Paul Cézanne, As Grandes Banhistas |
Na cidade
alinhados à margem as acácias
ao vento urbanizado agitam
o sentido carmesim das suas flores
E um
menino com mais outros
meninos todos juntos
um dia
fecundam na síntese da rua
cidade
meninos e flores
José Craveirinha,
Karingana Ua Karingana,
Síntese
~~~~~~~~~~~~
Um poema pintado pode ser
cor ou conversa pegada,
um delírio de pigmentos em linhaça
ou têmpera nascida de ovo.
Tudo tem origem no ovo!
até as palavras figuradas na resina do ser.
cor ou conversa pegada,
um delírio de pigmentos em linhaça
ou têmpera nascida de ovo.
Tudo tem origem no ovo!
até as palavras figuradas na resina do ser.
Tem-se ideia, pincel, pastel,
e pinta-se de pronto, fixa no papel,
linda de se ver - consoantes, vogais - com vida.
Como um rio, da nascente à foz,
contido na esquadria da moldura
ou na divergência despenteada
de sulcos de água desaguada
em delta, como sina escrita
nas linhas da mão.
Não é isso um poema?
Mas raramente se vê
e pinta-se de pronto, fixa no papel,
linda de se ver - consoantes, vogais - com vida.
Como um rio, da nascente à foz,
contido na esquadria da moldura
ou na divergência despenteada
de sulcos de água desaguada
em delta, como sina escrita
nas linhas da mão.
Não é isso um poema?
Mas raramente se vê
convergência em quem lê.
Onde um entende verde cor,
outro jura ouvir azul, uma cantata de Bach.
Há nuvens no mar!, afirma um visitante
e alguém contrapõe um oásis
bordado a tâmaras, no mesmo instante!
Onde um entende verde cor,
outro jura ouvir azul, uma cantata de Bach.
Há nuvens no mar!, afirma um visitante
e alguém contrapõe um oásis
bordado a tâmaras, no mesmo instante!
Se um diz sim, o outro jura não ou talvez.
Assim se vê como um pode ser dois, ou três,
tantos quantos os pares de olhos que lêem.
Todavia, apenas um tem a chave do enigma
- o Poeta que pintou.
tantos quantos os pares de olhos que lêem.
Todavia, apenas um tem a chave do enigma
- o Poeta que pintou.
hajota
Porque o viveu intensamente...
ResponderEliminarLindo...
Bom dia
Beijos e abraços
Marta
"O poeta tem sonhos de barro enrolados na garganta: o lugar onde os deuses sopram a pulsação das palavras e refazem o sentido dos dias". Lembrei-me disto ao ler o seu poema pintado, com a voz incessante de quem decifra todas as cores e dá vida às consoantes, às vogais, "como sina escrita
ResponderEliminarnas linhas da mão". E o olhar do poeta arde de sílaba em sílaba, de paisagem em paisagem, de cor em cor até à música mais próxima do nome das coisas e do espanto que só ele decifra.
Os bons leitores deviam permanecer em silêncio, ciosos que são da luz ou das sombras das palavras...
Muito bom, meu Amigo Agostinho.
Um bom fim de semana.
Um beijo enorme.
prevenido, avanço cautelosamente na "leitura" do teu poema pintado.
ResponderEliminare deixo-me inebriar pelas suas cores. e isso bastaria.
mas, sem pingo de juízo, arrisco dizer que qualquer leitura é sempre feita a partir do "lugar" social de cada leitor, isto é, a partir das seus valores culturais ( e outros ) que constituem a específica "visão do mundo" de cada um.
não há pois leituras unívocas, bem o sabemos.
mas também, pelas mesmíssimas razões, não há escritas, poéticas ou outras, que não estejam "maculadas" pelo "barro" em que o autor se molda.
sendo assim, meu amigo, receio bem que nem o autor detenha a chave do entendimento do poema (ou qualquer texto). e ainda bem, caso contrário, o poema ficaria tributário de um sentido predeterminado, bem se sabendo, que a poesia é "liberdade livre" tanto mais rica e apelativa, quanto mais "leituras" permita, isto é. mais "livre" for.
desculpa-me, meu Caro Agostinho, mas o apreço que a tua Poesia me merece e grande consideração por ti levaram-me por este "inóspito" caminho
caloroso abraço
“Homem prevenido vale por dois” reza o adágio popular, para que o cidadão comum não seja surpreendido em aventuras temerárias.
