Em outubro de 2012 lancei a boca abaixo proclamada, a propósito das enternecedoras preocupações governamentais para com os "pobrezinhos" portugueses.
Pobres somos todos nós que andamos a sustentar os pançudos do retângulo e áreas adjacentes, on e off-shore.
Não precisamos de dó, exigimos é justiça!
Dois anos após aquela data, estamos em dezembro de 2014, o álvaro está a empanturrar-se com pastéis de nata numa cadeira honorífica e o gaspar a inventar algoritmos para o orçamento perfeito. Ficou o da mota que não desistiu da ideia da sopa dos pobres.
A insuspeita Manuela Ferreira Leite furou os pneus do mota mas esta gente não desiste enquanto não institucionalizar o estado da caridade.
- Ó Álvaro? Vê lá como eu sou eficiente, os troicanos até vão bater palmas. Sou um contribuinte decisivo para o deficit, perdão, para o superavit.
Corto 10 moedinhas em todos os subsídios de desemprego, rendimento social de inserção, complemento solidário para idosos e em todos abonos e subsídios. Vou poupar uma pipa de massa à Nação.
- À Nação não, ao Estado queres tu dizer.
- Vem vistas as coisas nem uma coisa nem outra… o cabedal vai todo direitinho para a chancelarina Merkel...
- E fizeste algum estudo... contas, sobre o alcance da medida?
- Não pá, nem é preciso. Como é para cortar tem aprovação garantida do Gaspar e, se ele aprova, o Pedro também. E o avô assina tudo o que lhe põem à frente, nem chega a pôr os óculos. A concertação social já foi informada e chega. É só mandar para a Imprensa Nacional. O Gaspar também não fez contas nenhumas para a TSU.
Olha, outra coisa, onde se podia obter uma grande receita, era cobrar 1 euro diário a quem tem pópó, para o custeio das cantinas de misericórdia: dava para duas sopas. Era uma maneira promover a solidariedade entre as pessoas. A mim não me afetava porque, além de ser mota, ando sempre de mota.
O Álvaro que é um alho, de raciocínio supersónico, ripostou:
- Alto lá, isso é da minha jurisdição, nem pensar numa coisa dessas. Ter à perna aquele gajo do ACP, gasolineiras e outros empatas! Íamos ter em cima a TSU!
- A TSU! O que é isso?
- Ó Mota, andas sempre de capacete e não ouves metade da missa. Comunistas, esquerdistas, CGTP, UGT, plataformas, artistas e etc : Todos os Sacanas Unidos. Agora, isto só prá gente, eu nem sei se estamos a ser escutados, foi o Gaspar que nos arranjou esta trapalhada toda. É ele quem manda, pá, nada a fazer. É como o aleijado da Alemanha, sempre sentado na cadeira, mas é ele quem manda a dos casaquinhos cor-de-rosa falar.
O da mota acusou o toque da insinuação de não saber da missa. Não se conteve:
- Ó Álvaro, vê lá tu, andam para aí a dizer que eu e tu vamos de vela na remodelação do governo!? O melhor é mostrar serviço antes que aconteça isso e garantir um lugar no BCE onde está já o outro, ou no FMI e afins.
- A noite passada estive a pensar, pensar… Tenho um plano! e tu és indispensável. Com uma cajadada matamos dois coelhos, salvo seja. Às tantas o Relvas tem aqui escutas, temos que medir bem as palavras para não sermos mal interpretados.
- Então?
- O Gaspar não consegue, de forma alguma, fazer a lipo-aspiração por dentro. O melhor é ir pelo seguro pois há muita boa gente a viver da vaca. Como não se pode acabar com a dita, sem morder nas canelas aos fiéis, temos de cortar aos mesmos de sempre. Assim preservamos as elites que garantirão o êxito do Portugal do futuro, que exclui aquela gentinha TSU.
- Porra, desembucha, perdão não queria…
- Então é assim, mota. Não disseste tu que ias cortar nos subsídios? Acho muito bem e tens o meu voto favorável no Conselho. Mas isso é pensar pequeno. Tem de ser uma coisa em grande, de merecer uma estátua, tipo Marquês de Pombal. Vamos criar uma nova indústria no país e salvar a restauração e atividades correlativas. Além disso, vai ser o verdadeiro simplex, muito mais abrangente do que o socrático.
O mês tem trinta dias não é verdade? Se cada elemento da gentinha beber 2 bicas por dia são 60 bicas por mês, vezes 50 cêntimos dá 30.00 euros. Para não sermos unhas de fome vamos dar–lhes mais 20.00 euros para comprarem uns tremoços ao domingo e beberem uma imperial. TSU passam a ter direito, no novo esquema de financiamento, a 50.00 euros mensais.
- Não estou a perceber… mas assim …
- Tem calma, está tudo pensado: uma NOVA INDUSTRIA! Toma nota: Cantinas Comunitárias para os TSU, de Valença até às Flores, onde houver a tal gentinha cria-se uma cantina para irem almoçar e jantar. O pequeno almoço é dispensado porque quem não tem ocupação pode ficar muito bem na cama até ao meio dia. Vamos salvar a economia! Vão ser milhares de estabelecimentos, digamos que 100 000 empregos - sobretudo para voluntários que ficam mais baratos e ganham o céu. A concessão de alvarás para esta oportunidade poderá ser por concurso, estabelecendo-se uma quota para as misericódias. Assim, têm garantida a sua prestimosa atividade caritativa. E se as grandes cadeias, tipo Sharaton, Meridien, quiserem concorrer, tudo bem, até para calar as más línguas que dizem não haver concorrência em Portugal.
Quem é que vai pagar às Cantinas Comunitárias? Tu, quero dizer, o ministério. Com controlo podes atrasar os pagamentos e o Gaspar fica contente com um recurso para quando a execução orçamental estiver no vermelho. Como vês, são só vantagens.
Ah, estava a esquecer-me dos 50.00 euros. Não se entrega dinheiro aos malandros. Cria-se um sistema de tickets pré-datados que serão válidos nos estabelecimentos aderentes, tipo café de bairro, leitaria, tasca e outros pelintras que andam para aí a tinir. Quem paga? O mesmo esquema das Cantinas.
- Estou impressionado, que imaginação! Tu não andas com pó?
- Por alguma razão andei nas américas onde génio, inovação e iniciativa privada são premiados. Espero, dentro em breve, sair desta piolheira e ser recompensado pelos serviços prestados a bem da nação. Estou mesmo contente comigo!
- Anh? Não percebo…
hajota