Atrás dum copo
de bagaço
de roupa escassa
e esgarça
gelada gente ficava esquecida
no café refúgio da esquina
adiando o esquálido conforto das frias casas
mais frias do que as pedras
da calçada negra branca
Isto naquele
tempo pardo cinzento
E ainda hoje
apesar das metáforas
pintadas às cores
Como a mulher de
blusa azul celeste
de eterna
bandolete a cingir-lhe
na iminência dum número de palhaços
na iminência dum número de palhaços
a fronte pintada
pronta
na mesa do café:
chávena pires colher
num monólogo mudo
todo o dia
Que barco de
mulher esconde
encalhada na
ilusão das triviais revistas
de trás para a
frente da frente para trás
a folhear a
subtração irremediável do tempo
segundo a
segundo tic-tac tic-tac
num relógio sem
ponteiros
Hoje como ontem
hesitações de toutinegra
no galho nervosa
em flexões de pernas
indecisa no
regresso ao lugar de pernoita
por saber de cor
a côr do frio
o som do quebrar
de cristais
de cálcio das
artroses futuras
Ainda hoje
apesar das metáforas
com que nos pintam a vida
hajota
"...na iminência dum número de palhaços"
ResponderEliminaros versos necessários
O hoje e ontem confundem-se tantas vezes.
ResponderEliminarBeijos, Agostinho. :)
* e o ontem
ResponderEliminarAgostinhamigo
ResponderEliminarExcelente poema; tão bom que até me doeu qualquer coisa quando o li. És um POETA vivo; dos mortos que fingem ser vivos estamos fartos. Ainda hoje apesar das metáforas
com que nos pintam a vida Poizé, as metáforas com que nos roubam, violam, expulsam as ideias... Isto há-de ter um fim. Quando?
Abç do Leãozão
Nunca mais foste à TRAVESSA... Chateaste-te?
O ambiente do poema fez-me recordar o ambiente da Inglaterra da Revolução Industrial.
ResponderEliminarO cenário do meu actual livro de cabeceira - "Uma Fortuna Perigosa" de Ken Follet.
Aquele abraço, boa semana
Ainda hoje continua tudo sombrio... Custa, cansa, é uma dor para a qual não há nome...
ResponderEliminarCada palavra... é um grito....Adorei...
Beijos e abraços
Marta
Ainda hoje, amigo Agostinho, ainda hoje fica no ar a inteira denúncia de solidões próximas de nós. O peso do mundo está a mudar a identidade dos sonhos. E é tão arriscado adivinhar o futuro da nossa esperança...
ResponderEliminarUm poema belíssimo. Para ler e reler. E para pensar.
Um beijo.
Bela urdidura poética para uma estória transversal e tornada banal.
ResponderEliminarEsse licor de poesia apura-se mais e mais...
ainda hoje e quanto tempo mais...
ResponderEliminarconsegues "brincar" com as palavras com temas actuais e que doem.
muito bom!
beijo
:)
ainda hoje... " Luísa sobe/sobe que sobe/sobe a calçada...."
ResponderEliminarexcelente. a poesia é também denúncia. e arma.
abraço
~~~
ResponderEliminar~ Ainda hoje, para alguns, é impossível fazer o aquecimento das casas...
~ Retratos inteligentes, realistas e intemporais dos esquecidos da sorte...
~~~~~~~~~~ A poesia cumprindo uma das suas funções. ~~~~~~~~~~~
~~~ Abraço, Poeta amigo. ~~~
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Todos temos um ainda hoje... para recordar...
ResponderEliminarBelo poema.
Bom final de semana.
Na verdade
ResponderEliminarhá metáforas que se pintam
em carne viva
Nem todos sabem ler as metáforas da vida.
ResponderEliminarBeijinhos
Encontro-me de férias na Escócia, neste momento em Turso, a dois passos do Mar do Norte, onde o acesso à Net (e à civilização dum modo geral ) é bastante difícil.
ResponderEliminarQuando regressar a Bagno a Ripoli, o que deverá ser em finais de Setembro, visitarei todos os blogs amigos.
Até lá desejo-te tudo de bom e dias muito felizes.
Um abraço
MIGUEL / ÉS A MINHA DEUSA
.
ResponderEliminar.
. ainda hoje . a "viagem" cavalga . pardacenta . :( .
.
. um abraço meu .
.
.
Também gostava de escrever assim...
ResponderEliminarMuito bem!
Sabia que não passava por aqui há algum tempo, mas não tanto. Já pus "a escrita/leitura em dia", todavia.
ResponderEliminar"Bocadinhos" de poema, que parecem estar, à primeira vista, desligados uns dos outros, mas não estão, em minha opinião, e que revelam muito talento, muito, adicionado ao desalento dos olhares críticos, que não deixam de ser verdade, para além da "exagerada" racionalidade.
A mulher, aquela gente adiada e esgarçada, com as patologias inerentes ao contexto socioeconómico e temporal precisa, continua a precisar e até de acreditar em metáforas multicolores, porque lhe permitem continuar a sonhar.
Ora, não venha o poeta, "tirar-lhes" essa cor, essa luz e essa possibilidade de sonho!
Bom domingo!
Continuamos os mesmos, apesar dos pesares.
ResponderEliminarUm poema que dói de tão belo.
Beijo.
OI AGOSTINHO!
ResponderEliminarNA ANGUSTIANTE PASSAGEM DO TEMPO,BEM DITA, EM METÁFORAS, PINTADAS.
ACHEI LINDO.
ABRÇS
-http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Olá Agostinho,
ResponderEliminarAinda hoje uma necessidade da alienação ao preto e branco do real e um colorir
pelo averso de uma beleza fabricada.
Mas, é a vida no preto e branco que existem todas as cores da beleza do "agora",
nas simplicidades moram as belas metáforas ontem, hoje , amanhã do
essencial navegando pela solidão...
Sempre fico feliz quando encontro um espaço de arte poética assim...
Uma preciosidade irrecusável!
Grata por passar aqui.
Vim aqui através deste mar poético (poetas) em comum...
Grande abraço, Poeta (grandioso)!
Há metáforas que beijam a brisa das palavras.
ResponderEliminarUm abraço
Boa tarde, as metáforas da vida são complicadas, penso que a maioria das pessoas onde me inclui, não se apercebem ou não decifram as mesmas.
ResponderEliminarAG
Bom domingo!
ResponderEliminarBoa semana cheia de inspiração.
Abraço e beijo
:)