quarta-feira, 16 de julho de 2014

"Que farei quando tudo arde?" *


O Algarve vai ardendo, a Madeira um braseiro, 
Lisboa há muito tempo queimada,
guarda o incendiário primeiro,
os tugas estão lixados!
Depois do canto das cigarras 
resta o tempo dos abutres
para o saque final.
Onde está a pátria amada
por Camões proclamada?


Saramago profetizou a deriva da Ibéria,
realidade evidente numa jangada de pedra,
tanto mar de incertezas!
Que viu Blimunda no devir?
D. Pedro dar passos
em miragens de sedução.
Que rei este que vê solução
em Alcácer-Quibir
em terras alheias 
a salvação das areias!?


Quem verá o dia da restauração?
jul2012
hajota



* título de soneto de Sá de Miranda (1481 - 1558)


imagem Wiki

18 comentários:

  1. O documentário que hoje publico poderá dar muitas respostas, Agostinho.
    Vale a pena (re)ver.
    Aquele abraço

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    1. Pedro,
      desculpe a massada que despejei na sua banca. Devia ter encurtado a conversa.
      Bom apetite para o trabalho que tem pela frente até às próximas férias.

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  2. Com um poema percorre parte desta pátria tão pouco amada e à espera de salvação.
    Um abraço, Agostinho.

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    1. Graça Pires,
      a sua presença aqui é sempre bem vinda, assim eu o mereça.
      Obrigado pelas suas palavras, sempre com dimensão e sentido perfeitos.

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  3. Assim vai o país, mas felizmente muitos querem mudar alguma coisa e não cruzam os braços. Nem de propósito, tenho a TV ligada e ouvi duas reportagens animadoras (uma de bombeiros e outra de desempregados) que nos fazem acreditar que os jovens com princípios, podem mudar o futuro.
    Há gente extraordinária por aí! Gente anónima muito capaz, muito corajosa!

    Um abraço :)

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    1. É claro, Isabel, temos de manter sempre a esperança de dias melhores. A Nação já atravessou crises aterradoras noutras eras (por exemplo no séc XIV) e superou-as.
      A inquietação é que agora somos nós os protagonistas.
      Muito obrigado por vir aqui dar a sua opinião. É com muito gosto que a recebo.

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  4. Agostinho,
    A escolha de Sá de Miranda foi um achado. O que desenvolveu a partir dele também.
    Só trocaria uma palavra "tugas" pois afasta-se um pouco de Miranda.

    Desculpe a interferência.
    Abraço!:))

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    1. Ana, quando escrevi este trabalho o país estava a arder. Não tendo fixado o título ocorreu-me mais tarde o verso do precioso soneto de Sá de Miranda, o velhinho Sá de Miranda (conimbricense, segundo rezam as "crónicas") que se dava no liceu à "300 anos", no meu tempo.
      Coloquei o título entre aspas com uma chamada para a anotação explicativa.
      Está "autorizada" a interferir quando entender. Obrigado.

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  5. ~ Na minha sincera opinião, seria um excelente poema satírico, sem o 4º verso-- o dos calões-- que estraga o conjunto e não faz falta nenhuma.

    ~ Citar Camões e Saramago, não combina nada com linguagem brejeira.

    ~ O poema satírico é muito mais divertido quando envolve linguagem erudita, como acontece com os poemas de N. Tolentino.

    ~ Gostava de conhecer o seu parecer a este comentário.

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  6. Posso dizer um palavrão, Majo? Gaita!
    Tinha acabado de lhe responder e... foi-se. Era mais ou menos o que se segue.
    Li atentamente o comentário que gentilmente fez. É a sua perspetiva que compreendo perfeitamente. Se for ler a resposta que dei à Ana poderá ver melhor o ambiente em que foi gerada a criança. Talvez numa revisão futura o tal 4.º verso caia.
    Não pretendi citar o clássico. O título escolhido ocorreu-me espontâneamente mas a musicalidade ficou-me a tinir no ouvido, pareceu-me conhecida; depressa cheguei ao famoso autor renascentista.
    Não pretendendo comparar-me com ninguém (ninguém elevado a n) - senhor, eu não sou digno de desapertá-lhe a correia da sandália! - refiro que António Lobo Antunes utilizou o mesmo verso para título de um dos seus romances.
    Quanto ao N. Tolentino (Nicolau) prefiro o nosso contemporâneo o José.
    Obrigado pela participação. Venha sempre, venham mais cinco.
    Sempre que puder respondo.
    Bj.

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  7. ~
    ~ ~ Fico compensada pela minha assiduidade, ao saber que leva em conta a opinião das suas leitoras.
    ~ ~ No meu entender, a poesia é uma forma de arte superior, em que o humor deve ser conseguido recorrendo ao engenho e não à linguagerm vulgar.

    ~ ~ Aprazíveis e inspiradores dias estivais. ~ ~

    ~ ~ ~ ~ ~ Abraço. ~ ~ ~ ~ ~

    Ps ~ Um segredo... Sou um caso sério-- os ditos "palavrões", não sò arranham-me os tímpanos como também me arranham a alma-- mas, por vezes, também os profiro, por exemplo, quando perco um comentário. Mas não gosto nada de cometer destes deslizes ...

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  8. Respostas
    1. Ditosa Pátria de Camões e de Pessoa ...
      Obrigado, Sol, e bfs.

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  9. Uma pergunta interessante....Estamos à deriva, à espera...de nós próprios com coragem para salvar este País...
    Obrigada pela partilha...
    Beijos e abraços
    Marta

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    1. É a mudança e vontade de cada um que pode mudar o curso ao rio.
      Obrigado pela presença.

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  10. Estamos completamente à deriva, Agostinho, todos nós... boiamos levemente à tona de água e e deixamo-nos levar com as marés. Curiosamente, quase todos sabemos nadar. Pergunto-me todos os dias porque não tentamos ir contra a corrente... por vezes bastam umas braçadas.

    BFS, Agostinho. Abraço. D

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