terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Ao meio-dia o sol

vicent van gogh - web



Ao meio-dia o sol derretera
a sombra nas encostas da manhã
e, a partir daí, dobrou-se
para o outro lado,
onde nos troncos crescem asperezas,
ao princípio em tons rosados
e, impercetivelmente,
ao ritmo da rotação dos ponteiros
que apontam os prazos,
gretam lágrimas
que afloram das profundezas
à superfície da alma,
logo evaporadas
pelo calor das três da tarde.

Depois, imprevistamente, vem
um vento do lado norte
e os gemidos misturam-se
ao borbulhar das fontes.

De quando em quando o trau
de um galho que se quebra,
desfaz ilusões que se vão em trau-
matismos repentinos,
sem nota prévia na agenda da rotina.

Sem que os ponteiros parem
apontam subitamente:
- está na hora se seres reciclado,
barro para olaria ou cinza para jardim,
consoante vagares marmóreos
ou pressas de lume se moldem
ao gosto do negro.

E foi-se, pelo fundo do vale,
até ao rio onde barco e barqueiro
o esperava no dia um de janeiro.



hajota

16 comentários:

  1. Há sempre o tempo para sermos levados pelo barco. A vida, no seu curso natural.

    Beijinhos, Agostinho! :)

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  2. Dias mais claros virão, Poeta
    Temos essa impressão como certa

    Ocorrem-me outras alvoradas
    o sol a brilhar a brilhar para todos nós
    num dia qualquer que seja

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  3. Apontamentos, olhares que só o poeta consegue discernir.

    Muito belo, Agostinho!

    Beijinhos

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  4. E segue a sombra do Sol e espera que nasça outra vez para que limpe a escuridão...
    Lindo... Adorei a pintura....
    Beijos e abraços
    Marta

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  5. Agostinho,
    Um poema belíssimo, muito bem concebido.
    Desejo que esteja bem.
    Boa noite. :))

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  6. depois,

    de um dia assim


    um abraço, Agostinho

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  7. Um pouco trau-matizante, quiçá...
    Essa parte da reciclagem deixa um cristão de banda...
    Bons lampejos, não obstante. Sente-se a veia!

    Bom Ano!

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  8. Nas horas do sol sem sombra, há um poeta a olhar a Natureza com o coração e a sentir o vento e a saber que as árvores serão barcos um dia qualquer...
    Um belíssimo, poema, amigo Agostinho.
    Um beijo.

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  9. Belíssimo poema que só um olhar de poeta amante da Natureza consegue captar!
    Bjs

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  10. Ao completar 10 anos de blog
    não poderia deixar de agradecer pelo seu carinho amizade,
    e companheirismo.
    Uma década se passou quantas coisas aconteceram,
    quantos momentos vividos de pura emoção.
    O meu muito obrigada por fazer
    parte dessa década vivida ...
    Foram dias e horas dedicadas de coração,
    e alma que me permitiu viver e sonhar intensamente.
    Hoje gostaria de encontrar com todos
    amigos e amigas que por minha vida passaram
    e juntos cantar parabéns pelos 10 anos.
    Se eu pudesse abraçaria todos mesmo distante
    agradeceria a riqueza que ganhei de Deus.
    A amizade mais linda que já pude ter nessa minha existência.
    um feliz e abençoado final de semana.
    Evanir.

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  11. um poema em re-nascer em dia primeiro do ano.
    muito belo, como aliás tudo o que escreve.
    o meu dia primeiro do ano é sempre de saudade, o hajota sabe, pois comentou lá no meu espaço.
    e agradeço-lhe reconhecida a leitura que fez e o comentário, sempre tão generoso.
    obrigada.
    :)

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  12. OI AGOSTINHO!
    E ASSIM É, NUMA SUCESSÃO INTERMINÁVEL DE DIAS... ANOS...
    LINDO, AMIGO.
    ABRÇS
    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  13. ~ ~ Muito interessante e belo, o seu poema Agostinho. ~ ~

    ~ ~ ~ Abraço amigo com votos de um bom Domingo. ~ ~ ~
    .

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  14. Bom dia, Agostinho
    Óptima alegoria!
    Tal como o ano se esvai em fumo - o fumo do fogo de artifício - também o homem se esvai nas brumas do rio onde o barqueiro o espera.
    Gostei imenso.
    FELIZ 2015
    Beijinhos
    MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

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