quinta-feira, 5 de maio de 2016

E se fosse eu?



Choram, no entanto, os que sobrevivem. Agarram-se
às grades do futuro; e ninguém me liberta da sua memória,
enquanto a roda do tempo apodrece no seu eixo de sangue.

Nuno Júdice, A convergência dos Ventos, de Idade de Ferro 
- ed. D. Quixote




Foto de Gilberto Jorge


A porta
é fundamental primordial
antes de tudo e de mais
Ter uma porta é importante
na transposição das paredes
sobretudo sempre e durante
a fuga do medo

A esperança
É importante ter 
manter a esperança na trouxa
e sonhos acoitados 
no fundo dos bolsos
e o corpo decente e quente
sempre e durante
a fuga da morte

E o mais importante:
ter sempre e durante
o caminho da fronteira aberto
e o coração pleno de sorte
na mochila da vida
sempre rumo ao norte



hajota



23 comentários:

  1. Ter esperança no coração para ter coragem de transpor a porta, diria eu.
    Aquele abraço

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  2. Excelente poema, prezado AGOSTINHO !
    Além da mensagem, a construção é magnífica !

    Muitos parabéns e um abraço.

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  3. E olhar em frente...Por muito que custe não poder olhar para trás...Levam-se as memórias no coração...
    Mas temos que avançar...
    Brilhante
    Beijos e abraços
    Marta

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  4. Uma mochila com tanta esperança dentro... Gostei da ideia da porta e do caminho da fronteira aberto. Gostei da imensa sensibilidade com que fez este poema.
    Se todos conseguissem pensar o que fariam se fosse com eles, talvez não houvesse muros, nem cercas de arame farpado a impedirem os refugiados que fogem da guerra e da morte de se salvarem, como na pior das ficções...
    Um beijo, meu amigo.

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  5. Haverá sempre tristeza e indignação enquanto
    não superarmos as fronteiras da humanidade.
    Abraço.

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  6. Contra muros e ameias

    Excelente meu caro

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  7. Ai se fosse assim! Ai Europa tanto que tens de aprender com o coração sensível deste povo aqui do canto!

    Muito bonito, Agostinho! Muito bonito, mesmo!

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  8. Agostinho, tem de tudo nestes versos teus: o lamento de quem se incomoda, a dor de quem vê a dor alheia e nada pode fazer, o sofrimento dos que estão a perder esperança, a mochila pesada nas costas, portas a se fecharem, o emperramento da burocracia, o descaso, a indiferença dos que podem fazer e não fazem... E tem também, meu amigo, o sangrar da verdadeira Poesia!
    Trago-te, nesta volta, sorrisos e estrelas,
    Helena

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  9. a porta, a esperança e a vida...
    tanta sensibilidade neste trabalho que até comove.
    excelente poema.
    beijinho
    :)

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  10. ~~~
    Grandes são, o coração e os valores éticos do Poeta...

    É urgente construírem-se pontes e abrirem-se portas!

    Amigo, um dos melhores poemas deste «Mundo Grande»...

    ~~~ Abraço, Agostinho. ~~~

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  11. Bonito de ler e sentir Agostinho, sigamos em frente, sempre e com "o caminho da fronteira aberto" e um coração cheio de sorte e sobretudo, leve.
    Um beijinho e ótimo final de semana.

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  12. São coisas fundamentais, sim!
    "E se fosse eu?"
    Infelizmente o caminho não depende, muitas vezes, apenas de nós...
    beijinho

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  13. Uma porta aberta é sempre importante pois através dela podemos alcançar o mundo, a fuga, a salvação.
    Beijinho grato por este momento.:))

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  14. o caminho que nos conduz ao refúgio

    porque eles, somos nós e a porta que não se fecha, o caminho, a fronteira, a esperança


    um abraço, Agostinho

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  15. A solidariedade se passa por este "transportar" e se colocar no lugar do outro...
    Todos os meios de transcender se passa por uma porta externa ou interna.
    Esta tua porta (universo) poética se inscreve na transcendência,
    a beleza da transcendência, Poeta!
    Bj.

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  16. não me convence, confesso, a simbologia da porta - onde há portas há muros que separam.
    mas não te preocupes, estou em minoria e sou herético confesso rss

    mas bem engendrado. o poema.

    abraço

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  17. "na mochila da vida
    Sempre rumo ao norte"
    Bonito!
    (Bem regressado sejas aos braços das musas!)

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  18. Tocante, ainda mais porque as portas europeias se cerram ...

    Boa semana

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  19. Agostinho,
    Gostei de seu poema. Muito bom. Parabéns.
    Um abraço.

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  20. Um poema tocante!...
    E uma opção de vida chocante... quando se mete a vida numa mochila, e se parte à sorte... sendo a única opção, para os que terão conseguido sobreviver...
    Um qualquer nada... em lugar nenhum... ou uma morte, a caminho de algum lugar... é preferível para estas pessoas, em fuga, de uma morte certa... e garantida...
    Um post, constituído por um mix de escolhas prodigiosas... que descreve de forma sublime... a triste e vergonhosa realidade destes nossos tempos...
    Beijinho! Bom domingo, Agostinho!
    Ana

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  21. Uma boa semana cheia de inspiração.
    Saudações poéticas
    beijinho
    :)

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  22. Na mouche, Agostinho. O poema quase cheira a carne viva, ferida nas pedras do caminho, com pouco ou nada para consolo. Assim é a nossa condição, feita de tudo e de nada.

    Abraço

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  23. Este é o naufrágio em que boia o mundo. Doloroso é saber que lentamente diluem-se as visões das portas e ficam apenas espectros, logo parece outra tragédia. Nossos gritos não passam de punhal no vento.
    Dói, mas é belo o poema.
    Abraços, poeta!

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