quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Outono

Começa na passagem do equinócio 
o advento da apoptose celular:
josé malhoa_outono
as folhas agonizam  na paleta
em amarelos vermelhos e roxos.
A natureza despe-se de excessos
ao ritmo dum requiem a cada dia.

A passagem das aragens agrestes
p’las veredas ocasionais das tardes,
o trigo, sol sal, na praia dourado,
nos poros encrespados arrepia.
A sensibilidade está na pele 
em contrações reflexivas do tempo.

Lá dentro, no cerne da construção,
enxuta a carpintaria do estio
solta gemidos na adaptação
do cordoame, encolhendo a junção
das esquinas, onde o frio apressa
despedidas dúbias de amor. Suspensas.


hajota

26 comentários:

  1. "A sensibilidade está na pele
    em contrações reflexivas do tempo."

    Eis versos sem outonos dentro

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    1. Apesar do tempo que faz sejamos dignos do outro que virá. Na pele se sentirá.

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  2. ~
    ~ ~ Por vezes, o exagero da tentativa de tornar erudito o poema e a linguagem de rigor científico sobrepõem-se à sensibilidade e à beleza e poesia da época.

    (Não percebo a oportunidade do trigo no Outono, e estranho um "sol sal... dourado!")

    ~ ~ ~ Que as musas genuínas do Lis, inspirem-lhe poemas delicados, puros e transparentes. São assim os seus melhores.

    ~ ~ ~ ~ Abraço amigo. ~ ~ ~ ~

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    1. Bom regresso às lides.
      Anda a gente a doirar os pelinhos todo o verão..., Majo!
      Erudição! não concordo; duas ou três palavras não chegarão para essa consideração.
      Obrigado pelo seu comentário.

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  3. O poeta é sempre atento às estações! Um poema tão belo quanto a imagem.
    Um abraço.

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    1. Obrigado pela visita e comentário. Quem vive nestas latitudes é obsequiado pela "coreografia" da natureza ao ritmo das estações do ano.
      Um abraço amigo.

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  4. A Estação do Ano mais agradável em Macau, Agostinho

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    1. Ainda bem, Pedro, para retemperar o corpo para os extremos que hão-de vir.
      Um abraço.

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  5. E viaja-se pelas cores, reflecte-se no tempo e continua-se a amar....
    Lindo...
    Gostei muito...
    Beijos e abraços
    Marta

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    1. Obrigado pela simpatia do comentário, Marta.
      Esta estação propicia as sensações que refere.
      Bj

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    2. Olá, se me permite, deixo um poema meu escrito em 2011 sobre o Outono. Espero que goste.
      "Tardes de Outono"
      Invade-me a casa o Vento.
      Traz a chuva e o frio,
      esquece-se que gosto de luz
      e apaga-ma.

      Fico na escuridão,
      só com os pensamentos.
      Tudo o que escuto,
      além do Vento.

      Hoje, não vens.
      Hoje, não sei onde estás.
      Hoje,
      só tenho memórias de beijos
      e de palavras descoloridas.

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  6. O outono é tudo isso _excesso de 'vermelhos e roxos' na concorrência com a primavera em beleza e graça.
    E o poema diz tudo _ é simplesmente lindo!
    Parabéns e meu abraço

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    1. Muito obrigado, Lis, pela sua presença nesta janelinha. O outono convida-nos a olhar para trás, a viver os dias com serenidade.
      Abraço

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  7. húmus e novamente vida

    bonitas as cores do outono

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    1. Desse lado fervilha uma imaginação que muito aprecio e, por isso, tenho muito gosto em vê-la por aqui. Obrigado, Manuela.
      O segredo está na memória do húmus? Dele renasce a vida com toda a pujança e esplendor.

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  8. Inspirado!
    A apoptose celular não conseguiu estragar o ritmo e a musicalidade...
    O tema surge muito bem tratado.

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  9. Tem de haver para que haja vida. À morte sucede vida.
    Por falar em vida... quando é o parto?
    Abraço.

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    1. A criança está pronta para nascer. O problema é encontrar uma maternidade...
      Não queria voltar à C. ... Queria ver se o acontecimento ocorria ainda em 2014...

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  10. O outono no seu esplendor.

    Não aprecio a estação, mas tu deste-lhe um encanto especial.

    Beijinhos

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  11. E assim se mantém o poema outonal...



    Abraço

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  12. É outono. O mosto já circula no sangue dos que acreditam na eternidade dos sentimentos...
    Um belo poema, amigo.
    Beijo.

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  13. .

    .

    "és o saco na porta
    és o pão pr`amanhã"

    .

    .

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  14. As cores do Outono são a grande força da mudança. São aquilo que sobra num amarelo mesclado de cores diferentes.
    Até parece que somos puxados nestas correntes e que o frio, a chuva e os ventos adormecem as nossas sementes.

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  15. um poema que se quer outonal, onde a sensibilidade do Poeta está patente em todas as estrofes...

    :)

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  16. Agostinho,
    Uma maravilha outonal. :))
    Boa noite!

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  17. Do Outono aprecio as cores, gosto de as reproduzir, é um desafio conseguir a cor exacta! mas por outro lado vem sempre ao de cima o lado melancólico, custa um pouco a despedida do verão.
    Bjs

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