Andei arredado destas lides por motivo de saúde.
Visitei durante este período conturbado alguns dos amigos, mas sem ânimo. Sem rumo nem consistência. Não houve da minha parte intenção de discriminar ninguém. Muito grato a todos.
Para desanuviar trago aqui um pequeno texto (prosa) que é parte de estórias da adolescência.
Imagem Pintrest |
Regalavam-se
de costados ao sol, como se fossem príncipes nas praias da Côte d’Azur, a gozar
em plenitude os favores que Deus lhes havia concedido. As horas de torreira
eram aproveitadas para aquecerem o sangue e suprirem carências de vitamina D
que tanta falta faz para suportar com otimismo e elegância o inverno, do ano e o derradeiro, no tempo futuro: o
calorzinho mantem o metabolismo em perfeito funcionamento de modo que artrites,
artroses, osteoporose e outras maleitas de ossos nem vê-las. E a corzinha da
pele? Um encanto, quando é hora de se mostrar a timidez é coisa que se evapora.
Eram as
cores resplandecentes que atraiam a malta que de maneira nenhuma podia
desperdiçar a opulência nas horas de canícula, de mormente depois de almoço.
Azuis, vermelhos, amarelos e verdes um apelo irrecusável.
Quem vai para
o mar aparelha-se em terra, reza o adágio popular, ninguém ia de mãos a abanar,
sem que fosse equipado a preceito. A aproximação ao local de observação era
feita com as maiores cautelas para evitar que fosse desfeita a espontaneidade que
aqueles seres viviam. Se eles pressentissem algo em redor, o bulir de uma folha
pisada, o pigarro da emoção ou um passo mais pesado era a debandada geral,
acabava-se o espetáculo imediatamente.
Em pés de lã
a malta avançava numa cadência de metrómano, em câmara lenta, com uma
sincronização de movimentos precisa e decidida, como se cumprisse os tempos
duma coreografia: o lago dos cisnes em pontas. Quando a distância já reduzida
permitia confiança, a certeza de não se falhar o objetivo, à uma, em segundo
ato, todos empunhavam a arma de que dispunham, fosse uma simples pedra, uma
fisga ou mesmo uma pressão de ar. Em ordem, no terceiro ato, era o apontar e o clímax, a adrenalina no
máximo, e por fim a resolução no disparo simultâneo. Uma correria infernal, dos
caçadores e das presas, exceto dos caçados que jaziam por terra. É claro que as
vítimas eram depois arremessadas para longe daquele lugar. Não era sítio próprio
para aquela casta.
O muro do
cemitério era o local supremo para a caça de sardões.
hajota
Meu querido Amigo Agostinho, ainda bem que regressou. Espero que esteja recuperado. Desejo-lhe muita e boa saúde.
ResponderEliminarLi com grande interesse o seu texto, que me levou àquele tempo em que eu também estava horas ao sol a ver se ficava bronzeada... Gostei da caça aos sardões. Imagino a coreografia em câmara lenta, "o lago dos cisnes em pontas", os caçadores e as presas... Pareceu-me estar a ver uma cena dançada em absoluto silêncio. Imaginei todo aquele entusiasmo tão próprio da adolescência...
Um beijo, meu Amigo.
Tudo passa tão rápido como a adolescência. Exceto a palavra! Dias melhores para você!
ResponderEliminarAgostinho, meu querido, os escritos que vez em quando apanhamos lá atrás, principalmente na adolescência, são tesouros que devem ser partilhados, pois são fragmentos que contam uma trajetória de vida, lembranças gostosas de um tempo onde as travessuras faziam parte do cotidiano. Tive que recorrer ao Aurélio para saber o que eram os sardões. Estes lagartos sempre foram uma atração aos estilingues (ou bodoques) - acho que aí se chama cetra - nas mãos da criançada que se comprazia em usá-los. Doído era ver a molecada fazer pontaria nos passarinhos. Meus pais sempre a orientá-los para não o usarem nas delicadas avezinhas, mas determinados meninotes nunca deixaram de fazer pontaria para qualquer coisa que se movesse, principalmente se voasse.
ResponderEliminarLembranças, meu amigo, que a tua postagem agora me suscitou. Detalhada e bonita descrição dos momentos que antecediam à correria da meninada depois de atingir o alvo. Já estavam delineados ali os caminhos do Poeta e grande Escritor.
De passagem, agradeço as palavras sempre afetuosas no meu cantinho.
Tenho lá uma homenagem para minha cunhada Aninha, que me tem amparado nestes momentos difíceis que tenho passado.
Desejo, meu prezado amigo, que a tua saúde se restabeleça por completo, e que possas novamente encontrar nos teus belos poemas os momentos de prazer que, com toda a certeza, ponteiam a tua criação.
Meu carinho,
Helena
Para tudo é preciso paciência e tempo para conquistar....
ResponderEliminarInteressante a história... Gostei muito.
