quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Headshot - (Abolição da consciência)

Como pode um senhor general sentir dor,
persistentemente educado na arte da surpresa,
perante um buraco na testa, olhos
incrivelmente abertos ao estalar dos ossos?

Como pode nausear-se um senhor general,
habilmente treinado na arte da dissimulação,
com um corpo esventrado em macabra posição
aparentando a tranquilidade definitiva dum morto?

Como pode sofrer o senhor general de insónia,
religiosamente disciplinado na arte do autismo,
ao ver inanimada uma criança nos braços dum pai
uma mãe sem filhos sem saber para onde vai?

Como pode ser contagiado o senhor general,
de consciência esterilizada a pó de cal,
por um corpo esquecido sem mortalha ao sol
a inchar o líquido queixume da peste?

Como pode ser perturbado o senhor general,
oleado em jogos e exercícios de abstração,
se as inevitáveis vítimas civis são danos colaterais
da imbatível inteligência fria dum míssil? 


hajota


Guernica - Picasso

9 comentários:

  1. ~
    ~ ~ Muito bom o teu poema, Agostinho.

    ~ ~ "Não podemos ignorar"-- tanto horror!

    ~ ~ Por muito que nos custe, é preciso delatar o genocídio!

    ~ ~ Estes senhores da guerra são uns facínoras que devem ser julgados.

    ~ ~ ~ ~ ~ Abraço, amigo. ~ ~ ~ ~ ~

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  2. Eu de volta no seu blog achei sua postagem muito significava
    principalmente o jeito dos poemas.
    Diante de muitas dificuldades faz das palavras versos sublimes.
    Um abraço carinhoso.
    Evanir.

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  3. Ninguém escreve ao general (Gabriel Garcia Marquez)

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  4. O senhor general não vê. não sente, nem sonha. Porque o senhor general está comodamente instalado no seu respeitoso lugar onde o recompensam com medalhas e tudo...
    Agostinho, o seu poema é um poema de reflexão sobre a guerra com todo o sofrimento que provoca a tanta gente inocente...
    Um beijo, amigo.

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  5. Os generais deviam ser baleados sem morrerem e sofrerem as atrocidades das guerras.

    Somos uma civilização nada humana.

    Beijo

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  6. O mundo está ferido de guerras, exceto os generais! Lindo poema. Tens coragem em atravessar a amargura .
    Um beijo.

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  7. Poema sublime, Hajota!
    O "senhor general" não merecia tal obra de arte!
    Parabéns!!!

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  8. há quem não sinta nada, ou que ande anestesiado de tanta coisa.

    um poema que encerra verdades inquestionáveis e que deviam ser evitadas, a guerra não devia existir.

    um bom final de semana.

    um beijo

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  9. Agostinho,
    Sublime, do melhor que tenho lido nos últimos tempos.
    Boa noite!:))

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