terça-feira, 31 de maio de 2016

Leituras (im)previstas

As línguas têm sempre veneno para verter.
Jean Molière



Claude Monet




Vejo cataratas a catar
a vida alheia nas letras gordas dos jornais
mais próximas que a vizinha do andar

Espiolham o lúgubre charco
- facas sangue vinganças paixões -
vacuidades condenações de meirinhos da política

Há olhos ávidos almas penadas
e cépticos em movimento perpétuo pendular
masturbatório de anos no mesmo lugar

e outros. Diluídos na persistência inglória
de prender o nada entre os dedos  em ruína
nem pressentem o mal que os mina



hajota

35 comentários:

  1. Prender o nada... belo poema.
    Adorei a imagem de Monet fazia muito tempo que não
    me deparava com trabalhos desse pintor se não me engano
    da era do impressionismo.
    Abraços.

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  2. Gosto muito de seus poemas. Gosto da sonoridade: costumo lê-los em voz baixa, resgatando o sotaque de meus ancestrais, hoje perdido em minha brasilidade... Gosto das imagens, das metáforas e do jogo de palavras e de sentidos. Enfim, é com prazer que leio suas postagens (na verdade, sem muita regularidade - que tento corrigir lendo várias na mesma noite...) Obrigada por permitir a nós, leitores, esses momentos agradáveis. Abraços.

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  3. Com todos esses quês e porquês ainda não prescindo da leitura diária dos jornais, Agostinho.

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  4. Boa tarde, a imagem de Monet é maravilhosa, assim como, o seu poema e todos os poemas que partilha são belíssimos.
    Boa semana,
    AG

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  5. Não gosto de clichês, porém, ao ler o teu poema me veio à mente um dos mais citados a respeito da leitura de alguns jornais: “se espremer, sai sangue”. Aqueles que apresentam na maioria de suas páginas os crimes mais hediondos, muitas vezes com riqueza de detalhes. O teu verso “a vida alheia nas letras gordas dos jornais mais próximas que a vizinha do andar” nos dá a dimensão exata do poder exercido por este veículo de comunicação, e como os leitores “nem pressentem o mal que os mina”.
    Vemos um Monet (retratado por Renoir) a ler um jornal que, naturalmente, à época, tinha compromisso com a seriedade, com a preocupação de levar ao leitor as notícias que realmente pudessem mostrar assuntos que deveras poderiam enriquecer a cultura de cada um.
    O nosso inigualável Machado de Assis, que tudo fazia para deixar clara a sua importância, escreveu que a imprensa “era o fogo do céu que um novo Prometeu roubara, e que vinha animar a estátua de longos anos” e que a chegada do jornal “era a faísca elétrica da inteligência que vinha unir a raça aniquilada à geração vivente por um meio melhor, indestrutível,
    móbil, mais eloquente, mais vivo, mais próprio a penetrar arraiais da imortalidade”.
    Agostinho, meu querido, uma postagem que muito me agradou e pela qual deixo meus parabéns, admiração e carinho.
    Sorrisos e estrelas no teu caminhar,
    Helena

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  6. Emergindo da espuma dos dias
    na esperança
    de ver a alegria
    estampada
    na primeira página
    em letras garrafais
    em todos os jornais

    Já aconteceu, lembras-te?

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  7. Um vício falar da vida alheia... E não olham para dentro si... Monet é um dos meus pintores favoritos e a citação de Moliére diz tudo.
    Obrigada pela partilha. Obrigada pela visita
    Beijos e abraços
    Marta

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  8. E normalmente são sempre as notícias que destilam veneno... que mais vendem jornais...
    Os jornais supostamente são instrumentos de informação... mas neles procuramos quem neles terá sido vítima de alguma forma de condenação...
    Cada vez mais, o sensacionalismo ganha um protagonismo crescente... e previsível... nos meios de comunicação...
    Um belo momento poético... que expõe muito bem o prazer, e a morbidez de se procurar, o que as notícias nos poderão transmitir de pior... e os meios de comunicação... fazem-nos a vontade... fornecendo-as com gosto, vontade... e muito lucro...
    O prazer da leitura... muitíssimo bem registado por Monet... e que se enquadra perfeitamente nesta temática...
    Beijinho! Boa semana!
    Ana

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  9. Muito bom!!! Muito bem descrito, muito bem conseguido. De mais!! Que bem escreve este nosso amigo Agostinho!
    Parabéns!

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  10. Os jornais tentam cativar através do "sangue". Também devem acontecer muitas coisas bonitas por esse mundo fora, mas isso não faz notícia!