Espero que esteja melhor...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta
Seja bem regressado, Agostinho.
ResponderEliminarE que o restabelecimento total chegue rapidamente.
Precisamos destes seus textos.
Aquele abraço
Bem vindo Agostinho!
ResponderEliminarEspero que se restabeleça rapidamente.
A caça aos sardões? Ainda bem que nasci rapariga :))
Um bom reinício este texto tão bem escrito, que traz memórias do passado e a saudade.
Beijinhos
Brrrrr.... sardões, eu?! JAMÉ!!! Até me deu arrepios.... Mas os texto encaminhava-se para algo semelhante, não fui apanhada de surpresa...
ResponderEliminarApanhada de surpresa fui com essa saúde debilitada. Toca a recuperar rápido que bem preciso desses poemas lindos e perfeitos como um círculo que tanto gosto de vir aqui ler.
Beijinhos e ... get well soon...
ainda bem que está de regresso, pois sem discriminar ninguém há pessoas que fazem falta por aqui (blogesfera).
ResponderEliminaruma crónica muito interessante, que nos dá para imaginar a cena.
boas memórias, e escritas com a peculiaridade que lhe é conhecida.
beijo
:)
e rápidas melhoras... ;)
Gostei de voltar a apreciar o que escreve neste espaço.
ResponderEliminarÓtima recuperação.
Beijinhos.
~~~~~
Agostinho, meu querido, passando para desejar que o teu final de semana seja repleto de paz, alegria e muita saúde. Aqui, sempre torcendo pela tua felicidade.
ResponderEliminarUm beijo afetuoso do meu para o teu coração,
Helena
Bom regresso estimado poeta.
ResponderEliminarO seu texto recordou-me belos tempos da adolescência
No meu caso o cemitério junto do adro da igreja onde namorava
e só depois íamos apanhar caracóis para vender no café da aldeia
e assim comprarmos a entrada para o baile da filarmónica.
Abraço amigo
e tudo pelo melhor
Agostinho,
ResponderEliminarDesejo que esteja bem.
Gostei do seu texto, memórias da adolescência, brincar ao sol e à vida.:))
Beijinho e as melhoras.:))
Agostinho, desejo que recupere por completo a sua saúde e o seu ânimo.
ResponderEliminarA sua escrita é um balsamo para todos nós que temos o privilégio de o ler.
Este seu texto é delicioso, visualizei todos os pormenores como se fosse um filme.
Ah, como somos felizes naquela idade em que tudo nos é permitido.
As melhoras!
Um beijinho
Só há pouco num comentário do João Menéres, é que me apercebi do sério motivo da sua ausência, Agostinho... desejando que recupere o melhor possível... e certamente o pior já lá vai... e agora... recuperará muito bem!... Um amigo de família, passou por algo idêntico... e recuperou plenamente... há quase 20 anos atrás... hoje em dia, toma bem menos medicação, do que a minha mãe... e continua mesmo a sentir-se um jovem... contribuindo também as caminhadas, que faz com regularidade...
ResponderEliminarQuanto ao texto... com um final inesperado, e irreverente... de leitura imparável... com a assinatura inconfundível do Agostinho... achei formidável!!!!
De Côte d'Azur... a sardões... a prova, de que neste mundo... tudo está interligado, mesmo...
Adorei a interligação notável... de mundos tão diferentes! Todos os mundos e cores... têm mesmo o seu lugar no mundo... também no seu mundo, Agostinho...
Beijinho! Continuação de uma boa recuperação!
Ana
Querido amigo Agostinho, passando para ver se tinha uma nova postagem. Espero (e desejo) que estejas bem, em pleno restabelecimento da saúde.
ResponderEliminarMas enquanto tu não vens nos brindar com mais uma de tuas belas postagens, aqui fica meu carinho num beijo no teu coração.
Leninha
por ora, os sardões estão a hibernar, ou não, com este calor...
ResponderEliminartenho medo de lagartixas e de osgas, comem as moscas e são pacíficas, mas não consigo controlar
.
seja bem vindo, Agostinho!
um abraço
meu abraço, caro Agostinho
ResponderEliminartudo pelo melhor
Também tenho andado menos pela blogosfera e não me apercebi que esteve doente.
ResponderEliminarEspero que esteja bem e completamente recuperado:)
Uma boa semana:)
Espero que estejas bem Agostinho. Feliz pelo seu regresso.
ResponderEliminarEu, também, andei um pouco devagar pelas bandas da blogosfera. Trabalho extra e um pouco de afazeres domésticos, do tipo organizações necessárias e até uma pequena reforma na minha cozinha.
E, por aqui, mais um texto incrível, de um tempo tão movimentado e aquecido das nossas vidas, que é a adolescência.
Beijinho.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarUma óptima recuperação e que a mente vença qualquer doença.
ResponderEliminarUm abraço com ânimo.