quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Crónica do Estado da Nação escrita no gelo

O 13 de Maio passou sem que nada acontecesse de transcendente. As nuvens presentes nos céus de Portugal ao longo de todo o ano, contrariando as espectativas bestiais, propaladas pelo Governo, da recuperação económica e financeira, que precederam a saída da Troika, encenada com relógio e foguetório para melhor iludir a populaça, prometiam que algo de medonho iria acontecer. E aconteceu. Foi anunciada há dois meses a mãe de todas as catástrofes.  BPN e BPP foram coisas caseiras, mas, a catástrofe pombalina, prevista e registada nas agendas secretas do poder e ocultada para safa dos tubarões, abalou pela raíz os alicerces da economia portuguesa.

O BES foi-se e a PT idem. Escusam de estar a complicar as coisas porque a essência do ser, pela genética, é a mesma: a PT é o BES ou o BES é a PT, tanto faz. A PT foi, como se diz agora, o veículo para sacar massa aos portugueses durante anos que financiou os lindos negócios de que se sabe pouco mas que irão conhecer-se aos poucos no futuro; as contas irão aparecendo.

Esperou o Governo por milagre no 13 de Outubro, com alguma fé. Como todos viram,  só  houve  o da chuva. Não podendo adiar por mais tempo o senhor PM acabou por anunciar o seu milagre: o Orçamento de Estado para 2015, mais do mesmo com ligeiros fumos de ilusão para não espantar o indígena: CES, IRS, recuperação de 20% para os sangrados da função pública acima dos €1500 e o crédito fiscal para 2016. Este crédito será tão improvável como acertar no euromilhões, matemática que a minha avó dizia ser a mesma que contar com o ovo no sim senhor da galinha. Antes desta bênção já tinham sido dadas umas canadianas ao ordenado mínimo nacional, entrevado há anos com estudos e mais estudos, para apurar a bondade do aumento de uma bica aos escravos do costume. A grande invenção, digo, inovação do ministro Moreira é o verde. Surpreendentemente. Então ele não é do Porto? Para a elite que não criava nem aumentava impostos não está nada mal.

Como o deficit deste ano vai ser muito difícil de calcular, só para facilitar, não vá acontecer o algoritmo da M.ª Luís estar contaminado com o ébola do ministro matemático ou com a gripe citius, a venda da TAP, em banho-maria desde que o senhor Relvas se foi embora, passou a prioridade. Anunciou o ministro Lima: até ao fim do ano corrente. E ao desbarato, digo eu, tipo, quem dá menos. A gente quer é o dinheirinho até às 23h59m59s de 31 de Dezembro de 2014. Todos os anos se repete a saga. Nem deixam o terminal do computador arrefecer para a passagem de ano.

E em 2015, se não acontecer o tal milagre de 13 de Maio, a CGD marcha. Então não é que a senhora ministra (como de resto o senhor primeiro-ministro) - que não tinha nada a ver com o BES, que era assunto do Banco de Portugal, que a solução de resgate dispensava a sobrecarga dos contribuintes - se descai a dizer que se a CGD fosse privada não haveria saque aos contribuintes… Perceberam? Vende-se a Caixa, sim senhores. Aos chineses que têm lá muito dólar. Livre de encargos!  Mas primeiro rebenta-se com ela com o passivo do BES proporcionando assim um desconto ao comprador, para garantir a venda, sejamos previdentes,  no último dia de 2015. O passivo fica para o tuga que já está habituadoa estas premências. Como marchou o BPN?

A bota do BES vai ser difícil de desatar por isso vão entreter a coisa. Os escritórios de advogados vão ter aí um prado inesgotável. As facilidades que os génios anunciaram no início da borrasca com a divisão do problema em dois, banco novo (o bom) e banco Bes (o mau), estão já à vista. Os dois irão irmanar-se fraternalmente num só mal, quebra-cabeças que durará anos. As faturas, depois da peleja jurídica, irão parar às Finanças. 

