quinta-feira, 16 de abril de 2020

Entre margens nado


imagem colhida na web





Dum "Mundo do Fim do Mundo"
Luís Sepúlveda 
- RIP








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Foto minha


Na pedreira das encruzilhadas
ainda há almas grandes mas
eu rio rio da força das águas
que me percorrem e afundam

Num limbo suspenso de resgate
entre margens nado e alguém
carrega às costas esforçadas
os blocos de Sísifo
- a fome e a sede do Mundo 
Há contudo um manto de neblina húmida
e fria a embotar-me a clarividência das ideias
Tão difícil é discernir no crivo
a Verdade destes dias de chumbo
de densidade dobrada

Tão pesados são e tão
nítida a volatilidade do tempo

hajota

27 comentários:

  1. Intensos teus versos, Agostinho! Linda poesia! abraços, chica

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  2. Alma grande é a do Poeta!

    (muito lindo. muito angustiante. muito angustiado...)

    Beijinho.

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  3. Sim, estamos vivendo um pesadelo, angústia, insegurança...nossas almas estão no pior dos inverno, pois muito pouco sabemos. Torço para que venha logo uma primavera florida e que traga um renascimento, uma paz para o mundo. Éramos felizes.
    beijo, belíssimo poema.

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  4. Dias de chumbo que vivemos na penumbra,
    no medo de ver luz
    de sentir o calor do sol
    acariciando-nos a pele.


    Medo, solidão, incerteza.

    E neste confinar de mágoas
    vamos fenecendo.


    Grande Poeta Agostinho.
    Um grande abraço!

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  5. Há, haverá sempre a dor.... mas viverá sempre na memória... e o Mundo renascerá como a Fénix e voltará a ler " romances de amor"...
    Lindo...
    Beijos e abraços
    Marta

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  6. Nadar entre margens. Carregar aos ombros o pedregulho de Sísifo, como se fosse a fome e a sede do mundo. Nestes dias chumbo sabemos quanto somos frágeis e fortes, inseguros e determinados…
    Um poema muito expressivo, meu querido Amigo Agostinho.
    Também senti muito a morte de Luís Sepúlveda. Guardo no coração as palavras que ele escreveu e que pude ler.
    Um beijo.

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  7. hajota

    uma homenagem com um poema denso dorido e verdadeiro
    dias de chumbo de medo e dor
    incerteza do que virá
    e uma esperança cada vez menor

    um poema brilhante e duro mas relista

    um bom final de semana

    beijinhos

    :(

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  8. Nem os poetas se salvam da angústia. Sobretudo quando os dias são de densidade dobrada! Mas eles têm também a capacidade de ver a luz ao longe... Bela homenagem a Sepúlveda, exímio na arte de induzir sonhos!

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  9. poema lapidar, caro Agostinho
    os dois últimos versos "marcam"
    e ficam a tilintar como cristal fino

    abraço

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  10. Mas as palavras, firmes como rochas que não murcham nem sob a água e nem sem a água, permanecerão. Um abraço.

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  11. As cinco últimas linhas, em especial... traduzem na perfeição, o espírito destes dias pesados... em que, no meu sentir, quando páro mais um pouco... só me dá para um dormir nervoso, feito de cansaço, stress... e em modo de alheamento automático!... Tinha planos para esta quarentena... de descansar... ler... ver filmes... qual quê?... Quem consegue?... Eu não!...
    Sempre em modo alerta, todo o dia!... Entre o limpa aqui, e esfrega acoli... compensados com um espirro ou uma tosse, ocasional, da senhora dona mãe... que até se me faz dar quase uma coisinha má... mais depressa a mim, do que a ela!... :-))
    Enfim!... Inquietações do presente... de quem a falta de oxigenação em condições, sem ser com máscara a tapar o nariz, ao ar livre... até se me fazem da cabecita, andar a bater mal...
    Sepúlveda... que parece ter despertado a emergência do nosso estado... e Estado... que praticamente logo a seguir ao encontro literário, da Póvoa do Varzim... assim o declarou... e uma das muitas vitimas, desta bichice implacável, que nos tornou a todos, os potenciais piores inimigos, dos que nos estão nas imediações... mais chegados, ou mais desconhecidos...
    Gostei imenso, deste poético, e realístico sentir... com que me identifico... em que à margem dos dias... nadamos... sentindo que a qualquer momento, nos afundamos...
    Mas... onde será que fica o botão do OFF, deste nosso filme, autobiográfico, de constante suspense? Queria fazer um REWIND para aí, há uns 3 meses atrás... vá lá, há 6... porque a partir daí, certamente, já a bichanice, teria sido inventada/criada/nascida... mas mal aparecida e parida... foi com toda a certeza... esta filha duma micose, nascida debaixo da asa de um qualquer surrento e sarnento morcego!...
    Enfim!... Bora lá ir navegando à vista... dia a dia... na expectativa de que o barco, onde todos estamos, não encalhe, não seja o Titanic, mas antes seja o Seixalense, ou o Sintrense, ou outro cacilheiro que nos valha... e que garantidamente nos leve a outra margem, um bocadito ali... mais à frente... e sem meter muita água!...
    Beijinhos! Feliz domingo!
    Ana

