quinta-feira, 16 de maio de 2019

Humano Ofício VI

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Álvaro de Campos, 
estrofe de abertura de Tabacaria

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

oooooOOOooooo


(imagem minha)

oooooOOOooooo

Imprevisto chega o dia
Vê-se vazio
na pedra do cais sentado
Em terra corre o quente
sangue que doou
O vermelhão nunca lhe faltou
mas sabe o seu destino

Sente o peito cheio de sal
Esquadrinha no horizonte o barco
que o há-de levar
toca-o a melancolia de fim de dia
e a saudade do futuro:
da lâmina de gelo
que cairá da sombra em si

No zénite a luz reduz
a sombra
que cresce até ao fim:
inteira engole a luz
Si compleatur officium
(cumprido é o ofício)


hajota

33 comentários:

  1. Eis um Ofício muito bem cumprido,
    bem ilustrado,
    sublimemente,
    sem imprevisões,
    e com total beleza
    bem elaborado.

    À parte os sonhos de Álvaro de Campos
    tenho Pessoa e o Agostinho
    do lado esquerdo do meu peito.

    Um beijinho, Poeta e Amigo.

    ResponderEliminar
  2. Adorei este pensar na vida... com sabor a sal... cheiro de maresia... e com o sentir de uma vida... bem vivida, mas também sofrida...
    E é sempre um prazer... descobrir os talentos fotográficos do Agostinho!... Este caminho de pedra... está muito bem visto!...
    Imagem e palavras, num complemento perfeito! Gostei imenso...
    Pessoa... dispensa palavras... para mim, ele é... a Palavra...
    Beijinho! Continuação de uma feliz semana!
    Ana

    ResponderEliminar
  3. O dia é sempre um imprevisto e tal como diz Álvaro de Campos, que haja sonhos...
    Beijos e abraços
    Marta

    ResponderEliminar
  4. Carpe Die, tempus fugit, Agostinho.
    Aquele abraço, bom fim-de-semana

    ResponderEliminar
  5. No cais das chegadas e partidas fica-se com "o peito cheio de sal" e olhar olha a luz até ao acabamento do olhar… Muito belo, este seu poema, meu Amigo Agostinho. Gosto muito da imagem e, claro, da estrofe magnífica da "Tabacaria".
    Um beijo.

    ResponderEliminar
  6. Cumprido o comprido ofício,
    Todos os sonhos do mundo
    Não cumpridos, têm no fundo
    Origem em vão sacrifício

    Do plano que em estrupício
    Gorou, não sendo fecundo
    Por origem no segundo
    Da fecundação - no início!

    Sonhos são sonho e assim
    São quimeras que no fim
    Redunda em um plano falho.

    Ter sonhos não é ruim
    O ruim é ter sonho afim
    A um plano como trabalho.

    Bela imagem clicada pelo amigo e belíssimo poema, Agostinho! Parabéns! Grande abraço! Laerte.

    ResponderEliminar
  7. Alma de artista. Talento de artista!
    Este é dos tais para encaixilhar.
    Sintetizas magistralmente, Poeta!

    ResponderEliminar
  8. um poema cheio de sal e ofício cumprido
    em completa sintonia com a foto do Poeta que já por si é um autentico poema
    Gostei muito.
    Uma boa semana
    e um beijo amigo
    :)

    ResponderEliminar
  9. Muito belo este imprevisto dia.
    Abraço

    ResponderEliminar
  10. ... e no entanto quiseram convencer-nos que seríamos como deuses (Eristis sicut dii)
    e acreditamos!... e pagamos no caminho das pedras!

    excelente, amigo Agostinho

    grande abraço

    ResponderEliminar
  11. Também para a Europa
    há um caminho de pedras
    que vale a pena
    Excelente o seu poema
    Abraço

    ResponderEliminar
  12. Um poema excepcionalmente BOM, Agostinho.
    Este sabor a sal delicia-me...

    Feliz a alusão à Tabacaria...

    Continuação de boa semana.
    Beijinhos
    MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

    ResponderEliminar
  13. Uma publicação que
    me enche de calma e
    reflexão.
    Bjins
    CatiahoAlc.

