"Através dos vidros, as coisas fugiam para trás.
As casas, as pontes, as serras, as aldeias, as árvores
e os rios fugiam e pareciam devorados sucessivamente."
Sophia de Mello Breyner Adersen, contos exemplares, a viagem
imagem obtida na web |
Com o dia a prometer mar
fiz favas ontem
Bem temperadas e a adornar
chouriço entrecosto em pedaços
e ovo escalfado em cima:
gostosas que estavam
Fiz favas e de repente
caiu em mim uma estranheza:
em frente o vazio da cadeira
Tu nem gostas delas
mas entretanto conversavas
Bem sei que te foste
e agora moras na oliveira
a mais rugosa
como o rosto que o tempo esculpiu
como o rosto que o tempo esculpiu
na tua história toda inteira
na mais centenária do quintal
serenamente a dar
desde o dia que a foste encarnar
desde o dia que a foste encarnar
sem aflições nem taquicardia
a bruxuleante luz que me guia
hajota
A comida é conforto, é gosto e no sabor lento dos sentidos, damo-nos conta que fazemos poemas surpreendentes às memórias e aos afectos.
ResponderEliminarAbç
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ResponderEliminar~~~ Sento-me ao lado do/a ausente...
~ Gosto de favas,
mas não confecionadas dessa maneira...
~ Um poema de saudade, muito original. ~
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~~~~~ Dias agradáveis, bem vividos. ~~~~~
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A saudade que nos abraça... O cheiro, o dia, a paisagem... Tudo acorda em nós memórias...
ResponderEliminarLindo...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta
Acredito que passamos a fazer parte da natureza, das árvores...
ResponderEliminarGostei muito do poema...
Beijinhos :)
E ali, porém, na cadeira aparentemente vazia, sorri, e franze o nariz perante o cheiro a favas.
ResponderEliminarBeijos, Agostinho. :)
Achei lindíssima a metamorfose proposta. Julgo que as árvores é a melhor forma onde encarnar.
ResponderEliminarSão belas, imponentes e têm a sua própria linguagem.
Gosto de favas mas nunca comi com ovo escalfado.
As memórias são continuidade.
Um abraço. :))
adoro a maneira como consegue colocar tanta originalidade na sua poesia.
ResponderEliminarcomo o simples confeccionar um petisco de favas(detesto favas) o autor envereda pelo caminho da saudade de alguém que se foi e no entanto está ali, presente na oliveira que "mora" no quintal.
gostei muito!
:)
forte abraço
ResponderEliminarTenho saudades de comer favas.
ResponderEliminarQuem diria que tal alimento é poético.
Bravo, Agostinho!
Beijo
As favas como pretexto para um poema de ausência e saudade. Um silêncio com destinatário...
ResponderEliminarUm beijo, meu amigo.