sábado, 27 de outubro de 2018

Eu sou Rio que corre ao contrário



Pelos dias quadrados corre a brisa
Que nos seus corredores nunca se engana

Sophia de Mello Breyner Andresen, 
Livro Sexto, Pátios



Amadeo Souza-Cardoso



oooOOOooo





Eu sou Rio que corre ao contrário
sou nascente sou poente sou morte
corro de onde vim para nascer de mim
tudo começa no início
e corre até ao fim
que é morrer


O homem tem um princípio
e há-de ser o que quiser
querer é poder diz o povo simplesmente
O gomo  brota acrescenta-se
de ver e ouvir risos e prantos com tantos
a abrir espaço e mente

Faz-se físico e espírito alameda aplanada
donde surgem ruas rasgadas
e travessas imbuídas da mesma lei
perpétua em génio e semelhança
“Aorta” rio vermelho ao contrário
escorrendo da foz prá nascente

afluentes crescem prá frente
como a gente que veio de trás
no mesmo vermelho na mesma paixão
no sangue que multiplica a imortalidade
das estrelas que hão-de vir
para serem gomos homens-rio



                                          hajota

26 comentários:

  1. Não conhecia este tandem do Amadeo e da poesia maravilhosa da Sophia já não me recordava.
    Muito obrigado por tudo e um abraço amigo.

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  2. Meu caro Agostinhamigo II

    Chegámos do cruzeiro que correu lindamente - deu para descansar e para ler ("mamei" quatro livros em nove dias o que me parece que não foi má média...), cujo único senão - para nós, ou seja para a Raquel e eu - era o catering = uma merda! Para os restantes passageiros (3.897) creio que não, mas também não fiz inquérito... muito menos sondagem.
    Uma outra desvantagem: a bordo tínhamos RTPI e por isso pude er e ouvir essa bosta que dá pelo nome de Jair Messias Bolsonaro. Os Brasucas estão fod..., oops, tramados. Vão elegê-lo e depois é que vão ver com quantos paus se faz uma canoa (a expressão é deles...) E por aqui me fico em termos de relatório.

    Quanto ao poema. Mataste-me com uma facadela em pleno meio do peito, aliás como sempre. Eu sou Rio que corre ao contrário.... Com uma tão linda estrofe mal parecera se o poema na decorrera sem acordo com ela. E, naturalmente, isso acontece. Porque o rio vermelho ao contrário escorrendo da foz para a nascente é mais do que a "aorta" é o pulsar do Poeta, é o teu pulsar. Magnífico.

    Um abração deste teu amigo e admirador farto de arsenal
    Henrique, o Leãozão��

    NB- Quando vi Rio começado com caixa alta apanhei um cagaço: será que o malandro também começou a malhar no gajo do PPD/PSD???����‍♂️ Afinal não...��

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  3. Há sempre um princípio e um fim... É o que fez no entretanto que importa...
    Beijos e abraços
    Marta

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  4. Excelente metáfora da Vida, do Tempo. Muito bom - como de costume, aliás. (embora o tom me tenha parecido um pouco desmaiado...)

    Beijinho, Poeta!

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  5. ... entretanto Bolsonaro não engana
    faz o discurso dos coveiros

    Perdoa no comentar o teu belo poema
    Abraço

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  6. "É pela ferida que entra a Luz", disse Rumi, poeta árabe do séc. XIII. Essa Luz que se faz rio, correndo da foz até à nascente a iluminar o Poeta rumo a um silêncio soletrado "no sangue que multiplica a imortalidade das estrelas". Porque, sem defesas, o coração coloca-se à escuta da vida...
    Excelente, meu Amigo Agostinho! Um beijo.

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  7. Um poema tão bonito e a mim dá-me para o disparate.
    Porque rio a correr ao contrário só pode mesmo ser o Rui Rio :)))
    Aquele abraço, boa semana

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  8. Fiquei perplexo... de encantado que fiquei.
    Meu Deus, Agostinho, ainda bem que gostas de te interrogar, é a única forma de todos ficarmos a ganhar.

