terça-feira, 29 de abril de 2014

Memória de Cê




foto: gilberto jorge

Que certeza te invadiu
quando os pássaros vieram
desafiar-te com vil pio,
que certeza te trouxeram?

Que sublime liberdade
viste tu naquela aurora.
que crua e fria verdade
decidiu tão precoce hora?

Que coragem de guerreiro
achaste tu na manhã calma
partir para duelo derradeiro,
que raio te abrasou a alma?

Que certeza te fez acreditar
que dum único estampido
um fio vermelho a brotar
vencesse o intruso temido?

Que num premir de gatilho
fosse para sempre o temor,
no túnel da morte o brilho
revelasse vencido o tumor?




hajota

segunda-feira, 28 de abril de 2014

A eclíptica queda

foto: gilberto jorge


A eclíptica queda chama à urgência dos dias
poemas, histórias, sonhos,  arcos-íris cores
perdidos na imensidão de areias primícias
semeadas de cinzas, descuidos e amores.

Algarismos redondos, barrigas dobradas,
dispostos na ordem inexorável do abismo
um seis-nada no arábico simbolismo,
nada o vácuo das fortunas deixadas.

O horizonte de neblina coberto
paira incerto.
O sopro
em câmara lenta,
na via de único sentido,
desafia as escarpas.
A dúvida em sístoles
espasmos e dores
traz as tempestades
do solstícico trilho dos sessenta:
o sopro caminha para o fim.


hajota

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Houve festa, pá

 
Hoje houve cravos vermelhos
a descer o céu da cidade
e um sonho a marejar olhos de felicidade.
O Zeca veio cantar a fraternidade
para que a esperança não esmoreça.
E o Salgueiro Maia, tal e qual,
ou seja, jovem, generoso, puro,
veio com força derrubar o muro,
caminhava pela praça a abrir
o caminho do futuro.

Sempre quero ver se o Chico recebe
algum cheirinho de alecrim


hajota

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Cravos em Abril

foto: sérgio guimarães





No tempo do esplendor
tantas flores mais de mil
brotaram num clamor
pelas ruas da cidade
os cravos em Abril
deram asas a sonhos
de liberdade.






hajota

Fado


Regalo nos tempos do princípio
era o pasmo nas linhas e no giz
horas dias sem fim hipnotizado
seguindo caminhos ingénuo feliz

Em maratonas milhas, no início
tralha, cozeu os pontos e nós que quis
confiante luta por si já soldado
arma na mão senhor do seu nariz

Juntou ilusões amarradas num fio,
para não as perder, desde petiz,
tem o destino mais do que traçado
dar sangue aos abutres, disse o juíz

hajota


pedacinhosdemimparati.blogspot.pt/




terça-feira, 22 de abril de 2014

Qual chuva?

fonte: Wikipédia



A gente na esperança verde
que o céu se abra e mate,
e mate a sede
à côr do monte que não espirra
à sementeira no campo perdida.
A gente aspirando o eflúvio
da natureza-pirra
salva num dilúvio
do sangue da vida.

O satélite no espaço vê
chuva na quinta, 
afiança a senhora da tv.

A gente num ardor de fé,
igreja cheia, um sufoco
de maresia de sal, um polé,
para remissão dos pecados
o padre, de gesto diácope,
asperge o hissope
em pingos benditos.

Qual chuva?
Uns borrifos!

hajota

segunda-feira, 21 de abril de 2014

João Engraxador

http://www.angonoticias.com/

O calção curto e roto
esconde mal a tristeza
e a brancura alinhada
do sorriso tímido de garoto
não apaga o pó da pobreza.
Gente foge-lhe apressada
se sopra um desafio à sorte:

“Me dá ma quinhenta pra comer
não tem pai não tem mãe
azar do meu tempo - ai ué,
a fome quando vem
me doi a bariga bué.
Te ponho sapato a brilhar
graxa senhor!”

De manhã quando acordar
mesmo antes d’ amanhecer
pega o livro do menino           
e vai descalço a correr
ganhar as força no ensino
e logo logo na cidade
'graxar funge pra comer.

2011
hajota