    Continuação de boa semana:)

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  11. Fabuloso! É exatamente isto e tão bem dito!
    Podemos alargar a "crítica" às televisões "cor-de-rosa", sem responsabilidade social, quando deveriam tê-la?
    Abraço

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  12. a tela de Monet como suporte para um poema muito pertinente a alertar o que se passa nos jornais e não só.
    muitas vezes as notícias são só especulação e deturpação.
    o jornalismo não deveria ser isso, mas há alguns jornais que vivem desse "circo" e filmes de faca e alguidar que é o que mais vende.
    um bom momento de poesia, aqui!
    uma boa semana.
    beijo
    :)

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  13. há que chafurdar na lama para não lhe sentir o cheiro...
    gostei deveras - muito "criativo" e muito bem escrito.

    abraço

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  14. Empenhados quase sempre nas tragédias e nas comédias do quotidiano, os jornais cortam-nos o espaço, o tempo e a paciência para os ler. É pena porque podíamos ser bem informados e recolher algumas páginas de boa e reflexiva leitura.
    Mas, meu amigo Agostinho, felicito-o pelo poema. Escrever sobre este tema é difícil, mas foi com mestria que o fez. Gostei do Claude Monet.
    Um beijo.

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  15. É mesmo lamentável que palavra
    Seja (como tudo) faca
    De dois gumes.
    Bem escrito, bem colocado as tristezas dos fatos. Abraço.

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  16. ~~~
    Admiro muitíssimo Monet e a sua obra...
    Nesse tempo, o jornal era o único meio de comunicação social e não devia ser acessível a todas as bolsas... Repare como está velho...


    É verdade que muitas pessoas alimentam o vício da bisbilhotice de notícias sórdidas.
    Uma sátira bem concebida e conseguida do ponto de vista formal e expressivo.

    ~~~ Abraço amigo. ~~~
    ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

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  17. "Quando as aves falam com as pedras e as rãs com as águas, é de poesia que estão a falar". - Manoel de Barros. Lindo este cantinho Agostinho

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  18. Gostei deste poema lancinante.
    Muito bom. Parabéns.
    Beijinho.:))

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  19. A imagem de Monet muito bem harmonizada com as palavras, de um belo poema, como sempre se encontra aqui.
    Agostinho, deixo o meu abraço e o desejo de um ótimo domingo.

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    Respostas
    1. Olá Agostinho!
      Passando para deixar um beijinho e os votos de uma ótima semana.

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  20. Um poema excelente abordando um tema incomum e com
    a sua criatividade poética singular.
    A arte de Monet é fabulosa, perfeição!
    Bj.

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  21. Escolheu a tela perfeita para um poema forte e contundente.
    Descrição poética de uma realidade cada vez mais ignóbil.

    Um beijinho

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  22. Monet, jornais e cataratas a catar a vida alheia... Um poema no fio da navalha. Adorei meu amigo. Amigo Agostinho, tenha uma boa semana e beijos com carinho

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  23. Olá Agostinho,

    Segunda feira deixei um comentário aqui e até agora não foi publicado,
    não sei qual a razão? E só o Poeta pode me dizer, mas sem que às vezes
    isto pode acontecer, estas "engrenagens eletrônicas" seletivas somem
    com os comentários, mas aguardo o amigo poeta me dizer?!...rss
    Aproveito para deixar novo comentário e espero que as "engrenagens eletrônicas"
    deixe a publicação deste...rss

    Um poema excelente abordando um tema incomum com
    a sua criatividade poética sempre expressada.

    A arte de Monet é fabulosa, perfeição!

    Abraço, Poeta.

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  24. e no entanto a dor da gente não sai no jornal


    um abraço, Agostinho

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  25. Tanta gente doente da alma...

    Beijos, Agostinho :)

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  26. Ahhh a saudade ! de passear por entre poemas (im)previstos e incrivelmente especiais _como é bom retornar aos meus ... obrigada pela presença que só me honra muito.Comentários que afagam mesmo longe toa longe.
    Deixemos 'verter' o quanto queiram_ e cá ficamos a verter a nossa admiração uns pelos outros _nossos afetos nos importam.
    Abraços Agostinho de chegada de permanência de saudade.

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  27. É muito mais fácil vender a desgraça (alheia) do que a graça, já que esta não tem graça para a maioria dos consumidores de palavras.
    Excelente poema, meu amigo.
    Agostinho, tem um bom feriado e um bom fim de semana.
    Abraço.

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  28. O jornal lixo que vende.É a vida nas páginas e no olhar da verdade em que apenas o crivo retém a essência.

    Que bonita forma de escrever, Agostinho.
    Obrigada.

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  29. Na ausência de postagem nova deixo um rastro de sorrisos e um punhado de estrelas para enfeitar os teus caminhos, enquanto espero por um novo poema que venha aclarar a alma e perfumar o olhar.
    Um beijo de bom-dia!
    Helena

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  30. Este é o poeta. Atapeta o chão com um poema cheio de espinhos e muita criatividade. Para quem sabe lidar com as palavras.
    Abraços, poeta!

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