egon_schiele (pintor), cego 1913 |
Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe d'asa...
Se ao menos eu permanecesse àquem...
Mário Sá-Carneiro, 1.ª estrofe de Quasi
(Na ausência da luz)
Há dedos sem pele a arengar
as marcas primevas, indomáveis,
ainda sem
identidade, ininteligíveis
Ficam as mãos enoveladas num
novelo
de linhas desconexas, inviáveis de
dobar,
pelos gestos imperceptíveis da
comoção
Invisíveis escorrem bagas
cordas no vazio
das vagas coisas por iniciar
Num orvalhar arrítmico de sístoles,
o esforço sobrenatural esgota-se
na sulfúrica composição que sobe
à boca, em silêncio, sem ar de
respirar,
e o pressentimento bicho desperta
o medo que se enrola no âmago do
ser
No gutural ensaio grunhido vacila
o bafo no arredondar da forma do
fonema
Não há tecla que defina o claro e
a cor,
os restos de arco-íris e os
relâmpagos da criação
O probiótico da palavra arrota sílabas mudas
e, assim, só inícios balbucios
borbulhantes
na garganta, impossíveis de
pronunciar
Perde-se o acto instantâneo!
Sem gestação nem parto, fica abortada
a eternidade efémera do sentir do
dizer e do ler
hajota
Fica-se como que suspenso no ar....
ResponderEliminarBeijos e abraços
Marta
Apenas sobrevivemos porque sabemos que, após a escuridão, virá a luz.
ResponderEliminarMagnífico, como é hábito!
Beijinhos, Agostinho :)
Fora da Luz, o Caos, talvez o Nada!
ResponderEliminarQue a boa luz te guie, Poeta!
"Na ausência da luz" como que "recapitulamos" a matriz da nossa sombra. O silêncio torna-nos propícios a todos os pressentimentos.
ResponderEliminarEu, não encontro as palavras certas para falar deste seu poema, Agostinho. A hesitação entre o que sinto e o que pressinto devolve-me as palavras.
Um grande beijo meu Amigo.
Aguardo desesperadamente esses dias de luz.
ResponderEliminarAbraço
Há sempre luz nas palavras que respiram
ResponderEliminarmesmo por instantes
quando são escritas em troco de nada
e tanto prazer dão a quem as escreve
ou lê.
Já disse - a poesia não quer salvar o mundo
só ajudar.
Por vezes basta uma conjugação de estrêlas
Abraço amigo
Há sempre luz
ResponderEliminarquando um homem quer
Há sempre um quase nada que nos falta para que nos sintamos realizados.
ResponderEliminarPara alcançar esse 'quase' é preciso, muitas vezes, uma vida inteira, e acabamos, já perto do fim, por não ver a claridade que tanto ansiamos.
Mas nem sempre é assim, verdade Poeta?
Como bem diz:
"Não há tecla que defina o claro e a cor,
os restos de arco-íris e os relâmpagos da criação"
Não sei se o tempo me influencia,
mas a vida parece-me que se vai ausentando de mim, rápido demais. :)
É sempre um privilégio vir a este espaço
e sentir que aqui há calor humano e nobres sentimentos.
Um beijinho e obrigada, Poeta.
Palavras para quê? Ler o que escreve é a sedução da maravilha. Saio daqui fascinado.
ResponderEliminar.
* Se te amar for pecado ... Então sou um Pecador *
.
Cumprimentos poéticos
um poema magistral:
ResponderEliminarque fala da "impossibilidade" da comunicação
a palavra (eternamente efémera)fica sempre aquém
"do sentir e do dizer e do ler..."
como bem diz a nossa amiga Graça Pires
"não há palavras certas para falar deste teu poema".
abraço. Poeta.
Coisas pequenas, mas de enorme valor - preciosas.
ResponderEliminarFoi agradável ler o seu poema...
Fiquei muito contente por saber que voltou a escrever,
continuação de boas melhoras.
Abraço, Amigo.
~~~~
a palavra sufocada... a luz que se esvai
ResponderEliminaro terminus do poema sintetiza tudo...
que a luz venha rápido ...
beijinhos
:)
Um pouco mais de luz e eu era poeira sufocada por tão “enovelada” e fenomenal poesia , Agostinho !
ResponderEliminarBeijinho !
O Mário Sá-Carneiro neste poema "Quase" é uma companhia maravilhosa para
ResponderEliminareste teu imenso poema, em que a poesia se materializa na luz da
profundidade das palavras, a trazer as dores-sombras num preenchimento
intenso do fluxo vida, como eterno aprendizado...
Somente sei que ler, sentir, ler e sentir a tua poética é um
momento com muita luz, aqui um poeta com alma!...
Fico emocionada com a leitura aqui, Agostinho.
Beijo.
Na era da comunicação... acho que nunca estivemos tão inábeis para comunicar e socializar...
ResponderEliminarPerde-se o momento... em prole do registo do mesmo!...
Olhamos tudo através dum ecrã... mas perde-se a versão original, dos acontecimentos... e da realidade... que "photoshopamos" para ficarmos com a versão mais bonita...
Vemos o que não é... mostramos o que devia ser... esquecemo-nos de olhar... apreciar... e sobretudo viver... em prole destes gadgets que nos roubam até a alma, de última criação... e a quem confiamos praticamente tudo da nossa vida...
Pelo menos foi assim que eu interpretei o seu poema, Agostinho... na era da comunicação... cada vez temos mais, o acesso à verdadeira comunicação... atrofiado e bloqueado!...
A comunicação, deixou de estar assente em verdades... mas em likes, tendências, e no que se presume como verdade...
Onde foi que perdemos, a luz... ou a razão?... Quando falamos com sílabas mudas... e deixamos um imogi descrever a nossa emoção... perdendo-se a tal efemeridade do sentir... e do dizer?...
Um poema intrincado, e profundo... e que nos dá imenso sobre o que pensar...
Belíssimas as demais escolhas, que complementaram muito bem, o seu trabalho poético!
Beijinhos!
Ana
Lindo...!
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