    ResponderEliminar
  14. Amigo Agostinho, maravilhoso como sempre, com sabor a sal e a nostalgia. A imagem é fantástica. Bom fim de semana Beijinhos

    ResponderEliminar
  15. Olá, Agostinho, vontade dá de sentar numa pedra, olhar além do horizonte e pensar na vida, no futuro, caminhar pensando e com os pés na areia, sós, apenas com a paisagem como companhia. Acho que isso tudo é paz.
    Belo poema, dá asas à imaginação!
    Quanto ao poema de Álvaro de Campos, li tanto esse poema que acho que faço parte dele. Tem uma tristeza infinita e que comove!
    Beijo.

    ResponderEliminar
  16. Oi Agostinho
    Depois de uma pausa meio grandinha,cá estou a falar com meus amigos portugueses.
    E digo-te que 'o mundo não é grande'_ a um clic,em frente a um teclado, estou contigo!
    e,com tua presença marcante , tua escrita fina , tua visão do 'mundo grande'.
    E gosto muito do que sinto! e fico a 'esquadrinhar'o horizonte contigo nesse Atlântico imenso que nos separa.
    Meu abraço meu afeto e meu obrigada pela presença,sempre querida.

    ResponderEliminar
  17. Belíssima imagem e poesia!
    Há sempre um imprevisto que nos espreita.
    Beijinhos.

    ResponderEliminar
  18. Simplesmente maravilhoso! Te vi lá na Lis e vim te ver! abraços,chica

    ResponderEliminar
  19. E porque já estou de volta... do "meu" mar, onde estive uns dias... vim matar saudades dele, continuando a respirar a maresia daqui... que nos inspira... a prosseguir o nosso ofício... com a mesma cadência e constância que o oceano nos inspira...
    Beijinhos! Feliz semana, Agostinho!
    Ana

    ResponderEliminar
  20. Oi Agostinho querido


    Poema lindo e imagem belíssima.


    Beijos
    Ani

    ResponderEliminar
  21. A foto é magnífica.
    E o poema é excelente.
    Gostei imenso das duas manifestações de arte.
    Caro Agostinho, continuação de boa semana.
    Abraço.

    ResponderEliminar
  22. Um peito cheio de sal emocionado com a melancolia do fim do dia
    e a saudade do futuro...
    A hora em se sente que o ofício cumpre-se pode apanhar- nos assim:
    vazios, num cais de pedra sentados... Principalmente e se paaou a
    vida no mar...
    Muito belo, estimado Amigo, muito belo.
    É um gosto voltar a lê-lo.
    Tudo de bom para si e sua família.
    Dias plácidos e agradáveis.
    O meu abraço cordial.
    ~~~~~

    ResponderEliminar
  23. Metáforas de vidas: as vividas e as por viver.

    Um abraço

    ResponderEliminar
  24. Passei para ver novidades e agradecer o carinho no meu blogue.
    Lamento não encontrar um poema novo: não gosto de o sentir
    assim, como se aguardasse o fim.
    Venham dias inspirados para deleite dos seus leitores.
    Amigo, o meu abraço carinhoso.
    Tudo bom.
    ~~~

    ResponderEliminar
  25. Tudo bem por aí, Poeta?
    Desejo que a saúde vá boa!

    Beijinhos e bom fim-de-semana, Amigo Agostinho.

    ResponderEliminar
  26. A efemeridade é uma condição e por isso temos de ter sonhos, muitos, e cumprir os possíveis, para bem cumprirmos o ofício...
    Adorei o poema e a foto é sublime!
    Beijinho grande

    ResponderEliminar
  27. Um excelente poema.
    Parabéns pelo talento e pela inspiração.
    Caro Agostinho, uma boa semana.
    Abraço.

    ResponderEliminar
  28. sem querer comentar
    - porque perturbador nas
    sombras, e na luz vencida -,
    fica-me a pedra, solitária,
    na sabedoria do tempo.
    e a verdade na saudade,
    já, do presente atrás.
    que o Poeta seja, e o ofício,
    no mínimo, tenha luar.
    Um grande abraço, Agostinho.

    [Nova tentativa de publicar]

    ResponderEliminar