Estou ainda nestes passos lentos da pouca disponibilidade
    de tempo para o meu espaço e nas visitas dos espaços amigos.

    Aprecio este seu espaço, em que as palavras têm um caminhar tão
    repleto de vida; a vida nos polos positivos e negativos,
    luz e sombra, ninho (casa) e liberdade, com as estações
    fazendo percursos interiores e nada como a casa poesia
    para pintar a vida.

    Dias felizes!
    Bjs.

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  7. Tão lindo lê-lo poeta. Um grande abraço Agostinho.

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  8. Nem que assobiar
    eu soubera
    saberia entoar
    a melodia certa
    para definir
    tão belos gorjeios

    estes seus,
    que acertam sempre
    em cheio
    neste meu humilde
    enleio…

    Beijos, Poeta Agostinho.

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  9. "... caminhos primevos onde suspiram perfumes de musgo e terra molhada, enfim libertos de aerossóis."
    Do excelente poema, retirei a parte final, porque é de ouro... Parabéns por tanta inspiração.
    Caro Agostinho, um bom fim de semana.
    Abraço.

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  10. E ninho na voz do poeta
    fica sempre mais completo
    excelente como sempre...
    beijinhos

    :)

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  11. Versos bem cinzelados, palavras certeiras, um fio condutor, nem sempre fácil de deslindar...
    Entre o aconchego do ninho e a aventura do ar, uma latente e contida angústia... Assim é viver...

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  12. Faltou escrever o mais importante:
    Este teu Poema, Agostinho, é belo entre os mais belos!

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  13. aerossóis e perfumes rasca é o que não faltam nestes dias de prazeres efémeros...
    encharcados de hiper-modernidade...

    há alguns que tentam resistir. por isso tenho (quase) sempre gosto em ler-te.

    forte abraço, caro Agostinho

    espero que continues a distinguir-me com tua presença e comentarios no meu blog

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  14. Também sinto "saudades de ninho". "Tomara que cheguem os dias..."
    Pela insatisfação inata, desejamos muitas vezes o que não temos: uns segundos de chuva, uns raios de sol, uns minutos de paz...também eu tomara, desejava, queria mesmo, mas...um dia bom, outro assim assim, melhor mesmo é sorver o sol ou a chuva de cada um!
    Beijinho grande

    PS: Ver facebook...

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  15. Passei para ver as novidades. Mas gostei de reler este excelente poema.
    Caro Agostinho, aproveito para lhe desejar um bom fim de semana.
    Abraço.

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  16. Aqui, Agostinho, cortejando sua bela poesia, cortejando a sua palavra essencial ao falar dessa "palpitacão do espírito", porque verdadeiramente aqui se fala a língua dos poetas, "onde suspiram perfumes de musgo e terra molhada..."
    Um forte abraço, caro amigo!

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  17. Hajota
    Eu adorei a poesia e a
    fantástica construção que
    nos leva ao final da linha para
    começar a ler.
    Eu amo textos envolventes.
    Bjins
    CatiahoAlc.

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  18. Foi um prazer lê-lo novamente...
    Vivo numa região em que os aerossóis são mormente abundantes...
    Não é terra de aromas de musgo... ansiamos pelo cheiro a mar puro...
    Tudo pelo melhor.
    Terno abraço.
    ~~~

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  19. Meu caro Agostinhamigo II

    Mau, mau Agostinhamigo uso a receita a multiplicar por dois que enderecei ao outro xará que também não me liga peva deste o terciário inferior mais coisa menos coisa (porra! diz o roto ao nu...)

    Entretanto a forma de te dizer o quanto gostei do teu poema (aliás como sempre) é transcrever o final dele:

    Tomara que cheguem os dias
    húmidos de botas cravadas na lama
    e se inundem os caminhos primevos
    onde suspiram perfumes
    de musgo e terra molhada,
    enfim libertos de aerossóis.


    E por aqui me fico.

    Um abração deste teu amigo e admirador Henrique, o Leãozão (Agora com o Varandas ninguém nos apanha!!!)

    INFORMAÇÃO
    Já está postado na Nossa Travessa um novo textículo deste feita inócuo, portanto sem qualquer tipo de provocação, de agressão erótica ou de imagem chocante, enfim próprio para todas as idades, sexos, profissões e até religiosos, agnósticos e ateus. Tem características internacionalistas e o seu título é AS PRIMAS DE MONTREAL mas não precisa de tradução para os comentários que se aguardam.

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  20. Maravilhosa esta inspiração, com cheiro a terra molhada... e a eternos recomeços... nesta nossa permanente caminhada...
    Mais um belíssimo momento poético, Agostinho! Parabéns!
    Beijinho
    Ana

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