quinta-feira, 26 de abril de 2018

A floração que me abriu

"E esta noite, conforme tantas vezes desde há quarenta  e três anos, tornei a sonhar com África, não ataques que começavam sempre pela metralhadora a que os soldados chamavam costureirinha a cantar junto à pista, ou seja nos cem metros de terra batida onde o aviãozinho pulava, nem emboscadas nem minas, apenas eu sozinho junto ao arame farpado a pensar em Lisboa, a ver o rio, os barcos, as casas" ...

António Lobo Antunes, Até Que As Pedras Se Tornem Mais Leves Que A Água




nadir afonso




no instinto lera em fogos ateados
por aqui e por ali a paixão
mas não amadurara ainda o tempo
a floração sabida na intuição

vi-me virgem ainda de flor   
na mão liberta da adolescência
que viera de muito longe até mim
que era a subversão e o poder do amor

vieram dias de loucura e medo
de criança verde e botas calçadas
onde me vi paradoxo de homem
articulado de incredulidade

corriam dias de loucura e medo e
no espanto arregalado de meus olhos
chegaram esp’rança e fraternidade
palavras novas prenhes que ouvira

liberdade num povo da canção
que inda ouço mas não vejo a cada Abril


hajota

26 comentários:

  1. Cravo mais um cravo vermelho neste chão

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  2. Há sempre dias de loucura e medo... mas também de esperança...
    Beijos e abraços~
    Marta

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  3. Não bastam os cravos na lapela, mas a revolução está feita. É renovar-se, fazer-se, criar-se. Assim não se perde a obra constituída!
    Um forte abraço, meu amigo Agostinho!

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  4. "Vieram dias de loucura e medo" - foi mesmo isso. Mas foi tão deliciosamente bom!...

    Lindo poema de Abril. Obrigada.

    Beijinho

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  5. Um dos mais belos poemas de Abril que li, Agostinho.
    Aquele abraço, bfds

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  6. A cada Abril reinventamos o sonho em que acreditamos para que não morra nunca...
    Um magnífico poema cheio de memória e lucidez.
    Um beijo, meu Amigo Agostinho.

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  7. é preciso inventar a esperança
    no aroma de um cravo

    gostei muito....

    bom fim de semana.

    bejinhos

    :)

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  8. "liberdade num povo da canção
    que inda ouço mas não vejo a cada Abril..."

    permanece viva a Surpresa.
    e a Esperança e a Fraternidade a luzir como Horizonte

    muito belo teu Poema, caro Agostinho
    forte abraço

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  9. Belo hino à pureza dos ideais de Abril.
    Resta-nos a Liberdade, e não é pouco!
    "... canção que inda ouço mas não vejo a cada Abril"

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  10. Gostei muito do seu poema Agostinho.
    Continuação de melhoras.
    Abraço amigo.
    ~~~

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  11. Pelo sonho é que vamos. (Mas não basta...)
    E a esperança é a última a morrer!
    Belísimo, Agostinho!

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  12. É, vinte e cinco de abril e o cravo vermelho marcaram Portugal. Belíssimo poema, Agostinho! Parabéns! Grande abraço. Laerte.

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  13. Belíssimo poema!
    Sim, viveram-se dias de muito medo e de total loucura. Que eu, por motivos particulares (familiares - meu marido era oficial do exército) vivi intensamente.
    Mas... valeu a pena!
    Os valores à data defendidos talvez necessitem de uma "abanadela"... Mas isso "são outros carnavais".

    PS - Muito bom te ver (em duplicado...) no meu canto. Obrigada!

    Bom Fim-de-semana
    Beijinhos
    MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

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  14. Este comentário foi removido pelo autor.

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  15. Um beijo, e não um vejo...desculpe Agostinho. Haja sol.

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  16. Quanto não custou a liberdade. Um poema muito belo que retrata na perfeição a coragem que substituiu o medo, pelo sonho de uma nação livre. Haja sol. Um beijo.

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  17. Tão bonito este artigo incluindo a poesia =)

    Bjinhos

    https://olharesedeslumbres.blogspot.pt/

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  18. Um hino a Abril sem abril...
    Lindo!
    beijinho

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  19. Bem... de Abril... ficou a semente... caberá a todos, fazer a sua parte... e zelar pela manutenção, deste jardim de liberdade...
    A liberdade... nunca é um direito adquirido... mas um processo, em constante desenvolvimento... precisamos de saber cuidar do que é nosso... e se calhar... temos vindo a crescer... nessa consciencialização... pode-nos faltar a esperança e a fraternidade, ainda hoje... mas Abril deixou-nos o sonho... agora há que acordar... e começar a pôr o sonho em acção...
    Antes de Abril... nem o sonho haveria... apenas a previsibilidade de tudo se manter sem contestação... só o facto de podermos pensar alto... e expormos abertamente as nossas ideias... já foi uma conquista de Abril...
    Adorei respirar Abril, por aqui... sempre bom respirar liberdade... também de pensamentos... antes de Abril... pensar... era um acto de coragem... pelo qual se pagava um preço demasiado alto...
    Um belíssimo hino, Agostinho!
    Beijinhos! Feliz semana!
    Ana

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  20. Excelente poema de Abril.
    Parabéns pela inspiração poética das tuas palavras.
    Continuação de boa semana, caro Agostinho.
    Abraço.

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  21. MS valeu a pena todas as semente na poeira do medo .
    A floração , essa, será sempre mais espantosamente colorida com o corromper das pedras nos passos de cada manhã
    Que belo , Agostinho !
    Beijinho !

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  22. Há as referências, é bom que as haja, mas a vida ensina-nos que, se não plantarmos, não há flores que resistam para enfeitar a nossa satisfação. E ficamos sujeitos ao pão que o diabo amassou.
    É bom ler-te, meu amigo, é bom ler alguém que se questiona, que se preocupa.

    Grande abraço

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  23. Passando, apenas para deixar um beijinho, e os meus votos de uma excelente semana!...
    Ana

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  24. Oi Agostinho, passei o 25 de abril em Lisboa Um feriado sem cravos(floresceram? ou minguaram?),turistas visitando pontos estratégicos, tantos que aborreciam rs
    Em mim pulsava uma liberdade_ que lindo'vasto mundo' Que linda Lisboa!
    e que bom saber e ter amigos com uma verve poética especial. Obrigada muito obrigada .

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