Depois disto tudo, como a dívida irá continuar a aumentar - os portugueses são preguiçosos, como anunciou ao mundo a senhora chancelarina berlinense, e uns estraga-albardas a viver acima das suas possibilidades, disse o PM, sem emenda - será lançada uma OPA de toda a faixa litoral do retângulo pelos fundos credores .  Os descendentes dos lusitanos que restarem e não se submeterem aos ditames do Diretório Administrativo, gozarão de liberdade nos territórios de origem: os montes Hermínios.

13 comentários:

  1. OI AGOSTINHO!
    LENDO TUA POSTAGEM, PERCEBO O QUANTO OS PORTUGUESES ESTÃO INDIGNADOS E SOFRIDOS PELAS MÁS ADMINISTRAÇÕES ATUAIS.
    NÓS AQUI NO BRASIL, ESTAMOS EM FASE ELEITORAL, ESTAMOS INDO PARA O SEGUNDO TURNO DAS VOTAÇÕES, SÓ ESPERO QUE "DEUS" NOS AJUDE E QUE VOTEMOS BEM, PELO BRASIL E PELOS BRASILEIROS QUE TAMBÉM NÃO AGUENTAM MAIS AS MÁS ADMINISTRAÇÕES E FALCATRUAS DO GOVERNO ATUAL.
    ABRÇS

    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  2. Olhando num espelho onde se repetem as jogadas políticas neste xadrez um pouco sórdido e desconcertado.
    Fiquei sem perceber, quem é quem ...Ou o que buscam estes meninos engravatados e que se esgrimem em palavras e gestos de teatro de fantoches... Sobrará alguma parte dos ossos quebrados dos portugueses?????

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  3. E então haverá eleições e este (des) governo será substituído por outro.
    De cor diferente mas de cheiro muito semelhante.

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  4. ~ ~
    ~ ~ Humor negro!
    ~ ~ Bem exposto.
    ~ ~ Um fadinho,,,

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  5. A História sempre se cruza e nem sempre pelas melhores razões.

    Belo texto.

    Beijinhos

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  6. O dedo na ferida, ou melhor, na pústula... Desinfecta-o bem desinfectado, que ainda apanhas herpes...

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  7. Agostinhamigo

    Achei o teu texto muito... brando. Faltou-lhe a saída mais aconselhável: uns tiritos em Belém e outros em São Bento; mas, se calhar, bastava um em Belém e os borrados, fugiam que nem Coelho, ups, coelhos.

    Estamos f...ecundados; e não é a sina, nem é fado: somos nós os tugas que não prestamos. Sublinho nós. Bernard Show escreveu que: O homem seria muito feliz se se esforçasse tanto em não cometer asneiras, como depois para as remediar E está tudo dito...

    Abç

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  8. Bom dia, com submarinos irrevogáveis que estão unicamente ao serviço das finanças especulativas e dos seus interesse pessoais, assim como o meu conterrâneo do Poço de Boliqueime reformado, não é possível acabar com o desfavorecimento do povo em favor do grande capital, estes senhores concluíram que em 2010 Portugal estava à beira da banca rota com uma divida 92% do PIB , hoje consideram que Portugal está melhor com 134% de divida sobre o PIB e com dois milhões e meio da população na pobreza.
    Será que algum dia é possível saber, quem são os (des) governantes e gestores das grandes empresas que Ricardo Salgado controlava?
    AG
    http://momentosagomes-ag.blogspot.pt/

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  9. E recomeçar tudo...Será possível? Não sei... Sobe-se, desce-se e amontoam-se os erros e deixam-se brechas abertas.
    Poderoso o texto...
    Beijos e abraços
    Marta

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  10. Gostei de ler este texto tão lúcido e que nos confirma tudo quanto sabemos sobre este país em que nos vão enterrando... Que mais acrescentar, amigo?
    Um beijo.

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  11. pertinente o texto,

    repetitivo o contexto


    é este o país de muitos montes

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  12. Olá, Agostinho.

    Mesmo não entendendo muito de política econômica, mesmo estando tão distante de Portugal, mas não longe de problemas semelhantes, ou até piores, adorei ler a sua crônica.Escreve de forma leve e bem humorada.Gostei mesmo muito.

    Obrigada pela visita.Eu também passarei mais vezes por aqui.

    Beijinho.

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  13. Este maldito "governo" deu cabo das pessoas e agora está a dar cabo do país até ao último chavo. Malditos sejam!!

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