EliminarNão é o caso, nem eu aceito duelos. Isso é na terra dos cóbois! (rio, não Rio)
Li o teu comentário no dia em que o fizeste mas só agora estou a despacho. Sábado é sábado, dia de preguiças várias, e domingo foi dia do senhor eu.
Então vamos lá ao que interessa. O que se segue não interessa, nem ao menino Jesus, e não tem qualquer intenção de “resposta”. É só falar por falar!
Estou de acordo com o que dizes e contradigo, e não há paradoxo. Então digo, que só no teu penúltimo parágrafo poderá residir a divergência.
Para começar entendo a poesia, na sua aparente inocuidade, fonte de onde fluem entendimentos e paixões desencontradas. Mesmo num quadro naturalista tudo é de admitir; se uma folha é verde, por natureza ela vai-se metamorfoseando ao longo do tempo; a subjectividade de cada um atribui-lhe o tom que entende ver. Nem preciso é chamar ao quadro as “virtudes” do daltonismo.
Suponhamos (eu suponho), uma tela a óleo sem moldura, sou capaz de a ver “encaixilhada” pela parede inteira, branca. Mas se persistir no olhar, de repente, a cor muda para “amarelo” e o espaço do quadro pode ficar vazio ou branco, como que uma descontinuidade de pensamento.
Mãos nuas de nada ou de tudo tanto faz.
A diferença não está no autor, está no leitor que vê e lê. Quando o autor pinta, escreve, HÁ COR E HÁ LINHA E HÁ A SUA INTENÇÃO. Pode ou não ser apreendida pelos outros, os observadores, os leitores, mas isso é o que menos NOS interessa. A obra deixou de ser sua, passou a ser de quem a quiser ou puder ver ou ler. O autor não dispõe de qualquer poder, ligação física ou mental que transforme o leitor num unívoco apreciador.
Além do mais as características nos campos da semiótica, sociais, históricas, linguísticas que determinam a identidade de cada um há-de produzir literalidades diferentes.
Conclusão, não calces pantufas. Comenta à vontade.
Grande abraço.
em síntese: obra (in)acabada o autor é APENAS mais um leitor - e estamos de acordo!
Eliminarsem luvas, pantufas, pistolas e ... de florete na bainha.
grande abraço
PS. como raramente mergulho em águas corridas, só agora respondo
PS>Também é virtude minha.
EliminarTodos somos poetas
ResponderEliminaralguns ousam escrever
Bela a sua paleta de cores
Abraço
Sim, um poema é uma arte aberta!...
ResponderEliminarO poema como rio inscrito pelo poeta,
com os significados da sua caminhada na criação.
O poema como rio para os leitores, rico com arte
do olhar do leitor neste mesmo rio, com outros
significados, nesta caminhada singular.
Sempre encantadora esta experiência da leitura na
tua arte do rio das tuas palavras, de pintura
singular e tão bela.
Beijo, Agostinho.
Um poema pintado pode ser tudo o que o Poeta quiser e em
ResponderEliminarsonhos idealizar:
Anjos, querubins, cupidos, arlequins
sereias, amores-perfeitos, imperfeitos desamores
rosas em tons pastel e todo um mundo
do melhor que houver no mundo...
Um beijo, Poeta Amigo.
Caro Agostinhamigo II
ResponderEliminarBelíssimo poema; e disse
Dá um pulinho à NOSSA TRAVESSA e comenta sff
Este poema pintado tem lindas cores e é muito belo.
ResponderEliminarBoa noite
Poema em dois tempo: metade para a pintura, outra metade para a filosofia. E esta é a verdadeira arte do poema.
ResponderEliminar(gostei especialmente da segunda metade.)
Welcome back, Poeta!
E ficou uma maravilha.
