sábado, 5 de março de 2016

Na mão de Laura


...
(Eu ando sozinha,
ao longo da noite.
Mas a estrela é minha.)

Cecília Meireles, do poema Canção da tarde no campo


 Tela de David Hockney



A minha mão na tua 
alegria 
canina pela rua
freneticamente a puxar e eu via-
-te esfregar o focinho 
na aventura
a descoberta dum ninho
duma lura
das coisas que há
nos campos 
- cores cheiros bichos

E as perguntas verdes 
tantas e outras tantas 
a bordarem
a tua boca de mil flores?
A surpresa!

das respostas de sombra e sol
no húmus na pedra
consoante
o rodar do girassol
- os teus cabelos -
na areia na água adiante

e os teus olhos
que correm mais 
que as pernas minhas
a alumiar os caminhos
para onde vais
amanhã
a tua mão na minha

hajota

26 comentários:

  1. O girassol a seguir o Sol... a vida que se desenrola...num simples passeio...
    Lindo...
    Beijos e abraços
    Marta

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  2. ... amor canino?! Sem conotação negativa, que está lindo de mais!!

    Beijinhos poéticos.

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  3. ~~~

    ~ Um passeio lírico, numa natureza idílica...
    ~~ Um poema que anuncia a primavera.

    Todavia, encontro-lhe duas metáforas estranhas
    que 'arranham' a minha sensibilidade romanesca.
    ~ Adoraria saber o que pensa Laura sobre elas...

    ~~~~~ Dias muito agradáveis e felizes.

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  4. Não conhecia esta obra bem interessante de Hockney.
    E também me despertou o poema do hajota.

    Um abraço e bom Domingo.

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  5. Laura. As mãos de Laura. Pequenas, não? A caberem inteiras em tuas mãos. O olhar de Laura. A indicar o sentido da luz. A procurar as coisas mais simples da vida.
    Maravilhoso, Agostinho!
    Um beijo.

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  6. OI AGOSTINHO!
    LINDO DEMAIS.
    ABRÇS

    http://zilanicelia.blogspot.com.br/

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  7. Seja bem regressado, Agostinho.
    Com um post muito bonito e com o nome da minha sogra.
    Aquele abraço, boa semana

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  8. Que bonita tela e bem ilustrada pelo poema :)
    beijinho

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  9. Nota sobre a expressão/metáfora "alegria canina"

    Há alegria mais canina
    do que a de uma criança
    na primeira descoberta
    do mundo? Na aventura
    de alma inocente e pura
    tudo é dela em redor tudo
    é quanto a vista alcança

    De felicidade na mão
    de verdade sou o sortudo

    Grato pelos comentários recebidos
    hajota

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    Respostas
    1. Bela metáfora a da alegria canina e muito bem comparada a alegria de uma criança. Há pureza, verdade, faz mexer os nossos sentidos. Faz contagiar ou abrir um sorriso.

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  10. Li e reli este poema. Tem traços e laços que se apertam como as mãos.
    A felicidade virá com a Primavera, os sorrisos, olhares, esperanças e talvez esse mundo que queremos segurar dentro do coração.

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  11. Mãos nas mãos

    uma bela transfusão de sonhos

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  12. a mão canina, noutra mão (esta grande).
    a inocencia nos olhos de Laura, mais rápidos que os passos.
    e a ternura da mão canina na outra mão que a segura.
    ternura a jorros neste belíssimo poema.
    e Laura um dia irá ler e agradecer com muito orgulho este poema.
    comovida estou...
    :)

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  13. Um poema de uma ternura muito criativa na expressão...rss
    A menina Laura, de olhos infinitos de poesia e curiosidade
    sobre a vida, construindo as suas páginas de encanto,
    acompanhada pela mão da Poesia, um Poeta sempre
    leva a Poesia para os dias!...

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  14. Olá Agostinho!

    Poema lindo, a assinalar um regresso que se aguardava.
    Mas...
    ... Entendo a tua explicação para a "alegria canina".
    No entanto, não acho a expressão nem bonita, nem poética. Tal como "esfregar o focinho".
    Talvez passassem se não se tratasse de metáforas e o "homenageado" fosse mesmo um cão e não a pequenina e doce Laura.

    Desculpar-me-ás...

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  15. Nada é mais inocente, puro e grandioso, do que uma alegria canina... a alegria primordial... que as pessoas levam uma vida inteira para perder, enquanto crescem... vivem... envelhecem... esmorecem... esquecem... de como se deve sentir a verdadeira alegria... e que sempre recuperam um pouco... quando seguram a mão de uma criança...
    Lindíssimo poema!... Escrito por quem tem uma mão grande... e uma alma grande...
    Beijinho! Continuação de uma boa semana!
    Ana

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  16. Sabe, amigo, à medida em que absorvia os teus versos ia-se formando na mente uma imagem doce, delicada, e tão bela! Tu, um cão a querer apressar-te os passos, focinhando tudo pelos cantos; Laura, mãozinha presa à tua, respirando e exalando alegria, olhos a olhar a vida com a avidez e a curiosidade que só os olhos inocentes conseguem imprimir, perguntas mil a enfeitar a caminhada, sem nem mesmo esperar pelas respostas como se adivinhasse que elas estariam à frente... E o avô ali, olhar de emoção, passos querendo também se apressar para acompanhá-la nestes primeiros passos tão importantes na vida! Carinho, amor, admiração, fidelidade... tudo a percorrer um caminho de sombra e sol onde um girassol se posta a enfeitar o quadro tão premente de luz que a natureza (não apenas a humana) está a tecer.
    Belos versos, intensa a imagem provocada, como bela também é a pintura que a tudo encima.
    Sabe, amigo, eu também ando sozinha ao longo da noite... Mas a estrela nunca é só minha, pois as transformo em dezenas, milhares, para deixar pelo menos um punhado aos amigos que visito. Como estou a fazer por aqui, acrescidas que estão de sorrisos e do meu carinho,
    Helena

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  17. Adorei este teu poema.
    Que é excelente.
    E a foto que o sublinha foi muito bem escolhida.
    Bom resto de semana, caro amigo Agostinho.
    Abraço.

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  18. Boa tarde, A beleza do poema cria em seu redor milhares de estrelas que ilumina a linda alegria canina com perguntas verdes.
    AG

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  19. Gostei muitissimo do poema e da citação e do quadro.

    Bom fim de semana

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  20. Eu, que passei da surpresa da sua presença à emoção que senti ao ouvir as palavras que lá disse e repete no meu "Ortografia" estou sem jeito... Não sei se agradeça se me comova. Mas digo-lhe que o que fez foi um belo poema que tomo para mim e guardo como uma sensível dedicatória.
    Um beijo, meu amigo Agostinho. Também gostei muito de o conhecer.

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  21. Ah, Agostinho, esse sentido poético é qualquer coisa...!
    Nessa alma, rica de mil experiências e sentires (deduzo), tudo continua a fervilhar, apesar do saber acumulado se esforce por relativizar.
    Que mais dizer? Gosto muito de o ler, isso é certo.

    Abraço

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  22. Olá amigo, obrigado pela sua visita. Admiro e muito, quem faz poesia em prosa. Dá a impressão, que as palavras são um mar a puxarem-se umas ás outras, num ondular sem fim. Nas minhas mãos tudo tem rima e não lhe consigo fugir. Amei demais esse passeio. A tela é linda assim como a estrela da Cecília Meireles. Beijos com carinho

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  23. Belíssima tela e colorido, incluindo o poema.
    Tenho gostado de navegar por aqui, gosto!
    Deixo um abraço.

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