"Aproxima-te, não regresses à treva,
os pêssegos já estão maduros,
podemos apanhar uma abada e
escondermo-nos no celeiro
a comê-los,
ou ao fundo do pátio
ou ao fundo do pátio
sobre a palha."
- Eugénio de Andrade, Vertentes do Olhar, Melusina
- 2.ª ed Nov1987, pag 63 - Editora Limiar
Edvard Munch_kiss by the window |
Como hão-de os poetas
deambular nas veredas da noite
se cerrados em altos muros?
Como hão-de fornecer-se de folhas
para a escrita eterna
se nem uma árvore de jeito têm?
O disparate dos ciprestes!
guardiões esquálidos perfilados
em apneia permanente e subtil imobilidade
a compasso plantados
numa intimidade que conspurca
a alvura dos muros caiados
De esplendorosas folhas
plátanos é que ficavam bem
Sem penugem na primavera
não vá algum poeta de lírica feição
na penumbra da noite espirrar
desencadear tempestade infernal
os estorninhos todos
a desarvorar
eles que nem dão para grelhar
Toda a gente já viu o desatino
que os bandos podem causar
O Saramago viu-se grego
na Jangada para os aquietar
Um desígnio nobre de campanha:
plátanos para poiso de poetas:
os vivos às horas de calor e à noite
distribuídos pelos galhos mais altos
os passados à horizontal posição
os da outra dimensão
Parece-me uma boa proposição
já para a próxima eleição
Além do mais um plátano
é um calendário no estado puro:
anuncia as estações pelas cores
Melhor que o dos pneus michelin
hajota
Gosto do seu humor e eu também escolheria os plátanos com poetas distribuídos pelos galhos.:)
ResponderEliminarBoa semana.
Belíssimo poema!Parabéns .Abraço.
ResponderEliminarPoeta,
ResponderEliminargosto de versos seta
de árvores
de estorninhos
e rimas, mas
há um engano teu
maior que o meu
nem "Toda a gente já viu o desatino
que os bandos podem causar"
Fina ironia em verso.
ResponderEliminarAquele abraço, boa semana
Que poema, amigo Agostinho, com humor, verdade e ironia misturados naquilo que podia ser um excelente "programa eleitoral" pois pelo menos lembrava-se dos poetas...
ResponderEliminarEu gosto de plátanos. Tenho um poema que começa assim: Voltaremos a um jardim de plátanos com o luar engatilhado nos olhos...
Um beijo.
Como bem diz o Eugênio de Andrade, que não se regresse às trevas....Ás vezes, temos essa sensação...Que estamos mergulhados nas trevas...
ResponderEliminarUm poema brilhante....
Beijos e abraços
Marta
Plátanos? porque sim
ResponderEliminarmas agora delicio-me nas buganvílias
Abraço
Buganvíleas
ResponderEliminarMuito interessante.
ResponderEliminarGosto de ciprestes, são esguios e erguidos contra o céu. Parabéns.
Boa noite. :))
Um poema pertinente e surpreendente.
ResponderEliminarBastante viável.
Beijinhos
Passeei tanto à sombra dos plátanos!
ResponderEliminarLindo, Agostinho!
Beijos. :)
Gosto de plátanos mas agora é época de jacarandás...
ResponderEliminarBjs
Boa tarde, lindo poema que absorve atenção, será que vivemos permanentemente nas trevas?
ResponderEliminarAG
Proposição=oração, gramaticalmente falando?
ResponderEliminarHá poetas que escrevem em qualquer lugar, em qualquer coisa e sobre qualquer assunto. É o caso.
Erudito e "sarcástico" poema, que espera um plátano diferente, talvez um salvador com um bocadinho de cor, assim cor de café com leite. Eu prefiro os plátanos altos, magros, claros e de "olhos" verdes.
Beijo.
Bom dia
ResponderEliminarNão venho julgar o seu poema, nem a sua forma pessoal de os fazer.
Só sei dizer-lhe que gostei e que também assim eu gostaria de escrever.
Bonitos os pensamentos desenhados em forma de palavras amadurecidas
Belas as sombras das árvores que pela idade ficaram engrandecidas.
só um poeta para desinquietar os pneus Michelin
ResponderEliminarum abraço
Muita originalidade! Porque não uma certa excentricidade...
ResponderEliminarE erudição, pois!
~ Tal como a Ana, gosto de ciprestes. altivos, elegantes e místicos tornam
ResponderEliminarbelíssimas as paisagens da Toscana.
~ Porém,
o hino ao plátano está impecável, com um interessante sentido de humor...
~~~~~~~~ Abraço amigo, desejando dias felizes e inspirados. ~~~~~~~~
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Gostei muito!
ResponderEliminarAbraço
Poesia séria com um toque de nonsense?... Mas fica bem!
ResponderEliminar(Entretanto, adoro plátanos...)
Bom dia, votos para que tenha uma excelente semana.
ResponderEliminarAG
os poetas vivem em completo desassossego, por isso, eles conseguem voar mesmo nas veredas da noite e mesmo prisioneiros em muros, soltarão sempre os seus gritos transformados em palavras.
ResponderEliminarrealidade, ironia e um humor q.b. baste neste seu poema.
gostei como sempre!
beijo
:)
PS: já tinha comentado este poema, não sei porque não ficou o comentário....:(
De facto tenho ideia de ter lido o comentário que refere. Fui ver ao lixo não o encontrei. O que aconteceu não sei. As minhas desculpas.
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