ResponderEliminarDe pintura e de poema.
Aquele abraço, boa semana
Um poema muito bonito. Deliciei.me a ler. Fiz-me seguidor
ResponderEliminarQuerendo podemos fazer troca de linkes.
.
https://brincandocomaspalavrass.blogspot.pt/
.
Abraço e ...
Feliz inicio de semana
hajota
ResponderEliminarsim, o poema pode ser isso tudo
uma simbiose de cores, sabores e tudo o que o leitor queira "beber"
e os poemas podem ser pintados assim como as imagens podem virar poesia
muito belo este poema...como aliás já nos habituou.
boa semana.
beijinho
:)
Só o poeta sabe da pintura, das tintas que lhe escorrem da alma. O leitor vai tacteando um talvez sim talvez não. Amei demais. Amigo Agostinho, boa semana e beijos com carinho
ResponderEliminarUm poema muito agradável, genuíno e original.
ResponderEliminarConcordo contigo, só o autor possui a verdadeira chave da leitura.
Tem um nível muito bom e bem conseguido.
Abraço, Amigo
~~~
Tão bonito, Agostinho! Completam-se na perfeição!
ResponderEliminar(não sei porquê, deixei de receber as tuas actualizações no feed.vou tentar deixar de seguir-te e seguir-te de novo)
Beijo
Aonde vais parar, poeta?
ResponderEliminarBelo, belo, belo! Cada vez mais...
Reparem bem:
"Há nuvens no mar! (afirma um visitante)
e alguém contrapõe um oásis
bordado a tâmaras..."
Meu caro Agostinho,
ResponderEliminarEste poema está soberbo.
Quem atinge este valor com as palavras é no mínimo sábio, mas, no teu caso, és um sábio-poeta.
Tamanha cintilância(s) à palavra(s), é para quem se desvia de limites e previsibilidades.
Extraordinário!
Forte abraço,
Que lindo sonho cheio de vida e poesia! :) A poesia nos abre portas, a chave é de quem lê. O autor da poesia poeta tem a vivência que se liga à vivência do leitor a transformar poesia em espelho refletor! Tenha um belo dia Agostinho!
ResponderEliminarAs artes mostram novos mundos... sempre diferentes, para quem as aprecia... que já carrega em si mesmo... o seu próprio universo... único e indissociável...
ResponderEliminarSimplesmente maravilhoso, este poema, pintado em palavras, e talento...
Ficarei com este poema debaixo de olho, para o destacar lá no meu canto, qualquer dia, se me der licença, Agostinho...
Beijinho! Bom fim de semana!
Ana
Um poema com olhar quase desprendido, num quase dissecar do que aparentemente aos outros importa, mas pode não importar. Apenas jogar para ter que contar. E assim vai a natureza humana, caminhando descalça ou com belas chinelas, pondo-se a jeito do olhar do poeta.
ResponderEliminarGrande abraço, Agostinho
Leitor e autor. Narrador e narratário. O Eu que se faz Tu, o Tu que é cada um.
ResponderEliminarO Eu? Um poço ou um abismo, uma cratera ou um canteiro.
Mas que importa se o Eu que me transporta é o Tu que me vê primeiro?
Fresco e Poesia, a Arte que pinta ou escreve...que depois de sofrida e lida, é transparente como a neve. Será?
Belíssimo, adorei
Beijo , Agostinho
E o poeta pintou, e o poeta pinta a alma de quem o lê! Gostei tanto Agostinho.
ResponderEliminarApreciei o "duelo literário, mas hoje "não vou por aí".
ResponderEliminarAs suas portas, Agostinho, abrem belíssimas portas e jardins.
Beijinho amigo
Não há maior riqueza do que a obra, seja ela qual for, ter tantas leituras quantos os olhares.
ResponderEliminarO significado não está no emissor (embora seja ele que o produziu, portanto leitor privilegiado, que pode ajuizar da fidelidade entre o que quis dizer e o dito em palavras ou outra forma), nem na mensagem mas sim no recetor.
E eu gosto de me arriscar na interpretação do que leio...
Bjo