Para eles o presente era um prazo
ilimitado de disponibilidade,
suspensão e escolha.
Não calculavam o futuro -
- apenas, vagamente, o esperavam.
Sophia de Melo Breyner Andersen,
Contos exemplares - A praia
Imagem Pedro Ferreira |
Hoje o vento veio desgrenhar
as claras águas da manhã
e o som lascado das vagas
prenuncia delírios de moleirinha
Um oleoso odor eleva-se no ar
do fundo do tempo
porque há vento
A obesidade sedentária acumulada
na inutilidade dos dias derrete
conspurcando a pureza da natureza
O cúmulo da sonolência
multiplica-se por contágio
de gente que antes de o ser
já era
no campo de batalha
pejado de abatises
Não obstante
apesar de morta
como gaivotas em grupos
aninhada há gente nova à porta
e uma promessa de azul
para amanhã
nova vaga virá renovar o areal
Se para uns um tormento
o vento
a mim dá-me vela cheia
e percorro a lua
com um campo na ideia
de rubras papoulas
É assim que me entrego pleno
ao abraço de mar
que me lava e leva
me eleva e afunda
em ondas
duma cabeleira por explicar
O vermelho aparece
e afinal árvore cresce
faço-lhe um lenho
com a faca que tenho
e as marés mantém-me à tona
em ondulações
da seiva jorra luz
hajota
E como é bom, sentir o vento a fustigar-nos o corpo, e despentear-nos o cabelo, a fazer o mar encrespar-se...
ResponderEliminarMuito belo, o poema!
Beijinhos, Agostinho. :)
Os poetas sabem sempre
ResponderEliminaro que fazer do vento
e do vermelho
(bonito, isto!)
E apanha-se o sentido da vida....
ResponderEliminarUma beleza... Gostei muito...
Beijos e abraços
Marta
'E cada qual no seu canto
ResponderEliminare em cada canto uma dor'...
_ belissímo Agostinho
muitos abraços
Agostinho,
ResponderEliminarMuito boa esta descrição poética.
Parabéns.:))
Bom dia!
A fotografia é excelente acompanha muito bem a poesia.
ResponderEliminarBom dia. :))
~ ~ ~
ResponderEliminar~ Sol nascente, vento, mar encapelado, gente que sobreviveu a uma batalha,
novas gerações prestes a renovar o potencial humano dum recanto marítimo...
~ Finalmente, uma viagem fascinante do eu poético, enfunado pelo vento, tal
Neptuno impetuoso e inconformado...
~~ Um poema imagético em que domina o fantástico com nuances místicas
e mágicas, inspirado na força dos elementos da natureza.
~~~~~ Um poema diferente, original e agradável ~~~~~
~~~~~~~~~ Abraço amigo. ~~~~~~~~~~~~~~~~~~
~ ~ ~ ~ ~
O mar. O vento. O verão. O tempo de reaprendermos a harmonia e abrirmos de par em par os sentidos. Acho que o poema me diz que é isso que o poeta faz...
ResponderEliminarUm beijo, meu amigo Agostinho.
Este poema fala de tudo o que eu gosto. O mar. A praia.O vento (que seja na cabeleira) e tudo o mais que lembra, verão, férias e vida!
ResponderEliminargosto! gosto! gosto!
bom fim de semana.
beijos
:)
Nada como uma praia de lua para o sonho nos invadir.
ResponderEliminarBeijos
Agostinhamigo
ResponderEliminarPerfeito: a foto é excelente; o texto é fabulástico; que bela conjugação do verbo praiar (inventei mais uma palavra...) Não resisto e transcrevo
O cúmulo da sonolência
multiplica-se por contágio
de gente que antes de o ser
já era
no campo de batalha
pejado de abatises
Não obstante
apesar de morta
como gaivotas em grupos
aninhada há gente nova à porta
e uma promessa de azul
para amanhã
nova vaga virá renovar o areal
Rapaz - és um Poeta com caixa alta.
Abç do alfacinha
Abandonaste a TRAVESSA; abandonaste-me. Porquê? Insultei-te? Ofendi-te? Disse mal de ti? Tenho a certeza de que não! Volta, amigo, que estás perdoado... :-)))))
uma refrescante aragem poética que por aqui se respira...
ResponderEliminarabraço
Hoje numa visita rápida inesperada estou aqui
ResponderEliminarnesse dia consagrado aos amigos.
Sei já esta no final do dia ,
mas vou continuar até amanhã .
Um amigo de verdade é para eternidade,
por tanto todo dia é Dia do Amigo Leal.
Venho te deixar um abraço muito especial
mesmo um pouco em falta nos últimos tempos.
Mas logo espero estar retornando .
Hoje é especial.
Um feliz dia do Amigo.
Amizade é tudo mas a palavra amigo tem peso pesado.
Um beijo e uma semana abençoada.
Fica com Deus.
Nem todos os delírios se transformam num belo poema como este.
ResponderEliminarQue, na "promessa de azul para amanhã" exista sempre a esperança.
Abç
Por buracos na rede do Blogger o comentário de Sincera_mente perdeu-se nas profundezas marianas do pacífico oceano. Recupero-o do meu e_mail:
ResponderEliminar«Que aroma intenso se desprende desses versos!
"Um oleoso olor eleva-se no ar"
Foste atingido em cheio pelo hálito perfumado da Musa
"que te eleveou e afundou
em ondas
de uma cabeleira por explicar..."»
Obrigado Hajota, fecundo em recursos, não apenas líricos ou poéticos!
EliminarÀs vezes surgem de Levante cibernético uns ventos estranhos, que banem do nosso campo de visão as palavras por vezes tão laboriosamente alinhavadas"...