terça-feira, 2 de setembro de 2014

É nua que a gente se encontra

mulher nua numa poltrona vermelha - picasso
É nua que a gente se encontra!
deitar fora deitar fora deitar fora
até encontrar o eu que está fundo
até descobrir a verdade do mundo

A gente a despenhar-se no vácuo
acumulado de tempos e pessoas
a encontrar-se nas certezas e manias
na indelével erosão dos dias

Com anódinas camadas de tinta
sufoca  a frágil cor original
é deitar fora deitar fora deitar fora
até chegar ao miolo onde o eu mora

até à conjugação do verbo ser
no presente da própria pessoa
é deitar fora deitar fora o indigente
ontem competentemente displicente

Diluindo a dor da reflexa conjugação
do fazer na afirmação do presente
é que a gente há de articular o futuro mais
sem consoantes a ferir a pureza das vogais

hajota


9 comentários:

  1. Gostei muito deste poema!
    A pintura é linda e fica aqui bem.

    Boa noite:)

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  2. Muito poderoso e profundo, na mensagem...
    Gostei menos, literariamente, das duas últimas quadras. Perdeu-se um pouco o ritmo...

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  3. Para guardar, para guardar, para guardar.

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  4. pois é meu caro poeta.

    este nua está cheio de dualidade e no entanto tão lúcido que até arrepia.

    a tela do Picasso ficou muito bem.

    beijo

    :)

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  5. É nua que nos devemos ver...sem roupagens que nos distraem...
    Lindo... Obrigada pela visita
    Beijos e abraços
    Marta

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  6. Em que jogos nos enredamos até reconhecermos que o encontro do próprio eu é necessário? A nudez expõe a alma a todas as reflexões... Muito belo e profundo o poema, Agostinho.
    Um beijo.

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  7. Uma nudez necessária ao conhecimento e ao sentimento.

    beijinhos

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  8. O poema é lindíssimo.
    Dá vontade de o levar e ler, ler, e voltar a ler.
    Picasso soube tão bem reinventar a mulher.
    Bom dia!

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  9. Poema lindo com uma dualidade tão bem conseguida! Que vontade tenho de fazer uma canção com este poema. Posso?

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