    Grande abraço

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  9. Boa tarde amigo, o homem se não se sujeitar à submissão é aquilo que quiser, gostei do poema.
    Continuação de boa semana,
    AG

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  10. Tem um próverbio que diz: Que um rio nunca passa no mesmo lugar.
    Apenas me lembrei lendo sei quase enigma poema k.
    Acho que o ser humano tem o poder de ser o que quiser.
    Boa entrada de mês.

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  11. E assim, poetando inspiradamente, vais partilhando com os teus leitores/admiradores reflexões profundas (e geralmente melancólicas) sobre a vida e o mundo... O importante, mesmo, é que o rio encontre o seu caminho...

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  12. uma lucidez de cristal, meu caro Agostinho
    se não o soubéssemos, bastaria a primeira estrofe para te definir como um poeta de eleição

    deixo as restantes estrofes para "ruminar" em próximas visitas
    (tua poesia é para degustar. como vinho raro)

    forte abraço, amigo

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  13. Um poema de corpo inteiro
    rio sem margens
    Abraço sempre

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  14. Gostei imenso deste rio que não se desvirtua, nem mesmo ao longo do seu percurso... mantendo a sua verdadeira natureza... corre ao contrário... porque nasce com um fim... que é o de chegar ao seu destino, com uma enchente de princípios...
    Quem dera que mais rios corressem ao contrário... a maioria, corre a eito... morrendo em si mesmos... vão por onde outros foram... evitando os obstáculos... e preferindo não escolher o seu próprio caminho...
    Finalmente passando por aqui, após o meu regresso... e por ser um bocadito fora de horas, hoje... amanhã, estarei de novo por aqui, para ver o que mais se me escapou, enquanto andei mais ausente...
    Deixo um beijinho, estimando que o Agostinho e todos os seus, se encontrem de saúde...
    Até amanhã!
    Ana

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  15. Não será o homem limitado pela sua mortalidade?

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  16. Rio, caminho que anda e correndo à frente! E o teu rio de repente desagua dentro de ti! Que bela imagem por si que tudo diz e condiz com aquela filosofia pregando que tudo está dentro de nós por termos uma centelha divina em nosso céu interior, que é luz, é paz e é amor! Parabéns, mestre Agostinho! Lindo poema qual vinho tragado em nosso caminho! Grande abraço! Laerte.

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  17. Um poema fantástico.
    Li e reli.
    Parabéns pela excelência poética do poema.
    Caro Agostinho, continuação de boa semana.
    Abraço.

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  18. Oh meu prezado Agostinho,
    Tu és luz no meu caminho!
    És feito um senhor e guia
    A minh'alma, se vazia!

    Tua prosa é a poesia
    Que a minha alma alumia
    Para eu não seguir sozinho
    Tragando em goles meu vinho!

    A ti eu ergo uma taça!
    Brindo! Minha alma se enlaça
    À tua, meu bom amigo!

    Minha gratidão! Que passa
    Pelo amor, Deus e a graça
    De poder contar contigo!

    Obrigado pela manifestação inteligente, pedagógica, afetiva, generosa e substanciosa no meu modesto espaço, Agostinho! Deus seja louvado! Minha gratidão! Saúde! Muita paz e amor! Abraço fraterno! Laerte.

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  19. Acho que quis dizer: o seu poema quase enigma. no meu comentário
    acima. k
    Eu li e não entendi o meu próprio comentário pode isso? kkkk
    Mas te desejo PAZ E BEM isso podes levar para ti.
    E um bom final de semana.

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  20. Oi Agostinho
    Me faz lembrar o grande Paulinho da Viola com uma letra bonita _"Foi um rio que passou na minha vida
    e meu coração se deixou levar' rs
    Ah quantos são os rios que desaguam em nós e nos arremessa sem que nosso coração seja consultado.
    Sempre maravilhosas suas metáforas, sua carismática escrita !
    deixo um forte abraço. Em ti e para Ti.
    Obrigada pela presença,que me honra sempre que vem.

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  21. Aproveitando ter passado por aqui, deixo um beijinho e votos de uma excelente semana!...
    Ana

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  22. bonito, este coração de um rio

    um abraço, Agostinho

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  23. Adorei o poema e o blogue
    Parabéns
    Voltarei
    Abraço

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  24. nada é. tudo está. existir é transmutar.

    belo poema. abraço!

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