quarta-feira, 21 de março de 2018

Antes do prenúncio das coisas




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até cada objecto se encher de luz e ser apanhado
por todos os lados hábeis, e ser ímpar
...

Herberto Hélder, in Servidões





Francis Bacon




Não era ainda o tempo, ainda não era tempo,
o tempo ainda não era
dos dias cumulados atados ao fio
da vida de seda e mel, de cilício e sal.

Não era ainda o tempo
dos lábios quentes veludo, assobio
de vermelhas harmonias da paixão,
nem dos lábios sangrando gretados em pio,
letra a letra, pingando na aridez clara
que cega a palavra.

Desenfiadas do fio as letras desirmanadas,
as vogais das consoantes desencontradas,
perdem-se na porosidade desértica ingente:
a ideia indigente num tempo que ainda não era
antes do prenúncio das coisas.


hajota


25 comentários:

  1. Agora, com a chegada da Primavera, já é tempo?
    Aquele abraço

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  2. Mas talvez agora a palavra renasça e fale... não se perca no deserto do tempo...
    Beijos e abraços
    Marta

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  3. Um feliz dia da poesia, com muita poesia.
    Abraço

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  4. Chega sempre um tempo em que é possível deixar passar as palavras por mais insensatas que sejam. Mesmo quando os lábios sangram e a sede parece não acabar nunca, há sempre o tempo em que é permitido, ao Poeta buscar o instante inicial em que o Poema se fez água em seus olhos...
    Um bom dia da Poesia, meu Amigo Agostinho.
    Um beijo.

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  5. Sem poesia nem os desertos
    Abraço poeta

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  6. E ainda bem que não era ainda o tempo. Há sempre tempo para chegar esse tempo. E quanto mais tarde melhor...

    Beijinho

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  7. Sim, já é tempo. Um belo dia da poesia por aqui :)

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  8. Maravilhoso isso, quando o todo e único, ser luz-ímpar...
    A imagem é fantástica!!
    O teu poema a surpreender, alcança as palavras num significado ímpar.
    O tempo por dentro sopra no dedilhar da memória a criar "a ideia indigente
    num tempo que ainda não era antes do prenúncio das coisas."

    Agostinho, tu sabes como eu aprecio a tua ímpar poética,
    sempre é um momento especial de leitura aqui.
    Bj.

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  9. Olá Agostinho!
    'É tempo' de fazer uma visitinha, para saber se está bem, com boa saúde. E eu espero que tu tenhas os melhores dias, com alegria, inpiração e saúde.
    Andei muito tempo afastada do mundo dos blogs, o motivo era dar atenção maior à vida real. E foi um tempo bom, continua sendo.
    Um beijinho amigo!

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  10. ... "tempo que ainda não era
    antes do prenúncio das coisas."

    É necessário saber escutar a "linguagem" das coisas
    para o tempo acontecer.

    Aqui acontece Poesia. Sempre.

    Abraço, caro Agostinho

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  11. Palavra a palavra, com mestria e arte
    assim vai o Agostinho construindo
    um mundo belo, ímpar, inigualável, à parte.

    Tão bonito tudo o que escreve.
    Obrigada e um beijo Amigo.

    Janita

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  12. antes do prenuncio das coisas

    nunca será o tempo

    do tempo que o Poeta precisa

    e assim se fez Poema em dia de Poesia

    beijinhos

    :)

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  13. É já tempo
    Tempo já é
    É tempo já
    De procurar uma editora para estas pérolas...
    Abraço!

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  14. Um pronuncio... muito bem arquitectado... em corpo e alma... neste belo poema, profundamente inspirado, Agostinho!
    Adorei este pronuncio criativo... que tão bem assinalou e celebrou Dia da Poesia...
    Deixando um beijinho, e os meus votos de que passe uma Feliz Páscoa, com muita saúde, na companhia de todos os seus!...
    Tudo de bom!
    Ana

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  15. Parabéns por teu belo poema!


    FELIZ PÁSCOA
    Autor: Laerte Sílvio Tavares


    Que a luz da ressurreição

    De Cristo Nosso Senhor

    Brilhe no teu coração

    E se refrate em amor,


    Permeando a tradição

    De fé, a dar esplendor

    Às festas pascoais que são

    Frutos da Paixão e dor


    Transformadas em alegria

    De Madalena, Maria

    E de toda a humanidade!


    Feliz Páscoa, pela via

    Do amor – nossa luz e guia

    Na fé e na caridade!

    Grande abraço. Laerte.


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  16. Já estou por aqui outra vez a saborear as suas palavras bonitas, Agostinho. Foi uma longa ausência devido a trabalho. Vou voltar a falhar nas respostas pelo mesmo motivo. Obrigado pelas suas palavras. É um bom amigo. Quero essas melhoras, sim? Beijinho grande

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  17. Amigo Agostinho, agora é tempo de dar tempo ao tempo. Lindo poema que adorei. Boa Páscoa amigo e beijos com carinho

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  18. Perdoa a minha ausência. Aqui, tenho de vir devagar, mas virei...
    Hoje, a penas um bjinho docinho e votos de um lindo domingo de Páscoa.

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  19. Perdoa a minha ausência. Aqui, tenho de vir devagar, mas virei...
    Hoje, a penas um bjinho docinho e votos de um lindo domingo de Páscoa.

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  20. Meu caro Agostinhamigo II

    Roubar o tempo é com a Alice mesmo sem o Coelho Branco ainda que amancebada com o Gato da Dentadura. Guardar o dito cujo tempo é escrever no jornal que ele está na terceira gaveta a contar do meio, o que quer dizer que na Nossa Travessa há um artigo sobre Jornalismo

    Abração deste teu amigo e admirador
    Henrique, o Leãozão (Lá pelas bandas do Lumiar aquilo anda muito por baixo e o fdp, por extenso, filho da puta do BdeC tem de levar um tiro nos cornos à queima-roupa)

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  21. "...
    perdem-se na porosidade desértica ingente:
    a ideia indigente num tempo que ainda não era
    antes do prenúncio das coisas."

    ... e com poesia na alma aguardamos a voragem do tempo.

    Um abraço

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  22. Um belo poema. Daqueles que se lê a primeira vez, apenas para sentir a sonoridade dos versos e então se lê uma segunda vez para, como diz Drummond chegar mais perto das palavras e contemplá-las. A contemplação de seu poema foi muito profunda e iluminou meu domingo. Abraços.

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  23. O tempo, esse enganador...
    Vale o tempo em que lemos as tuas belas palavras!

    Beijinhos, Agostinho :)

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