    A foto... está muita boa!!! A diagonal escolhida... mesmo feita a régua e esquadro!... Acho que anda por aqui, um belo dum fotógrafo, muito bem disfarçado... nem que seja em modo de pijama!... :-))

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  12. Confesso que hoje, verdadeiramente, sinto o peso da clausura - é o primeiro aniversário da minha filha (desde que ela nasceu) que passo longe dela, que não lhe posso dar aquele abraço apertado...
    Os outros dias passam-se. A vida passa...
    Luís Sepúlveda também passou para outra dimensão, deixando um vazio difícil de preencher. Ainda bem que o recordou aqui.
    O poema é de excelência!

    Bom Fim-de-semana
    Beijinhos
    MARIAZITA / A CASA DA MARIQUINHAS

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  13. "ainda há almas grandes"

    Deixo um abraço

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  14. E a margem comprimindo cada dia mais por aqui Agostinho
    Um 'salve-se quem puder', diante da insensatez política que os brasileiros desgovernados se juntam aos ignorantes e veem os dias passando e afunilando, sem solução a curto prazo.Pobre País tropical, meu amigo. O que alimenta é exatamente a overdose de sol que temos e acordamos com o brilho nas janelas.
    Como seu poema entendo que sim _é muito 'dificil discernir'... :((
    abraços e abraços (sempre assim, intocáveis) rs

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  15. Uma bela homenagem a um escritor que admiro.
    E que ficará na nossa memória por muito tempo.
    O poema é excelente, parabéns pelo talento que as suas palavras revelam.
    caro Agostinho, continuação de boa semana.
    Abraço.

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  16. Este poeta também é um Sísifo vergado à força de tudo o que é inevitável e mais poderoso que ele próprio, mas consegue renascer e salvar-se pela força das palavras que o trazem até à margem...belíssimo e mais diria...
    beijinho amigo

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  17. Que lindo poema, que escritor perdeu-se!

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  18. Passando a fim de desejar que tenha um dia abençoado e elogiar este poema lindissimo que nos oferece
    Para quando nova publicação?

    Cumprimentos poéticos

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  19. A neblina húmida acabará por ser afastada.

    Grande perda a morte de Luis Sepúlveda.

    Saúde e muitas saudades

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  20. Agostinho,
    Até os deuses ficariam surpreendidos com estes "dias de chumbo de densidade dobrada". Nem sei que te diga, amigo, apenas que entendo muito bem o aparente avariar da bússola.

    Grande abraço

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  21. Embora os dias se vão clareando, o cinza dos dias renascem mesmo em dias de sol. É que não basta a Natureza dar um sorriso sempre com o seu encanto nas margens do dia ou da noite . Há um bater de asas que nos surripia o sossego da alma . O grande Luís Sepulveda deixou- nos a marca de um tempo que o levou sem ser o tempo certo. Perda e saudade .
    Beijinho, Agostinho

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  22. Continuará por certo, um gato, teimosamente, a ensinar uma gaivota a voar

    ou um gato a voar, quem sabe...

    um abraço, Agostinho.

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  23. Vim ler um pouco aqui
    e agradecer sua presença
    no Espelhando.
    Gosto de passear
    por entre suas palavras.
    Bjins
    CatiahoAlc.

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  24. Um belo poema!
    Ainda estávamos apenas no início... e a neblina se adensou, e a força das águas quer submergir-nos. Vamos nós mantendo-nos à tona, sempre!

    Beijos.

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