segunda-feira, 6 de abril de 2015

Cura


woman with eyes closed - lucian freud
Tinha cerradas as janelas
sempre como se noite fosse
dizia que o sol tinha dono
nada sobrava para elas

Todas as luzes apagadas
como se fossem pedras cegas
negras luas novas pintadas
no pó d' areia do deserto

Sem telhado fria indefesa
em casa morava alagada
a chuva miudinha teimava
toldar-lhe o resto da beleza

Com a mão direita espalmada
percorri-a de cima a baixo   
com um beijo quente colei-lhe
a conta que estava quebrada

Chocalhou inocência oculta
com o contágio dum sorriso
abriu-se em febre franca e pura
o sol nasceu no som do riso


hajota

20 comentários:

  1. Aqui está um retrato de Freud que não conhecia. A pintura dele é sempre tão macabra, mas este não, e liga muito bem com o poema.
    Boa tarde e uma excelente semana. :))

    ResponderEliminar
  2. a imagem foi bem escolhida, assim como as palavras que compõem este poema perfeito...

    :)

    ResponderEliminar
  3. Há "milagres" simples de explicar

    Belo

    ResponderEliminar
  4. O Sol devia nascer sempre com o som do riso....
    Lindo....
    Obrigada pela visita
    Beijos e abraços
    Marta

    ResponderEliminar
  5. Só à segunda leitura entrei no âmago do poema, que comecei por achar arrevesado...
    Depois, descobri nele uma beleza e forma que não seria fácil encontrar em muitos poetas consagrados...

    "Todas as luzes apagadas
    como se fossem pedras cegas
    negras luas novas pintadas
    no pó d'areia do deserto"

    ResponderEliminar
  6. A cura se dá pela leitura de poemas com muita beleza.
    Janelas se abrem,mesmo que temporariamente.
    Achei lindo!

    ResponderEliminar
  7. Nem sempre as pessoas são lugares sombrios. Um dia recupera-se alguma da inocência perdida e a luz volta como se fosse a primeira nascente, o primeiro desejo...
    Um beijo, meu amigo.

    ResponderEliminar
  8. Boa tarde, o lindo é poema bem acompanhado com a bela imagem é como sol que nos ilumina.
    AG

    ResponderEliminar
  9. Mais um mimo do Agostinho para todos nós

    ResponderEliminar
  10. Um poema perfeito, valorizado(?) - não, acompanhado! pela imagem que não podia ser mais adequada.

    Óptimo fim de semana.
    Um abraço
    MIGUEL / ÉS A MINHA DEUSA

    ResponderEliminar
  11. Se existem poemas perfeitos, este é um deles.
    Há sempre um raiozinho de sol para alegrar uma janela e afastar a chuva que, tantas vezes, oculta a beleza da inocência, até ao nascer do sol...

    Respondendo: Sim, estou escrevendo o meu segundo livro, mas não vai tão rápido como eu gostaria... Ainda assim, vou ver se consigo entregá-lo na Editora antes do Verão.

    Beijinhos
    MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS



    ResponderEliminar
  12. ~
    ~ ~ O amor pode, realmente, operar milagres...

    ~ Não só na recuperação do equilíbrio psíquico...

    ~ ~ ~ Um poema belo e muito expressivo. ~ ~ ~

    ~~~~~~Bom fim de semana, Agostinho.~~~~~~

    ~~~~~~~~~Abraço.~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
    ~ ~ ~

    ResponderEliminar
  13. O sol está no coração...

    ResponderEliminar
  14. uma boa acção - dar alimento a quem tem fome...

    ResponderEliminar
  15. As mãos, quando carinhosas, à mistura com beijos, curam mesmo.

    beijos, Agostinho. :)

    ResponderEliminar
  16. OI AGOSTINHO!
    PERFEITO, EMOCIONANTE.
    ESTIVE AFASTADA DA NET, DAI, NÃO TER APARECIDO, PRIMEIRO POR PROBLEMA DE SAÚDE, DEPOIS PELA QUEIMA DE MEU HD, AINDA BEM QUE JÁ ESTÁ TUDO SOLUCIONADO.
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

    ResponderEliminar
  17. Um beijo de arco íris. Um lindo e iluminado poema Agostinho. Penso: que lírica doce e suave compõe um poeta igualmente crítico e político. Um privilégio te seguir. Beijo

    ResponderEliminar
  18. Tão bem que escreves meu cota. Soube-me tão bem ler ;)

    ResponderEliminar